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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Eu Gosto é do Estrago!


Programação de inauguração do mais novo clube rock de Goiânia, o Ziggy Box


Olá, tudo bem?


# Nesse meu intenso tédio horizontal, de fraturado e engessado, voltei a ter muito tempo ocioso (ainda que marcado por dores chatíssimas e pela quase impossibilidade de sair da cama), e sendo assim o carnaval do blogueiro aqui, que prometia ser recheado da variedade roqueira tupiniquim reunida em Cuiabá, cidade sede do Grito Rock Integrado, foi mesmo uma olimpíada de troca de canais da tevê, intermináveis sessões de cinema em casa e centenas de páginas repletas de letrinhas enfileiradas, que contam muitas estórias e que ajudam a passar o maldito tempo.

# # Nesse processo de convalescença, vários discos “esquecidos” (daqueles que adoramos, mas que com as toneladas de novidades interessantes que pululam na rede a cada segundinho vagabundo desses novos tempos, acabam deixados de lado até a próxima redescoberta) voltaram a girar felizes no player do amigo aqui. Me empolguei de novo com o ainda incrível Make Yourself, do Incubus, que vem pela primeira vez ao Brasil em maio, ao mesmo tempo em que recordei a beleza perfeita do Before These Crowded Streets, da grande Dave Matthews Band; relembrei satisfeito os grooves invertebrados e ácidos do jovem Jeff Beck de Blow by Blow, e dei uma boa saboreada nuns velhos e geniais vinis do Caetano Veloso (a versão desse baiano chato para Mora na Filosofia, do Monsueto, é mesmo de fazer chorar!). Ainda na estante dos vinis, esbarrei mais uma vez no Caça à Raposa, disco de 1975 do João Bosco e casa de muitos dos seus maiores hits como Mestre Sala dos Mares, De Frente pro Crime e Dois pra lá Dois Pra Cá, mas que valeria a pena só pela ribombante Nessa Data.

# # # Também passei em revista a modesta coleção de jazz, e quase decidi que A Love Supreme do Coltrane talvez seja a melhor trilha para o sexo (e para depois dele) que o gênero já produziu. Mas pertinho dele está lá o Time Out, do grande Dave Brubeck, que mistura fleuma e caos com uma habilidade tão grande que consegue causar sensações inacreditáveis (tenta aí na sua casa!).

# # # # Outro que deslizou bonito nas caixas de som em frente à cama do blogueiro, foi o superlativo e ultra-bombardeado Ventura, terceiro disco dos amados e odiados Los Hermanos. Há tempos que não ouvia as elaboradas lamúrias dos cariocas, tão bem acomodadas entre guitarras e suíngue sambista.

# # # # # Muito já se disse sobre o Los Hermanos. Teorias e mais teorias foram levantadas sobre o grupo que conseguiu o amor e, posteriormente à comoção popular pós Bloco do Eu Sozinho, o ódio de grande parte da crítica especializada, que parece ter dificuldades em associar qualidade estética à sucesso mercadológico. Deixando o contexto de lado, Ventura é o grande disco do quarteto, que alcança uma alquimia quase perfeita entre a doçura sutil do rock alternativo e a elegância da melhor tradição do samba canção, tudo costurado com letras muito acima da média do pop nacional. Se Samba a Dois, de Marcelo Camelo, abre o disco com ares de gafieira chique, logo Amarante toma a frente e joga toda a sua fossa bêbada e consternada por cima de tudo, com Último Romance e Do Sétimo Andar, pouco antes de O Velho e o Moço tranqüilizar a atmosfera e divagar emocionalmente sobre a vida e as decisões que ela implica, sempre naquele climão de quietude indie. Em Conversa de Botas Batidas, Camelo desenha, entre piano, guitarras e bateria onomatopéica, um belo drama urbano, protagonizado por um casal de velhinhos teimosos, dentro de um antigo apartamento prestes a ser demolido. Deixa o Verão, mistura country com chorinho e avalia:

Não to muito afim de novidade
Fila ou banco do bar
Considere toda a hostilidade
Que há da porta pra lá


Quase no fim, Um Par “reconstrói” o estória romântica da “delinqüência” juvenil de Meu Guri, do Chico Buarque, com guitarras distorcidas e timbres estranhos, criando o cenário caótico e coletivo das conturbadas relações entre pai e filho. Fim!



# # # # # # Tá bem, Ventura não é só isso, mas vamos combinar que é principalmente isso. Mas re-ouvindo o disco, me lembrei perfeitamente de como os fãs padrão do grupo são chatos, pedantes e xiitas (assim como os fãs do Iron Maiden e Manowar), além de pior vizinhança quando num show dos rapazes. Decididamente os hermanos não merecem os fãs que tem!


# E o vídeo-clipe de Straigth Lines, o primeiro single do esperadíssimo Young Modern, do amado Silverchair, já viu? Pois é, já há um tempo roletando pela rede, o clipe modernoso e classudo da ótima banda de Daniel Johns está também aí embaixo, pronto e receptivo ao vosso play. Descobre aí como Young Modern se parece... o blog aqui tem gostado bastante. Diz aí o que você acha.




# E Goiânia vai ganhar mais um palco para o rock. O João Lucas, alter-ego de Jonnhy Suxxx – líder dos Fucking Boys e membro da cúpula da Fósforo Records –, manda avisar que a Ziggy Box Club abre suas portas para o creme do circuito independente nacional a partir do dia 7 de março (numa festa só para convidados), com o sempre empolgante e incendiário show do MqN. A casa assegura que se esmerará na combinação explosiva dos melhores shows do país com o fino da discotecagem rock.

# # Acompanha aí a programação de inauguração: Dia oito de março o clube se apresenta ao público com Abluesados e discotecagem blues/ Já no dia nove, é a vez dos Rollin Chamas/ Dia dez a Valentina lança seu primeiro disco, ao lado do Mersault e a Máquina de Escrever, mais o DJ Buda-SW Projects 80’s e Pedrinho Bang Bang/ No dia 11 o punk n’ roll hypado do Rock Rocket promete lotar o lugar, que também abrigará shows das locais Obesos, Wc Masculino, Infalíveis e Royal Flush, mais os djs Luti e Totonho.

# # # A Ziggy Box fica ali na República do Líbano, acima da praça Tamandaré, ao lado do Piquiras (lá mesmo, onde um dia foi a Jump Alternative Club). Acho que a gente vai se encontrar bastante por lá, o que você acha?


# Voltando às Fora da Lei Sessions (que nada mais são do que sessões quase periódicas de filminhos rockers e/ou pequenos flagrantes de shows e da movimentação rock que acontece em Goiânia, sempre produzidos pelos amigos e parceiros da Fora da Lei – Rádio/Cinema/Tv), agora é a vez do rock oral. A fita escolhida foi Cenários do Rock, curta-metragem que documenta os debates ocorridos durante o último Bananada, onde personalidades do meio, como Fernando Rosa ( revista/agência online Senhor F), Terence Machado (programa Alto Falante - rede Minas/Tv Cultura), Fred 04 (Mundo Livre S/A), Sandro Belo (Allegro Discos), Fabrício, Nobre, Léo Bigode e Márcio Jr. (Monstro Discos), Pablo Kossa (Fósforo Records), Sílvio Pellacani (Tratore), Walter Resende (Loaded), Frank Jorge e uma pá de outros, discutem a viabilidade e operatividade do nosso rock independente. Assista e opine você também.




# Então é isso. Desculpa aí a demora das últimas atualizações, mas a perna aqui já tá colaborando e a cama já está sendo, gradualmente, deixada de lado. Pode deixar que os posts vão voltar a parecer com a periodicidade costumeira.


Falô procê.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

I keep walking in straight lines


Silverchair
Foto de divulgação



# Então, como você deve ter notado, o blogueiro não foi para Cuiabá acompanhar a maior das 20 edições do Grito Rock, já que quebrou a perna em dois lugares na última terça feira, e foi desaconselhado veementemente pelo doutor a encarar mais de dez horas numa van, rumo à Hell City. Puto com isso, saboreando a contragosto o pior dos tédios carnavalescos e devorando toneladas de filmes no dvd, o amigo aqui tem passado as horas como pode, sem muito movimento ou vida social (e existe vida social fora das festas nessa época?).

# No player Movie do blog nenhuma grande novidade (a locadora mais próxima já estava quase vazia quando me atentei para o fato de um carnaval sobre a cama e de pé pra cima), mas na manhã desse domingo que passou esbarrei na tevê com um filme fantástico, de um diretor extraordinário, lançado quatro anos atrás e que eu há algum tempo não via.

# # Trata-se do genial Separações, dirigido pelo não menos genial Domingos de Oliveira, que protagoniza a fita – ao lado de sua amada Glorinha (Prsicila Rosembaum) – como Cabral. A estória gira em torno do romance longevo, teatral e literato do casal, que é rompido por um pedido de “tempo” por parte de Glorinha (sempre elas), que acaba se apaixonando por Diogo (Fábio Junqueira), um arquiteto bem sucedido e mais jovem que Cabral.

# # # Apesar da aparente trivialidade do tema (que inumeráveis filmes já abordaram com muito menos propriedade), o extraordinário Domingos de Oliveira trata a matéria com tanta sinceridade, entrega e sensibilidade, que o assunto, tão mastigado e desgastado, consegue um frescor impressionante. É tamanha a verdade impressa nos diálogos, monólogos e na perfeita atuação do ator/diretor, que todo ser humano emocionalmente saudável e com alguma experiência sentimental vai conseguir enxergar a universalidade talentosa com que são tratados os eternos problemas do coração.

# # # # Tocante!


# De novidades musicais, o novo do Kings of Leon, Because Of The Times, que acabei de ‘adquirir’ com minha amiga Emule, mas ainda não consegui escutar o bastante pra uma opinião honesta. Parece que está mais contido e menos ‘tosco’ (e isso não é um elogio!). Mais pra frente boto aqui umas linhas decentes sobre ele.


# Young Modern, o novo e aguardadíssimo disco do maravilhoso Silverchair deve conhecer a luz do mercado em 31 de março. Desde o comovente Diorama (2002) sem novidades, a banda australiana já deixou escapar duas das canções que constarão no track list mais esperado do ano. São elas Straight Lines (o primeiro single) e Caught By the Fame, que aguçam ainda mais a curiosidade acumulada daqueles que esperam por esse álbum há mais de cinco anos, como esse amigo que vos digita essas linhas empolgadas.

# # Straight Lines tem aquela conhecida e adorada atmosfera dolente e delicada, alternando grandiloqüência e intimismo, com vocais esvoaçantes e dolorosos, nuances de minimalismo pop e uma solução melódica de fazer chorar.

I don't need no time to say
There's no changing yesterday
If you keep talking and I keep walking in straight lines


# # # Caught By the Fame é pesada, intensa e terna, cheia de guitarras melodiosas, vocais gravemente emocionados e, ainda, um sutil apelo grunge embutido nos pequenos vazios de agonia.

# # # # Achei Straight Lines fantástica, digna dos melhores momentos do Silverchair, e Caught By the Fame também é bem acima da média. Young Modern é, de longe, o disco mais esperado de 2007 para esse blog aqui, e o aperitivo só abriu ainda mais o apetite glutão de milhares de almas curiosas e aflitas.

# # # # # Me diz aí: quanto tempo até cair, inteiro, na net? Hein?



# Pra terminar, mais uma edição das Fora da lei sessions.

# # Conhece a Nancyta? E Os Grazzers? Pois é, direcionando o cursor do seu mouse sobre o play aí embaixo, você vai poder relembrar o antológico show da banda baiana mais legal do Goiânia Noise 2002. São menos de três minutos, mas dá pra sentir saudade, já que a banda acabou há pelo menos dois anos. Se você não estava lá, morda-se de inveja:





Então tá, vou assistir Syriana ali no quarto, e já volto...

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Um longo tédio horizontal...


Montage
Foto de Divulgação



# Então, carnaval chegando, o Grito Rock vai sacudir vinte cidades espalhadas pelo País, furando a hegemonia dos baticuns afro-decadentes tão em voga nessa época. Legal isso não?

# # Precedendo a abertura das festas de momo, o Montage desembarca sua macumbaria andrógino-eletro-funkeira em Goiânia amanhã, quinta feira, no palco charmoso do Bolshoi. Com um show pra lá de comentado no último Goiânia Noise, a banda provavelmente vai lotar a pista do pub com os beats safos de Ginastas Cariocas e I Trust My Dealer, entre tantas outras canções espertas que tanto os afamaram em 2006.

# # # Pra acompanhar a folia eletrônica dos cearenses, o coletivo de djs Meninas do Rock, vai animar a pista com o fino da pop culture traduzida em canções de três minutos, perfeitas pra chacoalhar seu endo-esqueleto cheio de músculos, sangue e álcool, hehehe.

# # # # Por falar em Bolshoi, o proprietário Rodrigo Carrilho manda avisar que o Pub fecha suas portas a partir desse sábado, e só volta à ativa depois de um mês de reformas. O blogueiro aqui deu uma espiada nas plantas baixas que anunciam a nova fase do lugar e dá a dica: o que era já era muito bom vai ficar ótimo! A configuração interna do club vai ser toda modificada e ampliada, ganhando um mezanino com visão privilegiada do palco, novos equipamentos de som, aquário para a área dos fumantes e outras melhorias que poderão ser conferidas de perto a partir de meados de março.

# Sábado passado aconteceu no Martim Cererê a segunda edição do festival Covernation, onde bandas da cidade homenagearam suas maiores influências em vááários shows de 45 minutos. O público fez seu papel e compareceu em massa, e muitos (mas muitos mesmo) dos que não tinham os dez dinheiros requeridos para a entrada, arriscaram sua dignidade adolescente pulando os muros e driblando os seguranças. Na verdade, os bem sucedidos na aventura foram pouquíssimos, e a maioria caía mesmo nas mãos despreparadas e trogloditas dos “seguranças”.

# # O blogueiro aqui testemunhou dois desses imbecis agredindo um dos garotos invasores, com tapas na cara, exigindo que pulasse o muro de volta em três segundos, senão a coisa poderia piorar. A molecada não tá, nem de longe, certa em querer entrar sem pagar, mas os gorilas analfabetos (quem além dessa espécie aceita ser “segurança”?) sempre se excedem nesses casos. Não bastaria a humilhação pública de o invasor ter que passar pelo meio dos seus iguais, “braço dado” com o símio de terno preto em questão e ser expulso pela porta da frente?

# # # Já os shows foram bem mais legais. Os destaques ficam por conta do Matzeva, que ressurgido das cinzas prestou tributo ao eterno Black Sabbath, recheando seu set com quase todos os sucessos da fase de ouro do grupo inglês, época em que Ozzy Osbourne ainda conseguia articular frases inteiras e que faziam sentido. O Another Day também refletiu toda aquela loucura dos seventies, recordando os melhores momentos do grande Deep Purple, sem esquecer mega-hits impregnados no inconsciente coletivo do ocidente inteiro como Perfect Stranger e Black Night. Outra que distribuiu delírio em forma de decibéis foi a Lake, que lembrava a principal banda dos anos noventa, o Nirvana. Não esteve entre as melhores apresentações da noite, mas a empolgação da molecada compensou qualquer imprefeição, e no fim das contas o saldo foi bem positivo. A última grande apresentação da noite ficou por conta da Olhodepeixe, que reeditou em versão compacta a homenagem ao Faith No More, que estufou de gente o Bolshoi Pub por duas vezes nos últimos dois meses.

# A essa altura do campeonato, o amigo aqui já não respondia por si, tal a quantidade de vodka com suco de limão corrente nas veias e artérias do corpo já combalido do editor dessas linhas rubras. Nem o show dos Gramofônicos, que homenageariam o Kings of Leon, foi motivo suficiente para garantir a permanência do blog no Martim Cererê.

# # Me contaram depois que ainda paramos pra comer, mas disso eu não tenho a mínima recordação...

# # # “Fuma, bebe, não pensa em trabalhar...”


# Prosseguindo com as Fora da Lei Sessions, se você apertar o play na janela aí embaixo, vai assistir trechos do último show da Umbando, ocorrido dois findes atrás no Circo Laheto e que foi uma justa homenagem ao Ari Rosa, membro do grupo assassinado no fim do ano passado. Confere aí e depois me diz o que achou.






# Notícia de última hora:

# # O amigo aqui, numa infeliz e desastrada manobra doméstica sobre o piso molhado, sofreu uma queda poderosa e partiu a perna em alguns pedaços, sendo obrigado pela autoridade médica competente (hehehe) a curtir um longo tédio horizontal, até que a fíbula e o tornozelo resolvam voltar para seu devido lugar. Portanto, as atualizações disso aqui podem (eu disse podem) não ocorrer com a periodicidade desejada.

# # # Mas na medida do possível o blog se fará presente com as novidades e opiniões de sempre. Valeu?

# # # # Desejem-me melhoras e até aqui a pouco.


Inté, vou voltar pra cama ali.

sábado, fevereiro 10, 2007

A Plenitude da Delícia.


O macho dominante e a fêmea emancipada de Um Copo de Cólera.



Onde é que tá o maldito telefone? – me indaguei nervosamente enquanto revirava as almofadas e os travesseiros em cima da cama desarrumada. O dedo ainda ardia por causa da brasa do cigarro, e o maldito celular não resolvia aparecer e nem parava de tocar. Passei à cômoda, abrindo as gavetas e portas mesmo sabendo que ele não estaria lá. “Embaixo da cama...” - ela falou displicentemente enquanto espiava as unhas, como quem quer ajudar sem muito esforço. Olhei pra ela com certa raiva nos olhos, passeando um olhar irritado por sobre o seu colo e mãos, que agora programavam um embate calmo entre os polegares. Das duas uma, ou ela não percebeu ou não quis perceber minha impaciência: cerrando os olhos do jeito mais meigo e tocante que eu consigo lembrar de ter visto, me mandou um beijo estalado, barulhento, quase infantil. Me desarmei completamente. O gesto era tão irrefletido e aparentemente honesto, que me arrancou instantaneamente a cólera sem sentido. Nem registrei que o telefone havia parado de gritar... dei a volta na cama na intenção sincera de lhe devolver na carne dos lábios o beijo enviado há pouco pelo vento. Sentei-me e a espiei dentro dos olhos, segurando sua face de Afrodite entre as mãos, numa contemplação comovida e franca. Mordi meus próprios lábios, denunciando minha ansiedade e anunciando minhas intenções. Ela, conhecedora das minhas manhas e manias, sorriu de canto com o prazer dos íntimos, como que assentindo a proposta nos meus olhos, boca, dentes e mãos, que agora lhe apertavam os seios pequenos e rijos, enquanto as carnes dos beiços se misturavam. Num solavanco, a arranquei da cadeira e a roubei para a maciez do colchão, enquanto me ocupava de lhe tirar a calça, calcinha e sutiã, deixando-a desnuda, indefesa, entregue, de pernas abertas e mãos curiosas. Abriu-me os botões da calça com calma – o que me deixava ainda mais ansioso, sempre –, e enquanto me deitava com regozijo, adivinhando a carícia predileta, me deixei despir, oferecendo-me também indefeso à plenitude da delícia. Assim que senti o hálito quente e saboroso me envolver gloriosamente as partes, volta a esgoelar, agora nitidamente mais próximo, a merda do telefone celular.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A pós-modernidade contemplativa da Pelvs.


Pelvs
Anotherspot – 2006
midsummer madness records


Baby of Macon, com seus dez minutos de inspiração instrumental, climatizações sensoriais e candura melódica, inaugura Anotherspot anunciando a maravilhosa dolência pop que se estenderá por outros quarenta e cinco minutos. Indian Maracas passa rápida, com sua ambientação noturna, quase gótica, abrindo caminho pra a placidez compassiva de Run of the Mill. A oitentista Beans Can’t Clap tem uns arranjos de cordas discretos e xilofones bonitinhos, quase infantis, e na fantástica Tupiguarani a Pelvs revisita o próprio passado enquanto dialoga com a pós-modernidade contemplativa do Sigur Rós, recordando a psicodelia matinal daquele Pink Floyd dos anos sessenta. Mesmo Lia, a faixa menos empolgante, consegue desvendar sua beleza vazia e intimista, precedendo Keep the Music Away, que conduz um transe de teclados sombrios e guitarras psicodélicas. Quase no fim, a intrigante e sorumbática Post Scriptum pontua sua tristeza aguda antes de The Ballad of the Tom Cody and Ellen Aim encerrar o disco com uma alegria nublada e meiga, recordando os momentos sorridentes do Belle & Sebastian. A Pelvs, com Anotherspot, abre o ano dos bons discos nacionais (apesar de oficialmente lançado ainda em dezembro de 2006) com uma extensa vantagem sobre seus “concorrentes”: credibilidade e tempo de estrada. E como isso conta...


Aí embaixo você pode assistir Baby of Macon, gravada durante um show da Pelvs no Rio de Janeiro, quase três anos atrás. Esquenta um chá, senta na poltrona o mais confortavelmente que der, e play!




E nesse de Tupiguarani, você que já vai estar mergulhado na poltrona, vai se aconchegar ainda mais. É de doer...




Então, inté.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

"Aqui não é só caipira, aqui é muito roquenrol... muito!"


Klebão em transe no show do Umbando.
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Oi, tudo bem?

# E não é que Infinity On High, novo do Fall Out Boy é mesmo bom de verdade? Do comecinho com Thriller, que tem um jeitão de metal malvado e lembra de raspão até o At the Drive In, ao primeiro single This Ain’t a Scene, It’s An Army Race, que flerta com o R&B moderninho e se revela um emo-dance (?) pra lá de divertido, a banda de Chicago se assenta como o melhor dos grupos da nova moda das franjinhas compridas, ainda que com isso se distancie cada vez mais dela. Infinity On High é um disco mais maduro que a estréia, foge das previsíveis limitações estilísticas sem afetação e abre uma parabólica poderosa que resulta num caleidoscópio pop dos mais significantes. Vale uma conferida de perto.


# Em março, entre os dias 12 e 18, acontece em São Paulo o Festival Fora do Eixo, que reunirá em clubes como Funhouse, Studio SP, Inferno, Outs, CB e Coppola,. cerca de vinte bandas do creme do circuito independente nacional, em uma semana de celebração indie. Nem todas as vinte vagas estão confirmadas, mas nomes como Macaco Bong, Vanguart, MqN, Porcas Borboletas entre mais uma meia dúzia que você, eu bem sei, consegue adivinhar fácil, fácil, farão parte do line up da festa.

# # Esse festival é mais uma ação do Circuito Fora do Eixo, que está integrando o povo rock interessado em criar um ciclo de produção independente, em todas as frentes da cadeia produtiva: técnica de áudio, bandas, produção de eventos, jornalismo especializado, e tudo o que movimenta isso que adoramos chamar de cena alternativa.

# # # Outra ação dessa turma é o Portal Fora do Eixo, que no momento está sendo pensado e articulado por duas comissões (uma de blogs e outra de sites), através de reuniões periódicas via msn e grupos de discussão, e em breve se apresentará ao público, funcionando, se tudo der certo, como um catalisador da produção jornalística que cobre o mundo do rock independente, facilitando a vida do navegante ao centralizar informações e links para os principais veículos online, avisando a cada atualização. Goiânia Rock News, é claro, é comparte da comissão dos blogs e participa da criação conjunta dessa que vai ser uma nova e potente voz do novo rock brasilis.

# # # # Legal demais isso tudo, né?


# Como anunciado alguns posts atrás, está inaugurada a partir de agora as Fora da Lei Sessions, que serão apresentadas periodicamente aqui no blog, com filminhos rockers produzidos pelos sempre amigos da Fora da Lei, produtora das mais bacanas que tem um extenso material em vídeo de shows e entrevistas com as bandas mais legais que já empunharam guitarras em palcos goianos. A premiére será privilégio do Aqui É Rock!, que foi gravado durante o Bananada de 2002. Aperta o play aí e fica esperto para as agudezas do filme, como quando, logo no início, um Fabrício Nobre possuído pelo palco xinga e manda embora os “idiotas que não estão gostando da festa”, enquanto a câmera flagra olhares desentendidos de garotas semi-ofendidas abandonando o teatro; a entrevista da formação mezozóica do NEM; imagens do antológico show da Lusbel is a Jazz Project (quando o Munha nos saudou sorridente: “Boa noite, seus caipiras!!”); o papo com o reverendo Massari; além do já lendário show do Sérgio Dias, que depois confessou para a Fora da Lei:
“Estar aqui (em Goiânia) agora fazendo isso,
pra mim é muito mais importante do que estar
em Nova Iorque tocando com outras pessoas.”
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# # Ok Sérgio...



# E o Violins finalmente vai dar a luz ao tão esperado Tribunal Surdo. O show de lançamento do futuro freqüentador das listas de melhores discos de 2007 vai acontecer no dia sete de abril, nas dependências charmosas da sala de teatro do Cine Goiânia Ouro, que comporta apenas duzentos humanos bem acomodados.

# # Tribunal surdo, com suas guitarras amargosas e fábulas urbanas bizarras vai assustar muita gente, principalmente os que têm predileção pela doçura macambúzia do Aurora Prisma. Aliás, assustar não é a palavra correta, uma vez que cinco músicas já foram disponibilizadas pela banda, desde o fim do ano passado, mas ainda assim pode chocar algum desavisado.


# No sábado, no meio da chuva boa que tem acompanhado a cidade há quase um mês, a Umbando voltou aos palcos, depois de meses afastada deles. A causa do show, apesar de justíssima, não era nem de longe aquela que todos desejariam. Seria uma apresentação-tributo à memória do grande Ari Rosa, violonista, poeta e principal compositor do grupo, que foi assassinado no fim de dezembro passado.

# # Antes que os tambores sacolejassem os cerca de trezentos presentes, uma vídeo-homenagem, confeccionada pela Fora da Lei, emocionou muita gente com imagens do músico em estúdio, no trabalho e em shows.

# # # A armação do espetáculo foi amarrada para relembrar e iniciar a perpetuação da obra do grande compositor que foi o Ari, de modo que vários foram os convidados, amigos dele e amigos da banda, para participar da recriação ou para assumir a função que o Rosa desempenhava. Gregory Mark e Fridinho, vocalista e guitarrista da Olhodepeixe, empunharam respectivamente violão e guitarra; Olavo Telles e Cassiano Veronese entoaram suas violas; Fabiano Lin, vocalista da Casa Bizantina, exibiu o seu Samba de Ari, composto depois do ocorrido, e Smooth, vocal e guitarra da Vícios da Era, também apresentou, num violão solo, uma intimista homenagem ao amigo

# # # # Fora tudo isso, as grandes canções da banda garantiram a diversão e o movimento das centenas de expectadores bastante animados: do instrumental poderoso e cativante de Clarice, ao retumbante Baião Goiano, passando por gemas como Seu Levi e Olho Mágico, e culminando com as poderosíssimas Filhos da Terra e Roseira (que fez muita gente libertar as lágrimas), a Umbando provou mais uma vez que ainda tem um dos melhores shows do país, mesmo que seja freqüentadora bissexta dos palcos e até hoje (depois de mais de dois anos) ainda não tenha finalizado seu disco de estréia.

# Nem sei explicar, só sei que foi assim.


# Pra terminar, a ótima notícia: O grande Incubus desembarca no Brasil em maio para dois shows, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro. Quem acompanha isso daqui sabe do apreço do blogueiro pelo quinteto dono do melhor disco de rock lançado em 2006, não sabe?
# # Pois é...


Até daqui a pouco.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Rock Tupi!


Pelvs
Foto de Divulgação




# Só agora fui começar a ouvir o Anotherspot, disco novo da Pelvs, a mais teimosa das boas bandas cariocas. Seguindo uma regularidade irritante, a Pelvs nunca arredou o pé de sua proposta estética inicial; reinou no gueto indie dos anos 90, época em que o inglês era a língua oficial também do nosso rock que importava (sem trocadilhos), e resistiu com indiferença à conversão em massa dos independentes ao idioma nacional, no começo do novo milênio. Como diz o release do grupo no site da midsummer madness,

A Pelvs difere das suas contemporâneas porque elas estão mortas e enterradas, e distingue-se da produção recente não só pela qualidade, mas porque é bem difícil imaginar alguma banda nova que venha a desenvolver uma carreira. Talvez porque os neófitos, como todo calouro, ainda tenham a pretensão de se tornarem “grandes”, e nisto apostem suas fichas; a PELVs já se contentou, há muito, em criar uma obra. O que não é pouca coisa.

# # Em Anotherspot, a fidelidade canina ao que os consagrou ainda é constante, mas agora está imersa num diálogo plácido e intenso de guitarras esparramadas com ressonâncias grandiosas, numa quase troca das melodias simples e ternas (outrora dominantes) pelas climatizações e atmosferas comoventes, aproximando o conjunto do que convencionou-se chamar de post-rock. A incrível Tupiguarani, onde a Pelvs revisita seu próprio passado e conversa com a pós modernidade contemplativa do Sigur Rós e com a psicodelia matinal daquele Pink Floyd dos anos sessenta, é o primeiro destaque dessas poucas e fascinadas ouvidas. Mas como dito lá no começo, a regularidade da Pelvs sempre surpreende, e esse Anotherspot promete revelar muitas maravilhas mais. Em breve pinta aqui na tela do blog um texto mais cuidadoso sobre esse disquinho.


# O grande Silverchair, que nada lança desde o ótimo e dilacerante Diorama, de 2002, novamente protagoniza no universo dos downloads, com uma versão tosca e ao vivo de Straight Lines, canção do próximo disco que já pode ser facilmente conseguida no seu programa de troca de arquivos preferido. Eu achei fácil no Emule (no caso, o meu predileto). Mas a torcida (será que ainda precisa?) é pra que o álbum inteiro alcance a rede mundial muito antes de abril, data agendada para o lançamento físico e oficial do disco mais esperado de 2007 (pelo menos por mim). Até já ouvi alguma coisa dessas novas músicas, em outras versões ao vivo, mas a qualidade desses bootlegs era ainda pior, o que não deixou transparecer a intenção da vez de Daniel Johns. O que resta é esperar e consultar o Emule duas vezes por dia.


# A primeira etapa do Circuito Decibélica, que aconteceu em outubro passado, com shows de Faichecleres, Rollin’ Chamas e Rockassetes, entre outros, foi registrada pela produtora Mundo Narf, que agora divulga os resultados do trabalho. Aí embaixo você pode dar uma olhada num trecho do filme, que está inteiramente disponível do YouTube (ainda que dividido em seis partes). Repare no Tuba, baterista do Faichecleres, assaltando a mangueira do pátio do Martim Cererê durante a tarde que antecedeu a festa, e na menina que ignora a câmera e interrompe despreocupadamente a entrevista do Supergalo. Isso sem falar na tosquidão das perguntas dos VJs. Acompanha aí:




# # Vendo esses videos, me lembrei de um filme dos bródis da Fora da Lei (o link aí no lado direito do blog), chamado Aqui É Rock!, confeccionado menos de um ano antes do blogueiro aqui se juntar a eles, numa parceria que durou cerca de três outros anos. Desse período, várias edições memoráveis do programa de rádio Espírito da Música, produzido pelo coletivo por vários anos e que chegou a ganhar o título de Melhor Programa musical da Rádio Goianiense, concedido pelo Prêmio Radiofônico das Faculdades Cambury (hoje incorporada à Universidade Católica de Goiás), além de um extenso material em vídeo, de coberturas realizadas em diversos festivais em Goiânia.

# # Sérgio Valério, vulgo Sergin – o chefe Fora da Lei é o guardião desse material e à medida que está redescobrindo e editando videozinhos pra lá de supimpas, de apresentações das mais variadas bandas do país em solo goiano, tem disponibilizado em comunidades do Orkut. Esses filminhos vão começar a aparecer também aqui, acompanhados, sempre que possível, das memórias que o blogueiro conseguir exrair das imagens. Pra inaugurar essas Fora da Lei Sessions o Aqui é Rock!, com seus seis minutos de insanidade roqueira goianiense, pula na tela do blog já no próximo post.

# o Fall Out Boy, que no final de 2005 estreou com o surpreendente From Under The Cork Tree, deve lançar agora em fevereiro seu segundo álbum, intitulado Infinity On High, e inspirado, segundo a banda, em Guns n’ Roses e Michael Jackson. Pesca-lo na internet já é tarefa das mais fáceis, mas ainda não tive tempo de ouvir. Se Infinity On High tiver outro hit tão divertido e bom de ouvir e dançar quanto Dance, Dance, já vai valer as dezenas de MB a menos no meu HD.

# Amanhã, sexta dia 02 de fevereiro, a ótima Umbando, banda das melhores e que há um tempo está afastada dos palcos, retorna ao tablado para homenagear o grande Ari Rosa, poeta, compositor e violonista do grupo, assassinado no fim de dezembro. O show terá lugar no Circo Laheto, ali ao lado do parque da criança, próximo ao estádio Serra Dourada e o ingresso custa a simbólica quantia de cinco reais, somente para a cobertura dos custos da celebração, que é promovida entre amigos que tentam repudiar com arte e sensibilidade um ato tão repulsivo e revoltante como o homicídio do Ari. Eu vou lá, bora?


# # Então até lá, vou voltar ao trabalho aqui, um beijo procê.