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Dois discos, um que deixei passar batido ano passado e outro lançado dia desses, estão em alta no hit parade aqui do blog. Do Ben Kenney eu cheguei a falar alguma coisa muito rapidamente há alguns posts, mas Distant and Confort merece mais do que uma citação preguiçosa no fim de uma postagem perdida.
O outro é o novo do Gossip, Music for Men, que fui ouvir meio que empurrado, já que no último disco pouca coisa se aproveita além da faixa título, e a despeito de “Standing In The Way Of Control” ser arrasadora, o resto do track list é quase tão entediante quanto uma partida de golf na área de serviço.
Music For Men – Spoiler homo-desinibido
Se antes a roliça diva GLS Beth Ditto estava acostumada a escancarar a potência urgente de sua voz poderosa, em Music For Men a cantora recolheu a impostação e exibiu uma delicadeza vocal atenta às filigranas da soul music, mas tão econômica nos cacoetes quanto eficiente no flow – ainda que não dispense por completo o vigor de seus ataques vocais frenéticos. Apesar do delírio suave e intimista inspirado em Nina Simone da última faixa do disco anterior, “Dark Lines”, no resto do repertório a aura soul era muito pulverizada, apenas sugerida.
Não há nenhum hit do calibre de SitWoC, mas a inventiva regularidade que atravessa o álbum, e ganha picos em “Heavy Cross”, “Men In Love” e “Pop Goes The World” (que, como em alguns outros momentos do disco, sugere uma semelhança conceitual com o Bellrays) tem muito mais mérito artístico que seu antecessor.
O que em Standing In The Way Of Control era disco-music revisitada pelo novo punk – hedonista e esvaziado de ideologias, em Music For Men é um apimentado e potente pop dançante, que ainda insinua um flerte do punk com a disco, mas que dá mais valor ao degradê da voz estridente de Beth Ditto ao mesmo tempo em que parece ter aberto um leque de referências tão caleidoscópico quanto a música deve ser. A simplicidade esperta das guitarras, a atmosfera soul e o acento simultaneamente retrô e moderninho dos sintetizadores de Music For Men devolveram ao Gossip o brilho estroboscópico que, apesar do hit solitário, havia se perdido em meio à chatice de Standing in... .
Já o Ben Kenney é mais conhecido por ter sido guitarrista do The Roots e, em 2003, ter sido admitido no Incubus, no lugar do baixista Alex Katunich.
Egocentrismo Solo
Distant and Confort é o terceiro disco do multi-instrumentista, que leva ao pé-da-letra a idéia de carreira-solo e se encarrega sozinho de todos os instrumentos, além de também cantar em todas as faixas. Se o rock de guitarras inteligente e enxuto de 26, de 2002, e Maduro, de 2004, forma um belo mirante para a cena alternativa de sotaque grunge dos anos 90, Distant and Confort já reflete a influência da "nova" banda, o que remodelou até os trejeitos vocais de Ben Kenney, que agora parecem espelhar as melhores características de Brandon Boyd, em meio à obra mais direta e pesada de sua curta discografia.
“Not Today”, “18th Avenue”, “Implants” e “Eulogy”, assim como a maior parte das faixas, ainda trazem alguma memória noventista escondida, mas dessa vez bem filtrada pela mesma lente que o Incubus usa para enxergar a música. Porém, a partir de “Fluorescent Yellow” a atmosfera ganha contornos melancólicos e timidamente entrega influências do indie-rock inglês. E “Some Days Are Better Than Others” e “Confort” encerram o disco com implicações radiohedianas e harmonias luxuosas e dolentes, provando que a sensibilidade musical de Ben Kenney atravessa rótulos com a facilidade de quem cruza a avenida 85 num domingo.
Mudando de assunto - She Science, o novo do Wry, ainda me é um estranho. Já fomos apresentados e tal, mas ainda não consigo reconhecer nele aquele Wry de quem eu gosto tanto, que é pai legítimo do sensacional Flames in the Head. E segundo o assumido e orgulhoso “progresso” musical propagandeado pelo vocalista Mário Bross, é possível que eu não reconheça nunca mais.
Já tinha estranhado o grupo no mergulho contemplativo de Whales and Sharks, o epê lançado em 2007 pela etiqueta inglesa Club AC30, e apesar de She Science ser obviamente melhor elaborado e gravado com mais cuidado que a maçante viagem post-rock de seu antecessor imediato, ainda não bateu. Pensei que pudesse ser culpa da esquisitice dos vocais em português de algumas das faixas, mas devagarzinho até que eles estão revelando alguns divertidos detalhes ocultos.
Na verdade, o atual experimentalismo do grupo exige audições mais cerebrais e menos sensíveis, e se antes a música do Wry era capaz de provocar sensações e arrepios, agora causa... estranhamento. Nem sempre a conclusão intelectiva é favorável. O primeiro single,"Dois Corações e o Sol" ganhou video-clipe que subiu à web no fim de semana:
Dois Corações e o Sol
Mas embora já tenha desistido de Whales and Sharks, She Science acena com fagulhas no fim do túnel, e ainda vou perder algum tempo tentando entender o novo Wry, que de volta ao Brasil programa o lançamento nacional de mais dois discos ainda esse ano: Long Term Memory of An Experience (que trará em sua lista as quatro faixas de Whales and Sharks, nunca lançado oficialmente no País) e o enrolado National Indie Hits, tributo afetivo que o Wry programa lançar desde o ano passado, com covers de bandas como Low Dream, brincando de deus, MqN, Pelvs, Killing Chainsaw e um tanto de outras.
Pra acabar – EXTRA! Desvendado o mistério do sucesso do cinema alternativo brasileiro:
O método:
E a prova estereotípica e universal de sua eficácia:
Caso não fosse tão solipsista, arrogante e não se levasse tão a sério, 90% do "cinema" goiano seria capaz de se enxergar na piada.
Tchau.
segunda-feira, julho 06, 2009
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Um comentário:
Hey, eu tinha que comentar aqui. Sinceramente, sem brincadeiras, adorei o que escreveu. A impressao que tenho eh de objetivo alcancado. Pois nosso objetivo ao gravar esses albuns era decausar um certo estranhamento, fora do comum de Wry, mas que ao mesmo tempo seja intrigante ou curioso.
Valeu!
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