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sábado, maio 26, 2007

"Rock n' Roll é Bom pra Mim!"

Diego de Moraes
fotos: e-mitocondria.com.br


Na madrugada do domingo, voltando para casa depois de finda mais uma edição do Bananada, fumando o último cigarro e pensando no que havia acontecido nas noites dos últimos três dias, alguns temas dominavam meus pensamentos.

O primeiro deles: o melhor e o pior show do festival haviam sido, pasmem, o mesmo! Misturados pela mesma banda em quarenta minutos de extremos opostos.

Segundo: se no Bananada do ano passado o sucesso do novo formato, que coloca bandas locais como headliners, foi retumbante, esse ano a coisa não foi assim tão boa. Os teatros ainda receberam um público razoável no último show de cada noite, mas nada comparado àquela apoteose hiperbólica de MqN, Violins e Rollin Chamas, que fecharam os três dias da edição 2006.

E ano que vem? Quem vai ter cacife para fechar o Bananada? Ou o jeito vai ser mesmo - solução pra lá de razoável - repetir figurinha?


Terceiro: caralho, como é bom aquele misto gigante! Principalmente o de hamburger (de hamburger!!) – que era servido com duas carnes e uma boa porção de queijo –, devorado perto do final da noite, acompanhado da onipresente coca-cola (que no caso era pepsi mesmo), e, após ingerido, coberto com um belo e reconfortante capuccino quente com chantilly. Esperava ansiosamente por uma banda ruim no final da noite, para gastar meia hora tranqüila na barraca do Café Não-Sei-O-Quê.


Joguei o cigarro fora enquanto enfiava a chave na porta de casa, dei duas voltas, entrei e joguei a mochila no sofá, rastejei até o quarto e me deitei quase ouvindo a voz da mamãe (que morreu há dez anos) me mandando levantar e escovar os dentes antes de dormir.


***** **** *** ** *


Entrei no Martim Cererê depois de ser revistado com desconfiança pelo trio de (in)seguranças, e descobri que pela primeira vez na vida havia chegado no festival antes dele começar de fato. Fui conversar com o pessoal, tomar uma cerveja e esperar pelo show do Diego de Moraes, que eu já havia visto numa festa da revista Decibélica e nuns vídeos do Youtube.

Duas latinhas e muitas risadas depois, as portas do teatro Pyguá foram descerradas, abrindo oficialmente, com discurso do Fabrício Nobre, o Bananada 2007.

O Diego de Moraes, dessa vez ancorado por uma banda (da outra vez era apenas ele e seu violão), engatou seu espetáculo estrambótico de jovem-guarda de protesto e rock punk involuntariamente concretista para uma sala bem freqüentada, mas não cheia. Muita gente “importante” tem falado no Diego, desde os últimos meses do ano passado, e o garoto tem mesmo muita coisa pra dizer, ainda que aparentemente esteja meio perdido dentro desse “novo mundo”. Já dizia o Décio Pignatari:

A novidade, novidade do material

e do procedimento, é indispensável

a toda obra poética.

E se o trovador-caipira-indie de Senador Canedo tem um viço lírico forte, e uma verve musical das mais viscerais (na falta de um adjetivo melhorzinho), tem que tomar muito cuidado para não se prender ao panfletarismo discursivo chato e minimalista, que ocupou praticamente todos os intervalos das músicas do show. De resto, as boas canções, cheias de peçonha e intenção, ainda precisam se entender com a tosquidão dos vocais.


Monno

Depois do rock grave do Golsfish Memories e dos candangos sensíveis do Watson, a mineira Monno ocupou o tablado do teatro Yguá e fez o melhor show da noite. As melodias derramadas, os porres instrumentais, a tristeza escondida por entre as camadas de guitarra, enfim, todos os adoráveis clichês que quando associados com talento nunca erram, estavam lá e aglomeraram o público que começava a crescer. Qualquer comparação com os conterrâneos do Valv, não é mera coincidência. O único EP do grupo, que conta com sete canções, dentre elas as prediletas #1, e Lugar Algum, está inteiro disponível no site da turma: www.monno.com.br

Avançando algumas horas noite adentro, o Coletivo Rádio Cipó pôs abaixo a cúpula acústica do teatro Pyguá, onde a massa disforme de carne suada se debatia satisfeita sob regência de Mestre Laurentino e Ruy Montalvão. O mistifório de dub, rock e regionalismos nortenhos pode soar, assim descrito, como tantos engodos de “resgate cultural moderninho” espalhados pelo território nacional, mas a receita dos paraenses, incrivelmente, funciona. É claro que muita da atenção dispensada ao grupo é culpa da excentricidade de Mestre Laurentino, que aos oitenta e dois anos, ocupa o tablado com uma presença de palco tão alcoólica e elétrica que causaria arrepios de inveja da grossa em Keef Richards.



Mestre Laurentino

Depois do show, fui falar com o tio. Deu pra sacar que ele já está escolado nessa de popstar, de impressionar as massas, por que foi só ligar o gravador que ele tomou a "entrevista" para si, engatou o piloto automático e, entre um gole e outro de vinho barato, declamou em alto e bom som o release decorado:

Meu nome verdadeiro é João Laurentino da Silva, mas na música sou conhecido como Mestre Laurentino. Sou reconhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil e do mundo. Em São Paulo , no Ibirapuera, eu já me apresentei com a minha banda, a Coletivo Rádio Cipó, onde estou desde o começo. Fui sucesso , me apresentei no Acre, na França, Goiânia, Rio Grande do Norte, Martinica, Ceará. Fizemos agora outra filmagem pra Inglaterra e fomos convidados pra Espanha e pra Portugal. Agora o pessoal da América quer me levar pra lá, mas eu tô escabrunhado porque aquela música ‘Lourinha Americana’, eu fiz pra sacanear com os americanos. O americano não gosta do negro né? E agora querem me levar pra lá pra gravar música comigo (risos).

Achei a rapaziada de Goiânia bacana. Me acolheram muito bem, é uma recordação que eu guardo dentro do meu coração. Em todo lugar que vou, eu sou muito bem recebido, com todo amor e carinho.

A minha bebida é vinho, meu filho. O vinho me dá saúde e a felicidade que eu tenho pra todos vocês. Sigam o caminho de vocês na música, pra vocês serem feliz (sic).


Lá atrás no relógio, já haviam se apresentado o punk cru do Sangue Seco, a barulheira pretensiosa e diáfana do Dell O Max, o show de humor sem graça da Dimitri Pellz, a expiação sanitizada do Barfly, a inventividade estéril da carioca Super Hi-Fi e o hardcore telúrico dos pernambucanos quase, do Devotos.

Depois do Coletivo Rádio Cipó calar suas rimas, blips e tóins, a Shakemakers acendeu a massa na sala ao lado, transformando o teatro Yguá em pista de dança. O rock clássico, básico e desbundado do quarteto de veteranos, ainda contou com participação especial de Lucas Cão, guitarrista da perna quebrada, e explodiu em êxtase no hit local Rock n’ Roll É Bom pra Mim!. Suor, muito suor.



Violins



Na seqüência veio o Violins com o show que divulga o ótimo e recém-lançado Tribunal Surdo. A luz mortiça que agasalhava a banda de frente para a arena lotada, combinou bem com as atmosferas noturnas e nefastas que permeiam as canções do novo disco, repletas de violência, insanidade e bizarrice. Depois de Anti-Herói pt.1 e Grupo de Extermínio de Aberrações, presentearam os fãs mais veteranos com Perfume, do primeiro EP, Wake Up and Dream, e com a nova versão de Glória (do track list de Grandes Infiéis) presente nas Rocklab Sessions, registradas no estúdio de mesmo nome e de propriedade do alardeado coffe master Gustavo Vasquez, baixista do MqN.


E para dar um fim ao começo, a apresentação caótica (no bom e no mau sentido) dos Mechanics, que agruparam as últimas centenas de exauridos e obstinados humanos, prolongando os decibéis até mais tarde, mas...

Nessa, eu já tava em outra!

Boa noite.

***** **** *** ** *

Depois falo mais.

Inté!

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