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segunda-feira, dezembro 31, 2007

Melhores Discos de 2007

o

Último dia do ano, hora do balanço dos melhores discos que nasceram nesses derradeiros doze meses. Feliz ano que vem pra você!



Primeiro o recado do leitor, que escolheu – através da caixa de comentários e de e-mails – os seus prediletos. Depois da lista dos leitores, a lista Goiânia Rock News, com as predileções do amigo aqui.


E, pra terminar (o ano e este post), a opinião de gente que entende do assunto. Convidados por Goiânia Rock News, algumas personalidades da nova música brasileira se arriscam em pequenos textos sobre os melhores sons de dois mil e sete.


Vai lendo aí:



Melhores Discos do Ano segundo os leitores:

In Rainbows – Radiohead (10 votos)
Big Deal – Black Drawing Chalks (9 votos)
Tribunal Surdo - Violins (8 votos)
A Amarga Sinfonia do Superstar – Superguidis (8 votos)
Era Vulgaris – Queens of the Stone Age (7 votos)
Daqui pro Futuro – Pato Fu (4 votos)
Our Love To Admire – Interpol (4 votos)
Zeitgeist – Smashing Pumpkins (4 votos)
Vanguart – Vanguart (4 votos)
White Chalk – PJ Harvey (3 votos)
Reticências (EP) – Diego de Moraes (2 votos)
We Are the Night – Chemical Brothers (2 votos)
Volta – Björk (2 votos)
Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha – Pata de Elefante (2 votos)
The Blackening – Machine Head (2 votos)
Down III – Down (2 votos)
Goldfish Memories – Goldfish Memories (2 votos)




Melhores do ano Goiânia Rock News:

Mundo:
Young Modern – Silverchair
Release the Stars – Rufus Wainwright
Flying Club Cup – Beirut
It Won't Be Soon Before Long - Maroon 5
Si No – Café Tacvba
Era Vulgaris – QotSA
Mix Up – Beastie Boys
City of Echoes – Pelican
Cross - Justice
Libertad - Velvet Revolver
Carry On – Chris Cornell
Mirrorred - Battles
In Rainbows – Radiohead
Roots Rock Riot – Skindred
Infinity On High – Fall Out Boy

Brasil:
Anotherspot – Pelvs
Tribunal Surdo – Violins
Um Olho no Fósforo Outro na Fagulha - Pata de Elefante
The Colagens – The Colagens
Objeto Perdida (EP) - Macaco Bong
Monno (EP) – Monno
Onde Brilham Os Olhos Seus - Fernanda Takai
Gone (EP) – The Name
Fome de Tudo - Nação Zumbi
Big Deal – Black Drawing Chalks
A Amarga Sinfonia do Superstar - Superguidis



Melhores Goiânia Rock News do ano passado:

Internacional
1° - Light Grenades – Incubus
2º - Revelations – Audioslave
3º - The Eraser – Thom Yorke
4º - Black Holes and Revelations – Muse
5º - Amputechture – Mars Volta
6º - Stadium Arcadium – Red Hot Chili Peppers
7º - Pica Seso – Vudú
8º - Enemies Like This – Radio 4
9º - Riot City Blues – Primal Scream
10º - Tah Dah – Scissor Sisters

Honras ao mérito:The Information, do Beck; The Greatest, da Cat Power; Shine On, do Jet; First Impressions of Earth, do Strokes; Return To The Cookie Mountain, do TV On The Radio; Timeless, do Sérgio Mendes; Saturday Night Wrist, do Deftones; Dimensions, do Wolfmother; From Under the Cork Three, do Fall Out Boy, e o Steep Trails, do Ankla.

Nacional
1º - Carrossel – Skank
2º - Estado Natural – Casa Bizantina
3° - Luxúria – Luxúria
4º - – Caetano Veloso
5º - Superguidis – Superguidis

Honras ao mérito: Transfiguração, do Cordel do Fogo Encantado; Seu Minuto, Meu Segundo, do Gram; Meu Samba É Assim, do Marcelo D2;



Texto originalmente publicado no Urbanaque, revista eletrônica paulista que convidou o blogueiro aqui para responder sua enquete anual:

Melhores 2007 Urbanaque
Em dois mil e dois o Silverchair lançou Diorama, o quarto e incrivelmente maior/melhor disco do pop mundial daquele (e de outros) ano. Em dois mil e sete o trio australiano entregou Young Modern ao mundo, e frustrou as expectativas, acumuladas em cinco anos de espera, dos milhões de desesperados por um Diorama II – A Missão.

Mas não a mim. Tudo bem que o Young Modern não tem o mesmo superlativo abstrato que faz do Diorama o que ele é, mas a grande sacada do Daniel Johns foi mesmo passar ao largo de toda aquela grandiloqüência dolente, e apontar sua parabólica para outras direções. Qualquer tentativa de se superar naquele mesmo terreno, possivelmente, seria desastrosa.

Young Modern pode ser dançante (Young Modern Station), melancólico (Straight Lines), esquisito (If You Keep Losing Sleep) e ainda que perca um pouco do pique em algumas faixas, disfarçadas no fim do track list, deixa vários (todos?) os hypes “concorrentes”, comendo uma poeira da grossa, lá atrás.




Melhores Discos do Ano segundo o povo rock:


Grinderman – Grinderman

O melhor disco de 2007 é Grinderman - Grinderman, por que tem Nick Cave em sua melhor forma, com uma bandaça de velhos parceiros. Isso sim é ganhar idade com dignidade.

Fabrício Nobre (GO) – MqN/Monstro Discos/Abrafin



Canastra – Chega de Falsas Promessas
"Na minha modesta opinião o melhor disco de 2007 foi o Chega de Falsas Promessas do Canastra, por um motivo muito simples: a mediocridade que impera na "cena" (inexistente) carioca, que rotulou-se através do movimento de renovação da Lapa, que em tese somente abrangeria o famoso "samba de raiz". Canastra prova que é possível freqüentar a Lapa e ainda assim fazer música de excelente qualidade sem os malfadados rótulos."

Deborah Sztajnberg (RJ) – Advogada e escritora, autora do livro O Show Não Pode Parar: Direito do Entretenimento no Brasil



Silverchair - Young Modern
Esse disco foi o que mais ouvi em 2007. Traz um pop ultra sofisticado feito por uma banda que já é veterana, apesar de seus integrantes não terem ainda chegado sequer aos 30 anos de idade. Daniel Johns, que já escreveu discos grunges requentados da explosão americana do gênero na década de 90, agora escreve pequenas pop-óperas, o que já tinha sido meio que ventilado no excelente Diorama. Um gênio da melodia a serviço da boa música. A música pop nunca foi tão estranha.

Beto Cupertino (GO) - Violins



Nação Zumbi – Fome de Tudo
Esse ano não fui um pesquisador musical, então, pouco sei sobre os lançamentos. Porém, chegou nas minhas 'zoreia' o disco novo da Nação Zumbi e fiquei fã. Musicas, arranjos, timbres e atmosferas de altíssimo nível, disco impecável, 'tipo exportação'. Produzido pelo Mário Caldato Jr., o mesmo que produziu o Odelay do Beck, Ill Comunication e The in Sound From Way Out do Beastie Boys, entre outros discos supimposos. Para ouvir e movimentar os esqueletos e banhas.

Thiago Ricco (GO) – Violins


Robert Plant and Alison Krauss - Raising Sand
Muitos podem pensar que esse é mais um CD de tiozão consagrado com uma mina mais nova pra angariar uns trocados, mas não é. As duas vozes (Robert Plant cantando de forma suave, bem diferente do que ele faz no Led) combinaram perfeitamente, e o repertório é de primeira. Basta ouvir Killing The Blues, Gone Gone Gone (Done Moved On), Please Read The Letter (música que saiu no disco Walking Into Clarksdale, e que foi salva nessa versão com a Alison Krauss) e Trampled Rose (do Tom Waits) para sentir o climão. Duetos vocais que beiram o alt. country/folk, com uma semelhança absurda de outra parceria de sucesso - Gram Parsons e Emmylou Harris.

Bruno Dias (SP) – Urbanaque.com.br



Porcas Borboletas - Um carinho com os dentes
Simplesmente genial. O Porcas Borboletas é a coisa mais criativa do mercado independente brasileiro, junto com o Macaco Bong. Texto afiado na boa escola da vanguarda paulistana, mas sem esquecer a visão Triângulo Mineiro do mundo. Coisa de primeiríssima qualidade.

Pablo Kossa (GO) – Fósforo Records



Ryan Adams - Easy Tiger
Quando Ryan Adams deixa a baderna de lado e se concentra na música, não tem pra ninguém. No esforço de autoconstrução, Adams focou o seu passado alt-country e fez um dos discos mais inspirados e emotivos de sua carreira. Baladas matadoras (Everybody Knows e Rip Off), dueto com Sheryl Crow à la Gram Parsons (Two) e rockão-arrasa-quarteirão (Halloweenhead), colocaram esse disco em alta rotação no meu mp3 player.
Wilco - Sky, Blue, Sky – Pelo que a banda passou de dez anos pra cá – uma obra-prima rejeitada pela gravadora e o vício de seu líder, Jeff Tweedy, em analgésicos – o título do álbum reflete o momento de calmaria que atualmente impera entre eles. Impossible Germany é uma das melhores composições de Tweedy desde Jesus, etc. E a forma com que eles atingiram o equilíbrio dos rompantes progressivos e o verniz country salta aos ouvidos.
Queens Of The Stone Age - Era Vulgaris – Porque Josh Homme é Deus!

Leonardo Dias (SP) – Urbanaque.com.br



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É isso, depois tem mais. Feliz ano que vem procê!

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Ei, Eu Sei Que Música É Essa!

Make Up and Dream


Só agora fui dar moral pro It Won’t Be Sonn Before Long, o último disco do Maroon 5, lançado no semestre passado. O grupo liderado pelo cantor/guitarrista Adam Levine padece de uma fama meio suspeita, que os aproxima demais daquelas bobagens de apenas um verão. Mas a aparente fugacidade das canções de três minutos do quinteto esconde uma peçonha soul de eriçar seu black power, se é que você me entende.


Quem não se lembra de imediato, e sacode pelo menos o pescoço (batendo o pezinho), quando Hard to Breathe ou This Love explode nas caixas de som? Qualquer uma delas. Onde está essa efemeridade toda, se metade de Songs About Jane – o primeiro disco - chacoalha pistas de dança de todo o ocidente há mais de cinco anos?


It Won’t Be Sonn Before Long não traz nenhuma ruptura, nem passa perto de grandes experimentos, é só mais daquele poppy-soul branquelo muito bem maquiado de sempre. Aliás, novidade não é bem a praia do Maroon 5 (a começar pelo nome), e você se daria bem se explicasse pra sua namorada nova, que eles soam como o Jamiroquai, mas com uma porção extra de açúcar-de-estúdio, e uns gravões R&B pra testosteronizar um pouco a coisa.


Tudo bem que os garotos também se derretam em baladas doloridas, e aí se processam como um resultado esquisito de uma cópula bizarra entre o enternecido Coldplay e toda aquela sensualidade da Motown do fim dos anos setenta.


Isso quando não cismam de imitar o Police, em Want Go Home, Can’t Stop e Not Falling, e incrivelmente conseguem se dar bem. Ou quando fazem seu lado mais cafona (aquele que gosta de Keane e escutava rádio nos anos oitenta) emergir sem aviso e te pegar de jeito em Goodnight Good.


Kiwi te lembra que esse é mesmo um disco do Maroon 5, enquanto Better That We Break resgata o lado mais soul dos Jacksons Five. Mas pra despedida, os quatro rapazes investiram num R&B muito bem-comportado e sem veneno algum, Infatuation, dando a impressão de que o disco poderia, muito bem, ter acabado na faixa treze e dispensado uma quase-diabetes, no final.





# Make Up and Dream, debut do Johnny Suxxx & The Fucking Boys, não quer saber de reinventar a roda: enfileira riffs “roubados”, abusa de clichês e chavões sem nenhuma cerimônia, ensaia uma pose de rockstar-terceiro-mundista cheia de um glamour com prazo de validade vencido, e, justamente por isso tudo, consegue um resultado dos mais divertidos.


# # Se você ainda não deitou seus ouvidos sobre os rocks barulhentos desse disquinho, chegou a hora. O grupo colocou no ar um site construído exclusivamente para o vosso download, onde dá para baixar todas as canções do álbum. Pois então, clicando aqui, você chega lá e pode adquirir, tanto as músicas, quanto o encarte, e assim produzir você mesmo a sua cópia de Make Up and Dream. Bota fé?



# Umas duas semanas atrás, lá no Rock Lab, estúdio em que o trio cuiabano Macaco Bong gravava seu primeiro disco (vizinho à casa do blogueiro aqui), o Gustavo Vasquez – dono do lugar e produtor do álbum, revelou a verdadeira identidade do novaiorquino Ian Williams, guitarrista e tecladista do Battles (que rasgou entendimentos no último Goiânia Noise).


# # Acredito que a grande maioria dos leitores que acompanham o Goiânia Rock News já deve ter assistido (ou, no mínimo, ouvido falar) ao Alta Fidelidade, o filme. É, esse mesmo, que o diretor Stephen Frears e o “co-patrão” John Cusack pegaram emprestado do texto britânico do Nick Hornby e adaptaram para a Chicago dos anos noventa, onde um obcecado por música (como eu e você), viciado em listas de cinco melhores e colecionador de relacionamentos desfeitos (como eu e você) tenta administrar sua vida, em meio a amigos idiotas e uma loja de discos.


# # # Pois é, lembra aquela cena em que nosso protagonista, o Rob Gordon (John Cusack), diante de sua loja cheia, num sábado, profetiza: “Vou vender cinco cópias de 'The Three EPs', da Beta Band, agora!”, e coloca o disco para tocar na vitrola. Um travelling pela loja mostra quase todos os compenetrados clientes levantando a cabeça repentinamente, com cara de ei-eu-sei-que-música-é-essa! e, em seguida, abrem um sorriso balançando o pescoço, satisfeitos.


# # # # Então, tudo isso pra dizer que um daqueles compradores de disco que aparecem por um segundo ou dois (em duas horas de filme), é o Ian Williams, o guitarrista esquizo que você viu em ação no palco principal do Goiânia Noise, pouco antes de o Mundo Livre S/A e o Sepultura acabarem com tudo. Aproveite a informação da melhor forma possível.


Salve Gustavo Vasquez, o Mestre das Conexões.



E os ganhadores da Promoção de Natal são:


* Um ingresso para os shows de Forgotten Boys e Envy Hearts - Isabela de Souza Verri


* Dois discos da Olhodepeixe, Combustível - Felipe Lyra Chaves e Daniel Henrique Dias oliveira


* King Size, o primeiro álbum dos Rockefellers - Pietro Bottura Gonçalves



** Os ganhadores já foram avisados por e-mail e poderão resgatar seus prêmios no setor Sul, próximo à praça do Cruzeiro.





Daqui a pouco eu volto, pra comentar os melhores discos do ano segundo você, leitor amigo. E também pra falar da Sofun Hits, compilação do coletivo de Design e Rock n’ Roll, que tem um encartezinho caprichado e um track list respeitável (apesar de alguns pesares, depois te conto). Vou botar um disquinho desses pra sorteio, mas daqui a pouco.

Tchau procê

segunda-feira, dezembro 17, 2007

A Redenção do Violins

Foto: Thiago Ricco


Prestes a lançar o segundo álbum em menos de um ano, o Violins falou com o Goiânia Rock News no intervalo da gravação dos vocais, depois de uma atenciosa audição do que já havia sido registrado do disco, batizado A Redenção dos Corpos, lá no Rock Lab Studio. Siga as letrinhas e descubra por que o Violins não se cansa:



Logo que o Tribunal Surdo foi lançado, vocês já anunciaram um outro disco, inicialmente chamado de A Redenção dos Porcos. As músicas desse disco já estavam prontas, ou pelo menos esboçadas, nessa época?
Beto Cupertino – Não. Era uma vontade, na verdade, as músicas não estavam prontas ainda. Quando lançamos o Tribunal Surdo, a gente falou assim: vamos lançar mais dois discos no próximo ano? (risos) Devia ter uma ou duas músicas prontas só, pouca coisa. Passamos dois mil e sete fazendo shows do Tribunal Surdo, e agora no fim do ano a gente parou para fazer os arranjos, e começar a ensaiar as músicas e gravar. A gente só não fez um pouco antes por que estávamos dependendo de uma grana que não saía nunca, né Thiago (risos), Mas agora as coisas melhoraram.


Esse é o segundo disco com o Thiago Ricco no baixo...
Beto – É, é o segundo, mas é o primeiro em que ele está muito à vontade.
Thiago Ricco – No Tribunal Surdo eu ainda estava conhecendo o pessoal né? Pensava: será que eu posso arranjar desse jeito? Ou não? Não, não, melhor não, vai parecer muito exibido... (risos), essas coisas assim. Esse disco agora eu fiz muito tranqüilo, muito em casa mesmo.
Beto – Acho que ele fez os baixos um pouco mais tímidos, contidos, com medo de colocar uma coisa aqui e ali, e a gente não se conhecia muito bem ainda, mas agora a gente até já transa... (risos)
Thiago – Mas não me arrependo de nada, hoje eu toco a mesma coisa que eu gravei.


Da última vez que entrevistei o Violins, no final do ano passado, depois do fim das gravações do Tribunal Surdo, vocês conceituaram verbalmente cada disco. O Wake Up and Dream era “A Busca pela Beleza”, o Aurora Prisma também, mas dentro de um cenário “Onírico-Romântico”, o Grandes Infiéis (além do conceito óbvio da infidelidade) era a Intensidade, e o Tribunal Surdo “A Arte do Patético”. E agora?
Pierre Alcanfor – É um retorno ao Aurora Prisma, um retorno à melodia. Mas não é um disco romântico.
Beto – Não tem nenhuma música de amor no disco, as letras seguem uma tendência não-romântica, meio realista. Mas é baseado em melodias, remonta às nossas paixões por melodias. É um disco que fala sobre humanidade. Não no sentido de A Humanidade, Os Homens, é mais no sentido de humanidade como sentimento. A Redenção dos Corpos quer dizer a redenção de quem está pisando na terra, do material... É difícil ficar falando sobre isso. Mas acho que é a idéia do estar aqui e agora, e sentir isso, ou aquilo, sem dizer se é certo ou errado. É humano. É um disco sobre libertação terrena. Acho que é isso.


E por que a mudança do nome, que inicialmente era A Redenção dos Porcos?
Beto – N’A Redenção dos Porcos a visão era quase a mesma, mas com uma veia crítica. E A Redenção dos Corpos, em vez de criticar, virou pra si.
Pierre – É que com A Redenção dos Porcos, tinha uma coisa de julgamento...
Beto – É, e em vez de julgar, é a redenção do que se é. E só, sem pretensão nenhuma de fazer juízo de valor.


Durante a gravação do último disco, no ano passado, vocês disseram que estavam escutando coisas como Nine Inch Nails, Deftones, ainda que nada disso se refletisse no resultado. E agora?
Beto – Eu tenho escutado muita coisa de bandas independentes brasileiras. Gosto muito de Terminal Guadalupe, de Ludovic, de Udora...


Foto: Pedro Saddi

Gostou desse novo do Udora, o Goodbye Alô?
Beto – Gostei. Não gostei tanto quanto eu gostei do Liberty Square, até mesmo a fase Diesel. Mas achei legal, é um disco pra quem gosta de pop. Como eu gosto de pop, gostei do disco, mas entendo quem não gostou. Estava ouvindo o novo do Radiohead também, achando mais ou menos. Eu sempre comparo [discos do Radiohead] com o Ok Computer, e achei esse meio assim... Não me tocou, eu ouvi poucas vezes e isso é um mal sinal.
Thiago – Um disco que eu estou ouvindo agora é o Fome de Tudo, novo da Nação Zumbi, e estou babando!
Beto – Ah, e eu descobri o Cordel do Fogo Encantado no Goiânia Noise, e quase caguei nas calças. Eu chorei no show, o texto, o palco, a interpretação do cara, a banda. Achei tudo muito foda. Sem lógica, sem lógica!
Pierre – É, Cordel do Fogo Encantado foi uma grande novidade!


Vocês vão decepcionar os indies goianos...
Beto – Eu tô pouco me fudendo pros indies goianos! (risos gerais) Estava ouvindo o Transfiguração [último disco do Cordel], e achei muito foda mesmo!


Tem uma parcela do público rock que ama odiar o Cordel...
Beto – É, isso é engraçado. No Noise, os shows que eu achei mais brilhantes foram, normalmente, aqueles que as pessoas acharam ruins. Pra mim o melhor show do Noise foi o do Cordel do Fogo Encantado. Agora quanto aos piores, eu não vou ser antipático e ficar falando não.
Pierre – Eu ando ouvindo muito pouca música, mas continuo arriscando uma coisinha de jazz, pra conhecer mais, por que conheço muito pouco. Tem sido um universinho novo. John Coltrane, Bill Evans... eu cansei daquela sonoridade do rock, daquele indiezinho.


E o próximo disco?
Pierre – Espero que demore um pouquinho. (risos) Eu não tenho memória pra isso tudo não.
Beto – Agora em janeiro eu vou entrar em recesso, provavelmente vou compor ele todinho! Aí eu jogo em cima deles e fico enchendo o saco. (mais risos) Um disco tem a validade de um ano, depois desse tempo fico cansado. Já estou meio cansado do Tribunal Surdo, mas ainda consigo tocar. Mas o ano que vem todo não. É uma doença minha.
Pierre – O negócio é a repetição, o cuidado em lançar discos tão perto um do outro tem que ser aí.
Beto – É, se a gente está cansado do Tribunal Surdo, o negócio é fazer outra coisa, não dá pra repetir. Mas, no fim das contas, é só frescura mesmo. (risos gerais)



A promoção de natal continua valendo. Vai ali na caixa de comentários e deixa anotado lá quais foram, pra você, os melhores discos de dois mil e sete, junto com seu nome e um e-mail válido. Quem responder pode levar pra casa:


* Um ingresso para ver os Forgotten Boys e o Envy Hearts no Bolshoi Pub, na próxima quinta feira.

* O disco de estréia da Olhodepeixe, o ótimo Combustível.

* Ou King Size, o primeiro dos Rockefellers, que prometem novidade para o começo do ano que vem.


Corra o risco.



Tchau


quarta-feira, dezembro 12, 2007

Ovações de Puro Prazer...

Motosierra
Foto: Anderson Brito


Goiânia Noise Festival


No último dia de Goiânia Noise Festival, o Sepultura roubou a cena dos indies e fez uma dobradinha metaleira das mais prestigiadas com o Spiritual Carnage, que havia estremecido a massa negra de madeixas sacolejantes diante do palco menor, um pouco antes.


Já a rodada dupla instrumental de Macaco Bong e Pata de Elefante impressionou até mesmo o impressionante pessoal do Battles. Primeiro o trio cuiabano Macaco Bong, guiado pela guitarra melodista e imprevisível de Bruno Kayapy, concentrou a atenção do teatro cheio, num transe hipnótico entrecortado por ovações de puro prazer – ainda que o som/acústica não ajudasse.


Depois de um curto intervalo, a porto-alegrense Pata de Elefante transformou a atmosfera densa e noturna, instaurada pelos mato-grossenses, em um arco-íris psicodélico de fortes cores sessentistas, e manteve a lotação da imensa cúpula de concreto em êxtase dançarino e sorridente durante outra adorável meia-hora.


Nunca tinha visto o Perfect Violence em ação, ainda que já tivesse ensaiado assisti-los algumas vezes, o que acabou acontecendo somente no Noise. Eles são um quarteto interessado naquele crossover de metal e hardcore que deu tantas boas crias nos anos noventa, tipo o Biohazard e o Sick Of It All, mas se pretendem mais violentos e rápidos que seus precursores, e cuspiram isso em um set acelerado e divertido, sem nada daquele discurso classista chato, tão comum ao gênero.



Pata de Elefante
Foto: Anderson Brito


O Black Drawing Chalks fez um dos melhores discos do rock independente nacional em dois mil e oito e, apesar de uns shows meia-bomba no currículo (quem não os tem?), já pode dizer que tem um público seu, que conhece as músicas, balança a cabeça no ritmo certo e sabe quando levantar os punhos. Lá no Goiânia Noise eles foram quase perfeitos, cadenciando cada vez mais seu frenetismo veloz e grave, arranjado em meio a uma lascívia garageira cheia das melhores más intenções.


Depois deles os Rollin Chamas se ocuparam da arena maior, enquanto eu conseguia comprar algumas cervejas, outro hambúrguer empanado, e parar para folhear a revista Coquetel Molotov, prima-irmã do site recifense.


Pouco depois do meu intervalo tosco-food, a paulista The Name levou todo o seu romantismo lúgubre e sombrio ao palco dois, num momento goth-pop que animou os trintões nostálgicos e pôs pra dançar os jovens moderninhos interessados nos anos oitenta. Depois de deixar a apresentação confusa e estranha dos também paulistas Ecos Falsos pra lá, acabei perdendo também quase tudo do Damn Laser Vampires, que já era falado por aqui há um tempão, mas que pra mim continua um mistério.


Lá quase no fim da noite, momentos antes da esperadíssima apresentação do Battles – grupo liderado por John Stanier, ex-baterista do Helmet –, eu já havia escolhido um lugar legal, junto com pessoas legais, para assistir aos nova-iorquinos desconstruírem o samba. Mas logo depois que os quinze primeiros minutos de minimalismo instrumental preciso e radicalizado se passaram, fui achado pelo rádio e tive que, dolorosamente, deixar a anfiteatro e ir atender ao chamado do backstage.


“O negócio é que o Sepultura ou dá entrevista agora, ou não dá mais!”, me explicaram lá atrás. E o pior é que a esse coro se juntou a produtora do Mundo Livre S/A, e como eu estava atuando como entrevistador na confecção de um vídeo-documentário sobre o décimo-terceiro Goiânia Noise, não pude desobedecer aos rigores cronometrados dos artistas maiores.


Isso significou que quando consegui voltar para o lugar que eu havia escolhido para passar a última meia-hora ao lado daquelas pessoas legais, ele já estava vazio. Ou melhor, cheio de outras pessoas, que até poderiam ser legais, mas o Battles também já havia desaparecido do palco, e eu precisava correr atrás deles para um bate-papo gravado.


Quando o grupo uruguaio Motosierra se instalou no palco dois, a chuva desabou com vontade. Pareceu uma combinação dos hermanos com as nuvens negras, por que a água torrencial que caía empurrou a multidão para bem perto do palco, e o garage-punk perigoso, irritado e em altíssimo volume do quarteto enlouqueceu a multidão apertada, que reagia com selvageria a cada trejeito provocativo do vocalista Markus Motosierra.



Sepultura
Foto: Anderson Brito


Se na hora das entrevistas, lá atrás, Fred ZeroQuatro já estava enterrando o pé-na-jaca, na hora do show o líder do Mundo Livre S/A deu vazão à embriagues, num monumento entorpecido à uma espécie de punk tropical: cínico e rebelde, mas também alegre e cheio de rebolado.


Pelo menos foi o que deu pra ver nos nove ou dez minutos que dei conta de acompanhar, antes de ser arrastado para longe do palco.


Depois foi o Sepultura, num show muito melhor do que o que eu vi no último Porão do Rock, em Brasília, meses atrás. Diante de um teatro entupido de humanos, o grupo disparou desde clássicos absolutos como Dead Embrionic Cells, Beneath the Remains/Escape to the Void e Arise, e percorreu todas as fases pós-Max Cavalera, com Boycott, Sepulnation e Bullet the Blue Sky (cover do U2), numa apresentação perfeita em praticamente todos os aspectos.


O apavorante jogo das luzes com a violência das canções, a apresentação do baterista novo – o impecável Jean Dolabella, a interação insana que a platéia forçou até o limite, a resposta da banda com sua versão de Polícia, dos Titãs, enfim, tudo conjurou para que a festa dos indies fosse regida pela grandiosidade furiosa de uma das maiores bandas de metal em atividade.


Se o programa é de indie, chama o Sepultura que eles resolvem seu problema.



Filomedusa


* Compacto Rec

(Retirado do Blog)

A mais nova banda selecionada para o Compacto.Rec é o Filomedusa, de Rio Branco(AC), escolhida da seguinte maneira: os produtores de conteúdo que fazem parte do Compacto.Rec – primeiro projeto de distribuição do Circuito Fora do Eixo – fizeram uma série de reuniões online, através das quais apresentaram uns aos outros o que de melhor rolava na cena em seus respectivos estados. A partir das seleções regionais, foi formada uma seleção final com uma banda de Goiânia, uma de São Paulo, e o Filomedusa, eleita quase que por unanimidade.

Saiba mais sobre o Filomedusa, nas palavras de quem conhece a banda de perto (texto também disponível no myspace da banda), e adquira o single do grupo acreano clicando aí embaixo.



* Bat Caverna.mp3


* Morte em Vida.mp3


* Your Colour Dream.mp3


* Encarte Single



# E os premiados da última promoção são os seguintes:


* Raphael Araújo – CD/DVD de A Marcha dos Invisíveis, da curitibana Terminal Guadalupe

* Marcela Guimarães – CD Oficial Abril pro Rock dois mil e oito

* Filipe Silva de Paula – Revista Outracoisa (novembro), com cd do décimo terceiro Goiânia Noise Festival Encartado.


Todos eles já receberam um e-mail confirmando sua sorte, e poderão pegar seus prêmios direto na mão do blogueiro aqui.




OS MELHORES DO ANO E A PROMOÇÃO DE NATAL


Quais foram os melhores discos de dois mil e sete? Valendo os independentes, os dependentes, os indies, os punks, os heavies e até os emos, quais foram pra você, amigo leitor, os melhores discos lançados nesse ano que se despede?


Quem responder ali na caixa de comentários, anotando também o nome completo e um e-mail válido, corre o risco de ganhar:


* Um ingresso para o show dos Forgotten Boys e do Envy Hearts no Bolshoi, dia vinte de dezembro.


* O primeiro disco da Olhodepeixe, Combustível, uma mistura personal de Faith No More com Nação Zumbi, fundida sob a ótica sensível das pop-songs.


* A estréia em disco dos Rockefellers, King Size, que espera um sucessor para o começo de dois mil e oito.


AUMENTE SUAS CHANCES, PEÇA QUANTAS VEZES QUISER!





Beijo procê


sexta-feira, dezembro 07, 2007

A Dureza e a Doçura

Ynaiã - Macaco Bong


# Macaco Bong, o trio de rock mais legal do país nesses últimos tempos, se despediu de Goiânia hoje pela manhã, depois de finalizar a gravação de seu primeiro disco cheio, lá na casa do Gustavo Vasquez, o Rock Lab Studio. Como você bem sabe, leitor vigilante, estive lá acompanhando as sessões da gravina durante toda a última semana, e aposto fácil se esse não será o grande disco do rock independente brasileiro em dois mil e oito. Gravei um papo com a “gurizada” às quatro da matina de hoje, depois de ouvir pela primeira (e segunda) vez(es) a pré-produção do disco, em silêncio e observando o máximo de tudo. Siga a ponderação sonolenta abaixo e avalie as primeiras impressões do Bruno Kayapy (guitarra), e Ney Hugo (baixo) sobre sua cria recém-nascida:


Kayapy – Ficou do jeito que a gente queria, desde os timbres, até a estética do trabalho em si, com a colaboração técnica e musical do Gustavo, ficou do caralho! Vou voltar aqui em Goiânia entre o natal e reveillon, pra finalizar esse material, junto com o Gustavo.


Ney – Cara, o Gustavo foi muito importante por causa da experiência que ele tem, fez gente ganhar tempo. Sozinho a gente demoraria muito para descobrir certas coisas, mas ele conhece uns atalhos, de maneira que a gente falava onde queria ir, e ele sabia como chegar. E o que ele, talvez, não soubesse, descobriu como. Não é o resultado final esse que a gente escutou, mas já dá pra ter uma idéia de como vai ficar a master. Só tive sensações boas a respeito do que vai ser o resultado final. A perspectiva é de que está vindo coisa boa...


* ** *** ** *


# Atenção Guilherme Aguiar Leal, sinta-se à vontade para chegar, amanhã, lá na bilheteria do Martim Cererê e dizer seu nobre nome para o bilheteiro, explicando que você foi laureado com uma entrada free pelo sorteio do Goiânia Rock News. Divirta-se e volte sempre.


# O show do MqN nesse festival pós-Noise será, inacreditavelmente, sem o Fabrício Nobre, que está para a França e só chega na segunda feira. Não se sabe o que vai acontecer, mas ouvi um papo de jams sessions com diferentes vocalistas de bandas amigas dividindo o microfone. Essa eu quero ver...


# Os outros prêmios ainda podem ser seus, e o resultado do bingo sai na semana que vem. Só pra lembrar: deixando anotado ali na caixa de comentários o seu nome, e-mail e me dizendo qual foi, na sua opinião, o melhor show do Goiânia Noise, corre o risco de eu ter que te entregar um:


· CD/DVD de A Marcha dos Invisíveis, da banda Curitibana Terminal Guadalupe, que recentemente dividiu palco com o Violins, lá no Paraná.


Ou um:


· CD Oficial do Abril pro Rock dois mil e oito:




Diz aí pra mim o que mais te emocionou nos três dias de festival.






Passei rápido mesmo. Já, já eu volto.


terça-feira, dezembro 04, 2007

"O Punk Terceirizado"

Jupiter Maçã, num momento de descontração
Fotos deste post: Anderson Brito


13º Goiânia Noise Festival



Antes de a noite de sábado descer sobre a cidade, os locais do Woolloongabbas iniciaram a segunda noite de festival distribuindo baldes (!) de um destilado pra lá de duvidoso, enquanto, de cima do palco, observavam tudo com a impaciência feliz e juvenil dos empolgados. A música, um amontoado de chavões do rock de outros tempos, não é das melhores, mas o grupo conseguiu – não se sabe se por causa da birita grátis – “conversar” com um público esparso e tímido. Ainda diante palco dois e assistindo ao sol se esconder por entre os prédios, a platéia já mais robusta suportou heroicamente outra apresentação do Control Z, dupla/trio que insiste numa indigesta forçação de barra regionalista, que envolve samplers, guitarras e blips & tóins, com música caipira.



No palco principal a Valentina se despedia dos holofotes, diante de um teatro imenso e quase vazio, celebrando seu fim anunciado sem glamour nenhum, pouco antes de eu deixar pra lá o show do Stuart, já que precisava antecipar um papo com o Cordel do Fogo Encantado, que marcava bobeira no camarim.



Quando a carioca Pelvs subiu no tablado charmoso do Palácio da Música eu já estava a postos, pronto para conferir cada nota daquela que, para mim, era uma das apresentações mais esperadas da noite. Muita gente concordou, involuntariamente, comigo e ocupou quase toda a arena em frente ao sexteto. A postura shoegazer olhos-no-tênis ainda é a mesma, a intensidade instrumental delicada e autocomiserativa também, tudo coberto com aquela atmosfera lo-fi tão pouco compreendida pelos músicos mais, ahm, ortodoxos. Passeando rapidamente pela sua curta – porém altamente regular – discografia, a Pelvs só pecou em não incluir no set list a incrível Tupiguarani, melhor canção do último disco, Anotherspot, e que só rolou durante a passagem de som.



Depois que o Sangue Seco desarmou os moicanos e desceu sua fúria de “punk terceirizado” do palco um, o Kassin + 2 pôde exibir sua receita precisa de suíngue cerebral, que rapidamente me convenceu a procurar por um pouco de ar fresco, lá fora.



No pátio enorme, além do stand onde se podia praticar um pouco de Guitar Hero (o joguinho que virou febre em festivais de rock), da lanchonete do hamburguer empanado e da loja da Monstro Discos, dava pra assistir ao Gustavo Vasquez – que montou uma unidade móvel do Rock Lab Studio lá –, gravar um monte de bandas legais, durante o festival. A Pata de Elefante, inclusive, registrou uma música inédita, de nome Under Wah Wah, além de Marta, que vem no incrível disco novo (já ouviu?).



O duo chileno Perrosky, ganhou muitos aplausos e comentários, com seu folk elétrico tosquinho e lamuriante, entoado suavemente com guitarra, bateria, gaita e as palminhas alegres do amontoado de gente curiosa que se espremia diante do palco dois.




Korzus



Os Mechanics se associaram ao Grupo Empreza para o show do Noise, e o choque das performances provocativas do coletivo fundado na Faculdade de Artes Visuais da UFG garantiram a participação barulhenta e convulsiva da multidão. No começo, o Babidu e o Tiago Pezão tomaram a dianteira do espetáculo e, de frente um para o outro, se esbofetearam no rosto com violência premeditada, enquanto a banda fazia de sua música a trilha sonora para o espanto coletivo. No fim, o Babidu volta acompanhado do Keith Richards (esse, não aquele), que oferece seus cabelos longos para o colega, que calmamente engole (é isso mesmo) seu rabo-de-cavalo, provocando uma euforia nauseabunda nas centenas de humanos que acompanhavam, abismados, a cena bizarra.



Lá no outro palco, o Motherfish (que está prestes a lançar disco novo) foi de arroz com feijão e se deu bem. Não deu pra acompanhar toda a meia hora que a banda gastou pra arranjar mais alguns fãs, movimentando o pessoal com seu pop barulhento e bonitinho, mas deu pra ver que alguns casais dançavam juntinhos, abraçados de frente para o palco, no momento mais romântico desse Goiânia Noise.



Depois que a ternura indie se desfez, o tablado principal foi ocupado pelo Korzus, que acabou com qualquer lirismo romanesco aumentando o volume das guitarras em clássicos acelerados da categoria de Mass Illusion, Pay of Your Lies, Internally e Correria, entre tantos outros, num aquecimento heavy metal para o domingo, que prometia Spiritual Carnage e Sepultura. Também prejudicado pelo som/acústica do teatro maiúsculo, os velhos metaleiros paulistanos se despediram da multidão extasiada de camisetas pretas com o hino sanguinolento Reign In Blood, dos eternos mestres do Slayer.


Grupo Empreza na hora do almoço



Fazendo uma dobradinha bestial, o Mukeka di Rato rodopiou a molecada no palco menor, enquanto eu tentava estabelecer um diálogo minimamente inteligível com um “avoado” Júpiter Maçã, que insistia em responder perguntas simples (do tipo: você se lembra da primeira vez que tocou em Goiânia?), com evasivas pra lá de psicodélicas (do tipo: “Hummm... Eu diria que não... mas masturbem-se”).


Eu hein.



Na vez dele se apossar do palco, eu estava atarantado e um tanto impressionado (hehehe), correndo pra lá e pra cá, atrás de um e de outro, mas descobri depois que uma fã mais “assanhada” subiu no picadeiro e se dedicou a lamber, com a devoção típica das groupies, o corpo do gaúcho incentivador do onanismo. Tem gosto pra tudo...



Depois que todas as guitarras – joviais e alegrinhas ou carrancudas e hostis – se calaram, os tambores de acrílico e toda a memória contemporânea do Cordel do Fogo Encantado invadiram a arena lotada. O quarteto, já faz um tempinho, tenta descolar sua imagem daquilo que muita gente otária chama de “pesquisa musical” ou “resgate cultural” da tradição, confundindo criação artística com a manutenção estática (“zoológica” e burra) de certas manifestações populares. O Guti, produtor do festival Rec Beat (lá de Recife) e que também gerencia a carreira do Cordel, já havia dissertado sobre essa postura anti-tradicionalesca de "seus" meninos, num papo gravado mais cedo, depois confirmado quando os próprios me garantiram que estão interessados em criar, e não em repetir.



Já o espetáculo foi, para ser comedido nos elogios, brilhante. Confesso que estava meio ressabiado com esse show, julgando minha paciência muito curta para os mesmos tremelês batuqueiros que tanto haviam me impressionado anos atrás, mas que já não pareciam ter o mesmo apelo depois de três discos. Porém, já nos primeiros baticuns, o soar frenético e pesado do violão e a metralhadora rítmica poderosíssima dos tambores desfizeram as rugas na minha testa e arrancaram um sorriso de canto de boca dos meus lábios.



Misturando aleatoriamente canções de todas as fases de sua carreira curta e explosiva, Lirinha e seus quatro amigos obrigaram a massa ao movimento, num ribombar cardíaco que impedia a não-reação. Todo mundo que estava presente sacudia, tímida ou espalhafatosamente, alguma partezinha do corpo, num transe percussivo que marcou nessa edição do festival (que dava pistas de um insuspeito ecletismo já há algum tempo), a despedida total de qualquer espécie de sectarismo roqueiro desinteligente. Até o Dick Siebert, baixista barbudo do Korzus, disse para o blogueiro aqui que estava curioso para ver o Cordel, depois de tanto ouvir falar do peso da banda ao vivo.


Seja Bem-Vindo!



Se ele gostou? Não tive como perguntar, ele sumiu depois do show. O que você acha?






* ** *** ** *



# O MqN lança em breve, num compacto em vinil colorido dividido com os Forgotten Boys, Breakin’ Crystal Stones, um funkão de guitarras, duro, lúbrico e perfeito para as pistas de dança. A música é de autoria do baixista Gustavo Vasquez, e foi registrada lá no Rock Lab Studio.



# # Falando em MqN, o quarteto já está confirmado no line up da edição dois mil e oito do internacionalíssimo South By SouthWest, festival texano realizado anualmente e espalhado por bares e pubs de Austin. A partir desse show, o grupo espera engatar uma pequena turnê pelos Estados Unidos. Nesse mesmo festival já tocaram conjuntos brasileiros de respeito, como o mineiro (e desaparecido) Valv e o paulistano Debate. Cogita-se a presença, em dois mil e oito, também do Mundo Livre S/A e da dupla electro brasiliense Lucy and the Popsonics, que tem bombado pistas de clubs moderninhos pelo Brasil.




# O Macaco Bong, trio mais power do centro oeste, ainda está enfurnado nas dependências aconchegantes do Rock Lab Studio, terminando de registrar aquele que será sua estréia oficial em disco. Ontem, segunda feira, o Ney Hugo começou a gravar os contra-baixos, inaugurando a reta final do processo de captação. Na quinta feira o grupo deve embarcar para Curitiba, onde divide o palco com a Terminal Guadalupe, antes de dispensar um show em São Paulo (na festa do vizinho Urbanaque) e voltar para casa, em Cuiabá.



# # Depois do Natal, porém, o guitarrista Bruno Kaiapy retorna è Goiânia para acompanhar as mixagens, ao lado do Gustavo Vasquez – produtor da bolacha. Como disse ali atrás, esse disco já ganhou autoridade nas futuras listas de melhores lançamentos do ano que vem, e deve abiscoitar uma das posições mais nobres.



# # # Resta ao resto correr atrás...






PROMOÇÃO RELÂMPAGO: Quer ver seu nome na lista VIP do ROCK PELO CERERÊ, e assistir, na faixa, ao MqN, Maldita (RJ), InBleeding, Mechanics, Obesos, Goldfish Memories, Desastre e Jhonny Suxxx & The Fucking Boys? Pois então deixe anotado ali na caixa de comentários o seu nome, um e-mail válido e me diga qual foi, na sua opinião, o melhor show do Goiânia Noise.

Agora se você preferir levar pra casa o recém lançado cd/dvd de A Marcha dos Invisíveis, da curitibana Terminal Guadalupe, ou o disquinho oficial do Abril pro Rock 2008 (Rebeca Matta, The Palyboys, Valentina, Mechanics, Marky Ramone & Tequila Baby, RDP, Sepultura, Korzus, and more), ou ainda a edição de novembro da revista Outracoisa (especial Goiânia), com o cedê do Goiânia Noise encartado, é só seguir os mesmos passos, indicando qual deles você deseja.


Aumente suas chances, peça quantas vezes quiser!


O resultado sai na sexta feira, dia 7, véspera do ROCK PELO CERERÊ.




Daqui a pouco eu volto e digo o que a Bruna, lá do Beradeiros, me contou do principal festival de
rock de Rondônia.




Tchau

sábado, dezembro 01, 2007

Sob Um Céu Rosado...

Móveis Coloniais de Acaju regendo a multidão
(Fotos GNF:
Nateia)



Décimo Terceiro Goiânia Noise Festival


Na sexta feira, com o dia ainda claro, o Mugo deu start nos trabalhos dessa décima terceira edição do Goiânia Noise Festival. O grupo, que nem comemorou seu primeiro aniversário ainda, não teve trabalho para aglomerar a platéia dispersa pelo pátio do centro cultural Oscar Niemeyer. Re-processando os mesmos clichês que garantiram tantas bandas descartáveis no fim do século passado, o quarteto consegue cavar uma personalidade própria em meio às guitarras pesadíssimas e alternância de melodias pop com explosões de gritaria.


O Seven ocupou o palco sob um céu róseo, manchado pelos últimos raios do sol que se ia, e observado pelo esplendor da lua que nascia, redonda e imponente. O ex-trio agora incorporou um quarto integrante, que cria programações, tece texturas e filigranas eletrônicas num lap-top, somando contemporaneidade à lisergia instrumental. Numa viagem anacrônica – e livre de etiquetas –, pelo psicodelismo, o conjunto embaralhou as sinapses de quem tentava condensar em uma ou duas palavras a música que escapava de seus instrumentos.


Para inaugurar o palco principal, o Barfly bem que tentou ajuntar, no gargarejo, a multidão que se espalhava pelo Palácio da Música. Mas seus ecos alternativos oitentistas e compleição indie moderninha, não seduziram mais do que os amigos, e esses não conseguiram fazer volume na imensidão do teatro acarpetado. Voltando ao palco dois, o Diego de Moraes arregimentou, além dos óbvios amigos e fãs, todo mundo que passeava por ali. A lírica corrosiva e coloquial do rapaz cada vez chama mais a atenção e ganha mais admiradores. Dessa vez ninguém menos que o Miranda (é, aquele gaúcho grisalho, jurado do Ídolos, mesmo) garantiu ter gostado muito do show do rapaz, quando eu perguntei, perto do fim da festa, o que ele destacava dentre as atrações do festival.


O Superguidis foi o primeiro grande prejudicado pelos problemas do palco um. No Goiânia Noise do ano passado, problemas com o som desse palco acompanharam os três dias de festa, e esse ano, outra vez, não faltaram em nenhum.


Irritado com a apresentação da menina dos olhos do Senhor F Discos, Fernando Rosa protestou dizendo, com raiva, que esse show seria apagado da biografia da banda.


Depois da carioca Cooper Cobras experimentar o público goiano, no palco dois, o Violins se ocupou das atenções do palco um, diante de uma arena quase cheia. Prestes a entrar em estúdio para gravar o sucessor do recente Tribunal Surdo, intitulado A Redenção dos Corpos, Beto Cupertino protagonizou o primeiro momento de comoção coletiva, ainda que contida, do festival.





Sem as calças, mas com vontade...


Os Haxixins vieram de São Paulo e desfilaram seus terninhos e cortes de cabelo longe do alcance dos meus ouvidos, e os Sick Sick Sinners fizeram sucesso com a avacalhação psychobilly do novo bando dos ex-Catalépticos, Vlad e Coxinha.


Já o MqN quase passa vexame. Pouco antes do show dos donos da festa começar, Fabrício Nobre, o vocalista invocado, descobriu que seu figurino estava incompleto. Esquecera justamente a calça que acompanharia a estréia da bota recém-engraxada, que brilhava de novidade num canto do camarim. Quase em desespero Fabrício aciona sua produção, que para cumprir sua tarefa arranca as calças do pobre Diogo Martins, amigo deste blog e assessor fonográfico da Monstro Discos.


Uma vez em cima do palco, Fabrício Nobre regeu a balbúrdia de sempre (atrapalhada, como quase todos os shows anteriores, pelos já conhecidos problemas no som), só que dessa vez com mais gente e bem mais resposta do público que se acostumava com o frio do ar-condicionado.

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O Móveis Coloniais de Acaju, hoje, talvez seja o maior fenômeno indie do país, e o teatro lotado e espremido não deixou muito espaço para dúvidas. A reação do público é mainstream, diante da big band candanga. O alvoroço coletivo ensaiado que reage ao mínimo aceno, e a entrega extasiada que cada um faz questão de demonstrar no sorriso largo e suado, são o melhor resultado que os brasilienses jamais poderiam esperar. Mas, pelo jeito, isso ainda não é tudo...




Rubin e Los Subtitulados: Indie Mercosul


O argentino Rubin e seus Los Subtitulados fizeram a festa dos nerds, encarnando aquela tristeza pop que tão bem caracteriza a primeira metade dos anos noventa. Na seqüência final da noite, os DT’s, atual grupo do mesmo Dave Crider que administra o cultuado Estrus Records, e que esteve em Goiânia com o Watts, em dois mil e qualquer coisa, jorraram litros de suor “geriátrico”.


Dessa vez acompanhado de Diana Young, que estalou tímpanos com seu timbre de voz poderosamente agudo, o guitarrista gastou seus sessenta minutos de palco com sangue. Dave Crider, do alto de seus sabe-se-lá quantos anos, domina o espetáculo com um vigor adolescente, percorrendo frenético toda a extensão do tablado do Palácio da Música, enquanto Diana parecia esgotar cada centelha de sua energia vital para conseguir acompanhar seu ritmo, que explodiu em Freedom e April Holeso.


E para dar um fim ao começo, o Pato Fu desembarcou a turnê do disco novo, Daqui pro Futuro, numa esperadíssima primeira vez no Goiânia Noise. Com canções de todas as fases da carreira, o grupo mineiro jogou para a torcida, e com o jogo ganho. Apesar dos pedidos desesperados de Pinga, canção que, a Fernanda Takai me garantiu em entrevista, a banda não toca mais por quê não gosta de tocar, a arena lotada respondia empolgada ao menor sinal de John, que sorria por que parecia bastante satisfeito com o feedback que vinha da platéia.

Capetão fez a figura meiga e doce da Fernanda Takai encarnar a “voz do mal”, além de encantar os milhares com a nova e terna Mamã Papá, sua versão para Eu (do Graforréia Xilarmônica) e Toda Cura Para Todo Mal, que dá nome à obra-prima do casal mais meigo do pop nacional.

Assim que o Pato Fu abandonou o palco, após o Bis, fui dormir mais feliz do que quando havia passado por aqueles portões, mais cedo.

E a coisa toda estava só começando.


Bruno Kaiapy, do Macaco Bong, em gravação
(Foto: Vivian Collichio)


O Macaco Bong, trio cuiabano que fez um dos melhores shows do Goiânia Noise, está gravando seu primeiro disco cheio em Goiânia, como já havia dito para os leitores contumazes disso aqui. As gravinas começaram na terça feira passada, e desde então estou passando os dias no Rock Lab Studio, acompanhando o trabalho dos amigos símios com o Gustavo Vasquez, produtor da bolacha.

Os três primeiros dias foram reservados para o registro das baterias e ontem, sexta feira, começaram a gravar as guitarras. Hoje, sábado, o Macaco Bong toca em Inhumas, cidade vizinha a Goiânia, no Goiaba Rock Festival, ao lado do Johnny Suxxx & the Fucking Boys e do Diego de Moraes, entre outros.


No domingo a banda volta à Goiânia e retorna às gravações até que o processo esteja concluído, coisa que Bruno Kaiapy prevê para quarta feira, dia três de outubro.

Dá pra adiantar que esse disquinho, que estabelece uma conversa franca entre estimulantes viagens erótico-psicodélicas e uma intensidade instrumental das mais agressivas, entra fácil na lista de melhores álbuns do ano que vem. Anota aí.





Vou nessa. Um beijo procê.