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A décima sétima edição do Goiânia Noise se espremeu de improviso nas dependências do Sol Music Hall, espaço que substituiu as amplas instalações do Centro Cultural Oscar Niemeyer - consagrado pela experiência como o lugar ideal para receber o festival. Mas apesar do entrave político que mais uma vez obstruiu o CCON, a festa se adaptou ao caixote de pé direito altíssimo e cumpriu a tabela como pôde.
Uma vez dada a largada, o festival demorou apenas seis trocas de palco para exibir o melhor show da programação: baseada no ska e no reggae festivo, a dupla Peixoto & Maxado foi a primeira atração a incendiar uma plateia já elétrica mas que ainda não lotava o salão. Sucedendo a festa jamaicana o grupo local Space Truck revelou-se como a primeira boa surpresa do line up: tirando o mofo da tradição setentista, o power-trio se faz em cima do limo das guitarras e da personalidade dos vocais. Os noruegueses do BigBang e os rappers angelenos do Delinquent Habits fizeram apresentações protocolares para um público que não estava ciente de seus hits.
Durante o show do Hellbenders, o agora ex-Monstro Discos Fabrício Nobre ostentava os punhos em riste na primeira fila, experimentando a sensação de novamente fazer parte da plateia de um evento que comandou por tantos anos. Depois da apresentação, procurado para gravar uma entrevista a respeito de suas impressões sobre o festival, Fabrício recusou diplomaticamente o convite, prometendo um depoimento “para o Noise do ano que vem”.
Mesmo sem seu membro mais carismáico e sustentando praticamente todo o show em um repertório que não se renova há mais de uma década, o Raimundos ainda move as massas e foi o maior apelo de público da sexta feira. Seguindo o programa, o Cidadão Instigado foi destaque, mas disso eu já falei ali embaixo. Focado nos riffs de guitarra, o Bellrays fechou a noite dispensando a elegância de seus grooves soul, estratégia para agradar ao público essencialmente roqueiro que permaneceu até o fim da festa, mas que escondeu sua faceta mais interessante e provocou saudades da apresentação bem dosada entre peso e suingue que a banda fez em Brasília, quatro anos atrás.
Num comparativo direto, a programação do sábado perdia de goleada para a de sexta. Um público consideravelmente menor e atrações como o blues-rock canastrão do Galo Power ou a ingenuidade experimental do Vida Seca só confirmariam a previsão. Mas nada comparado à constrangedora apresentação do De Falla, que já entrou no palco perdido entre a precariedade instrumental e o exagero performático.
O Violins resumiu seu show na estreita ligação de seu repertório com seu público fiel, enquanto o Claustrofobia reuniu a maior plateia da noite. Já perto do fim, a nova formação que acompanha Siba (que reassumiu a guitarra depois de anos à frente do Mestre Ambrósio e, depois, da Fuloresta do Samba) não chegou a comover a pequena multidão diante do palco secundário, talvez mais interessada na promessa de baile da última atração da noite.
Esperando no camarim para entrar em cena e reanimar de pronto um público já cansado, Gerson King Combo assistia, ao lado de sua banda, um Gil Brother praticamente cego (fora dali o mestre de cerimônias do festival era literamente guiado por um assistente) divulgando seu site e executando uma coreografia improvisada diante de qualquer câmera, sempre finalizando a performance com um de seus bordões nonsense.
Um comentário:
Uai Hígor, parece que lá se ia um tempão sem eu ler nada seu. E olha que não percebi que estava sentindo falta. Ácido, preparado e preciso nos informes, como sempre. Bom demais ver que alguns não largam a batalha! Monstros superaram essa parada, que bom. Agora Nobre está assumindo uma postura muito estranha. Já aguardo a meses uma resposta dele sobre um dos projetos mais badalados e incompreensíveis da história, e até hoje nada. Fica sempre no "depois solto um texto" ou coisa parecida. Será que o segredo do sucesso é o segredo ou a desinformação? Enfim... ótimo texto, compadre Coutinho!
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