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quinta-feira, janeiro 04, 2007

Quem precisa dos Arctic Monkeys?


Macaco Bong
Foto Divulgação



Revelação da música independente em 2006, o trio cuiabano Macaco Bong – que percorreu grande parte do País, arrancando elogios com sua inventiva combinação de jazz e rock – acabou virando bróder do titular deste sítio escuro escrito com tinta branca, lá em Londrina, em novembro passado. Foi lá também que, depois de um almoço farturento, Bruno Cayapi, Ynaiã Bertholdo e Ney Hugo, mais o blogueiro aqui – que se encontravam hospedados no mesmo hotel – reuniram-se no quarto dos símios para um bate papo pra lá de descontraído. Um resumão da conversa está transcrito aí embaixo, me acompanha?


Hígor – Como começou a aventura instrumental do Macaco Bong?
Ynaiã Berthold –
Isso foi há dois anos. O Macaco derivou de uma outra banda que a gente tinha, chamada Dona Lua... eu conheci o Bruno [Cayapi, guitarrista do Macaco] num curso internacional de verão lá em Brasília, e foi lá que tivemos nosso primeiro contato com música instrumental. De tocar, de ouvir, de conhecer mais artistas.

Hígor – Que curso era esse?
Bruno Cayapi –
Era um curso da Escola de Música de Brasília, EMB. E é um curso voltado tanto pra música popular quanto pra erudita. A gente estudou, é claro, o popular. Não temos muito embasamento em música erudita, formação clássica... e é nêgo do mundo inteiro, estudando desde a viola caipira, todos os tipos de instrumento de metal, harpa, piano, guitarra... é tudo! Então você tem uma troca de tecnologia muito foda.

Hígor – Tiveram shows também?
Ynaiã –
Sim! Inclusive da vez que estudamos lá, nossos professores eram o Kiko Freitas [N. do E.: baterista gaúcho que já acompanhou gente como Nico Assumpção, Frank Gambale, João Bosco e Michel Legrand], Ney Conceição [baixista paraense, que já tocou com Sebastião Tapajós, Robertinho Silva e João Bosco], e o Nélson Faria [guitarrista mineiro, que emprestou seu talento para Tim Maia, João Bosco e Cássia Eller], todos eles do Nosso Trio. Mas já teve Arthur Maia, Toninho Horta...

Hígor – Mas e depois disso?
Ynaiã –
Voltando pra Cuiabá, eu já conhecia o trabalho do espaço Cubo, do qual o Cayapi já fazia parte. Aí, coincidentemente, o batera da Dona Lua estava vazando e o Cayapi me ligou e formamos o Macaco.

Hígor – A intenção estética inicial já era instrumental?
Cayapi –
Era! O Macaco começou a surgir no meio de um show do Dona Lua, onde a gente tocava Rancho e Soraya By Starsex. O Fabrício, do Chili Mostarda, tentou fazer parte cantando, mas foi uma catástrofe...
Ynaiã – Foi horrível! Fizemos um show com vocalista e nunca mais!
Cayapi – Na verdade, foi num show do Mechanics lá em Cuiabá. O primeiro show do Macaco.
Ynaiã – Depois desse show limamos o vocal de primeira. E era um quarteto também, com duas guitarras. Mas depois do festival Calango de 2005, o outro guitarrista e o baixista, que hoje são do Chilli Mostarda, saíram da banda e ficou só eu e o Bruno. Aí um mês antes de irmos pro Goiânia Noise (o Fabrício Nobre viu nosso show no Calango e gostou), conhecemos o Ney. Aí foram trinta dias de ensaios intensivos. Três dias antes de irmos pra Goiânia, a gente gravou a nossa promo, com três faixas que estão disponíveis na internet.
Ney Hugo – Nas prévias de 2005 me apresentei com uma banda extremamente forfun, que se reunia de vez em quando. Mas um cara muito louco, de uma outra banda, disse que uma das nossas músicas era plágio. E era uma música minha, que eu tinha passado pros caras da banda no final de semana anterior, num único ensaio. Aí fizeram uma matéria sobre a coisa toda, que saiu no site do festival. Mas contaram a estória deturpada e eu fiquei noiado. Como eu já gostava de escrever e tinha um blog, gastei uma tarde desconstruindo a matéria. Dei umas espetadas e tal. Daí um tempo, vi nos comments assim: “Pô véio, do caralho o seu texto! Quer vir trabalhar aqui no Cubo? Preciso de escritores. Pablo Capilé” (risos gerais)! E eu já estava bem antenado com o circuito independente, fiz questão de ir nos três dias de Calango, e escrevi sobre tudo aquilo que eu assiti. Passei a fazer matérias semanais sobre as bandas que se apresentavam no Calango Rock Bar e isso coincidiu com a saída dos outros dois integrantes do Macaco Bong, daí com a proximidade passamos a fazer um som. De tanto fazer um som, passamos a ensaiar. E o primeiro show foi no Goiânia Noise, com um baixo emprestado.
Ynaiã – O que eu vejo no Macaco com o Ney como baixista, é que se a gente exercer uma função dentro da música instrumental próxima daquele lance do Jaco [Pastorius], vai nos descaracterizar. Por que a gente já tem uma batera meio que imprevisível... A música pode estar em 4x4 e a batera em 6x8 na moral! A guitarra tem a função da voz, mistura a harmonia com a melodia consecutiva. No nosso caso, o baixo está mais pra Stu Hamn [baixista que já trabalhou com Steve Vai, Frank Gambale e Joe Satriani.] do que pra Jaco Pastorius. É mais o lance da condução, da respiração, porquê o resto já é muito solto. Mas sem acrobatismos, é um lance mais pensado em imagens e climas do que na música em si: desde o ambiente que está fechado e desmoronou, ao sexo que você está fazendo...

Hígor – Vocês disseram que conheceram a música instrumental nesse curso de verão em Brasília. Quais as referências que vocês tiraram desse curso?
Cayapi –
Ouvíamos muito Tribal Tech, essa vertente do rock e do metal progressivo. Dream Theater, Pain of Salvation, e algumas coisas do Liquid Tension Experiment. Chegando em Brasília nos deparamos com a música instrumental brasileira, que vem do frevo, do baião. Eu não tinha contato com isso. Desde pequeno que eu tive contato com violão, minha família sempre me influenciou com música brasileira, em casa sempre teve discos do Chico, Djavan, João Bosco, mas não era a minha onda. Depois que eu voltei de Brasília é que eu comecei a dar umas fuçadas nos vinis lá de casa e vi que só tinha pérola. Comecei a ouvir mais, e foi uma coisa que se caracterizou dentro do Macaco: a mistura de música brasileira em termos da harmonia dissonante, da melodia cromática, junto com a estética rock n’ roll. Vamos dizer que nós somos bi-sexuais da música (risos).

Hígor – E o que essa esponja musical bi-curious chamada Macaco Bong tem ouvido hoje em dia?
Ynaiã –
Como a gente também trabalha com produção de algumas bandas, a gente ouve muita coisa pra fazer os trabalhos. Mas como pesquisa pro Macaco, eu tenho procurado ouvir bastante música eletrônica – a gente tem essa vontade de transpor a eletrônica pro instrumento orgânico –, e jazz, que é a parada em que eu estou buscando mais referências, na concepção das linhas de bateria. Ornette Coleman, Art Blakey, Herbie Hancock... putz, é muita coisa. Eu tenho umas coleções de jazz e blues em casa, herança do meu pai, que são fonte de inspiração pro resto da minha vida (risos).

Hígor – E de rock?
Ynaiã –
Cara, e de rock eu só tenho escutado os trampos que a gente vem produzindo. Mas Pantera é uma banda que eu gosto muito; o Death eu também acho do caralho, às vezes tenho que fazer uns trampos pedreira lá em Cuiabá e coloco uns discos do Death no som e fico o dia inteiro ralando.
Cayapi – A minha estória com o rock começou no grunge: Pearl Jam Alice in Chains, Nirvana – que eu considero punk, e não grunge... acho uma das bandas mais foda que já existiu... O Kurt foi o cara que me fez sentir vontade de tocar guitarra. Ele estava muito à frente dessa coisa de técnica e feeling... é como se [a guitarra dele] fosse um vocalista.
Ynaiã – A gente veio de lados diferentes , mas caminhando junto no tempo, e fomos nos encontrar num ponto em que estávamos mudando esse nosso conceito musical. Foi Brasília que nos mostrou esse outro lado da música.
Cayapi – Depois teve a safra né, Metallica, Pantera e Sepultura, quando tinha uns 12 anos. Aí conheci Slayer e fudeu tudo! Daí só as podreiras: Obituary, Nuclear Assault... foi aí que tudo começou na verdade. Nos ensaios do Dona Lua a gente sempre passava umas músicas do Deicide, do Death... Depois, já envolvido com o Espaço Cubo, conheci o Douglas Godói, batera do Vanguart, que na época tinha uma banda de acid jazz chamada Papo Amarelo, que era na onda do Jamiroquai, Ed Motta, essas coisas. Assim comecei a me inserir nesse meio do jazz, música brasileira. Nesse processo conheci o Ebinho Cardoso [N. do E.:músico cuiabano, reconhecido mundialmente como revelação do contra-baixo] também, que criou um método de aplicação de harmonia para baixo de seis cordas. Com ele comecei a entender mais como compor, como arranjar, como timbrar...

Hígor – E dessa cena de rock independente em que vocês estão inseridos, tem alguma – ou algumas – banda que vocês realmente gostam, gastam tempo escutando e se emocionam?
Ynaiã –
Tem muita banda foda cara! Uma é a Madame Saatan. Ontem eu escutei uma banda do caralho aqui [em Londrina, no festival Demo Sul] que é a Mudcracks. Pô e de Goiânia né, MqN é muito bom! Superguidis, Los Porongas... cara, tem muita banda.
Cayapi – Los Porongas, Mezatrio... De Goiânia, o MqN, Violins, Rockfellers... Gosto de umas bandas que a gente está produzindo lá em Cuiabá, o Asthenia, o Cláudia’s Parachute, as meninas do Lazy Moon tem umas coisas bem legais. O Nicles lá do Acre, que é uma coisa meio Doors...
Ney – Escutar com prazer mesmo? Superguidis... Los Porongas, até pelo trabalho com as letras, que trata poeticamente o lance da floresta. Na Bahia tem o Ronei Jorge e Os Ladrões de Bicicleta; tem o Parafusa, de Recife; o Vanguart de Cuiabá... com certeza tem outras várias, mas eu não vou conseguir lembrar agora. Se eu pegasse os festivais que a gente viu, daria pra fazer uma lista legal.

*

# Já se passaram as todas as adoráveis festas de fim de ano. A pergunta que não quer calar agora, passa a ser: “E no carnaval, vai fazer o quê?”

# # Grito Rock?

# # # Então, inté!

3 comentários:

Anônimo disse...

ahhh! macaco bong é muito bom!
e eu q perdi o show no outs... merda!

mas eles voltam, espero...

Anônimo disse...

Hígor, quando é que vai ter Macaco Bong de novo em Goiânia??

Dá pra adiantar algo?

Anônimo disse...

Gostchei muito desses macacos aí! Macaco Bong em Goiânia JÁÁÁÁÁÁÁ!