..Diego Moraes não faz folk nem mpb, apesar da voz e do violão, mas até que gosta de uma emepebice ou outra, misturada àquela eterna vontade de ter uma banda de rock.
Ele apareceu nos palcos de Goiânia em 2006, com apenas 21 anos de idade, vindo lá do interior, de Senador Canedo. Quando chegou para esta entrevista – que sai na íntegra na próxima edição da revista Decibélica – seu acanhamento era uma mistura de nervosismo e vontade de contar sua história. Falando muito rápido, me explica qualquer coisa sobre como havia entrado na casa errada que, curiosamente, era de um conhecido. Me pergunta se a entrevista vai demorar muito, apontando para o relógio do computador que marcava quase nove da noite, exclamando desanimado que ainda teria que “viajar” de volta para Senador Canedo, depois de mais um dia de trabalho duro em Goiânia.
Hígor – Existe uma movimentação rock acontecendo em Senador Canedo?
Diego de Moraes – Cinco anos atrás existiam bandas fazendo trabalho autoral lá, mas o pessoal foi desanimando, agora que está voltando. Infelizmente as bandas estão presas no cover. É mais fácil agradar com coisa que todo mundo gosta, Ultraje a Rigor, Engenheiros do Hawaii, agora, se arriscar, colocar a cara a tapa, tocar o que ninguém nunca ouviu...
Hígor – Mas você freqüentava a cena de Goiânia?
Diego Moraes – Aham! Por gostar muito de gibi, comecei a ir na Hocus Pocus [Tradicional loja do underground goianiense]. Uma vez, conversando com o Júnior [proprietário do lugar], conheci o Maurício da Hang [the Superstars] e falei do Joy Division.
Nessa época eu não sabia nada de nada, e tinha lido uma entrevista com o Renato Russo falando do Joy Division, e fiquei curioso para saber daquilo. Aí quando encontrei o Maurício de novo, ele tinha gravado os dois primeiros do Joy Division e me deu de presente uma fita cassete da Hang, que hoje eu guardo na minha estante, quase ninguém tem! Depois, num aniversário da Hocus Pocus, vi a Hang the Superstars tocando e pirei. Pôxa, aquele cara com quem eu tinha conversado no bar, estava tocando ali!
Só que depois parei de ir aos shows, não tinha dinheiro e tal. Assim acabei perdendo o contato com o Maurício. O mais engraçado e que no Decibélica Rock n’ Rum [evento/show da revista em parceria com a Redrum, moda rock] ele estava lá no meio do povo, mas só o vi no final. E eu acho que preparei meu repertório de forma equivocada, coloquei as minhas favoritas no começo, e as piores – pelo menos as que eu estou mais cansado de tocar – no final. E ele viu só o final. Pensei: nó, ele viu o pior!
Depois de muito tempo, os meninos (já tocando comigo) foram visitá-lo e perguntaram se ele tinha visto alguma novidade no rock goiano. E ele: “Não, novidade não vi nenhuma, só vi um moleque doido, gritando com um violão.!” (risos). Lá na frente, o cara foi ver um show meu, e eu fui conversar: Cara, não sei se você se lembra de mim, mas uns cinco anos atrás a gente conversou lá na Hocus Pocus. Daí ele: “Nó! Você não é de Goiânia não né? Tá explicado.” Todo mundo pode criticar, mas se um cara como o Maurício, que eu respeito, disse que achou legal pra mim tá valendo. Pôxa vida, Hang é uma banda foda, no Bananada toquei com uma camiseta deles.
E como foi que Goiânia te “descobriu”?
Diego Moraes – Foi devagarzinho. Depois que eu já estava grilado com as bandas, parando de tocar bateria (fiquei um ano sem tocar nada), já no final da The Cretinos. Então, comecei a tocar lá no pátio do FCHF (Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia da UFG)...
Hígor - Você faz o quê?
Diego Moraes – História, mas não precisa colocar isso não. (risos) É por que tá complicando minha situação. Quando digo que faço História, dizem: “Ah, tá explicado!” Tá explicado o quê? O baixista do Vícios da Era é formado em história, o vocalista do Casa Bizantina também, a baixista do Demosonic estuda comigo. O Nars Chaul, compositor de mpb, é historiador, e o vocalista dos Garotos Podres também! No entanto, o que eu faço não tem nada a ver com Vícios da Era, Casa Bizantina, com Demosonic, não tem nada a ver com o que o Nars Chaul faz, e nem com Garotos Podres! O fato de eu cursar História não determina o que eu vou fazer, são momentos diferentes da minha vida, não preciso de referências bibliográficas para compor.
Hígor - Mas voltando, Goiânia...
Diego Moraes – Depois fui tocar no bar do Martim [Cererê, o “templo” do rock goiano]. O Pablo, um amigo meu, trabalhava lá, e me botou pra tocar num show do José Telles, um dos artistas da Maquinaria [selo goianiense]. Toquei, ele gostou e pediu pra tocar mais, e nisso chegou o Brandão [então administrador do Martim Cererê], que depois falou que eu tinha letras boas, mas tinha que desenvolver a harmonia.
No final de agosto [de 2006] inscrevi Todo dia no festival do Sesi, por incentivo do Fernando. Ele até falou que essa música era meio complicada, que eu tinha música melhor pra esse evento. Mas eu acho que exatamente por ser inesperado é que chamou a atenção, não sei. Não fui para ganhar, fui pra encher o saco. Mas o tiro saiu pela culatra, que bom né?
Em novembro fiz minha inscrição pro Tacaboca [TacabocanoCD, festival da capital que premia o vencedor com a gravação de um disco]. Dos R$ 500 que eu tinha ganhado no festival do Sesi, tirei 70 pra fazer uma gravação de 2 horas. Toquei uma hora e meia, o Pafa [proprietário do Loop Studio e baterista do Seven] mixou em meia hora, e era minha demo. Gravei dez músicas, horrível. Mas foi bom por que foi o registro de um momento, voz e violão, sem produção nenhuma.
Quando fui fazer minha inscrição no Tacaboca, o cara perguntou: “Qual o nome da banda” e eu: Não, não é banda não, sou só eu e um violão. Daí o cara: “Aí é complicado, por que só vai ter banda concorrendo... talvez você não fique nem entre os dez que vão concorrer à gravação do cd.”, fiquei grilado: pôxa vida, tô perdendo tempo, vinte reais a inscrição...
Logo em seguida teve o Goiânia Noise, e na sexta feira estava lá com um amigo e perguntei: será que algum dia eu vou tocar num evento da Monstro? Daí ele disse: “Não Diego, se você aparecesse aqui com o violão, ia ser vaiado.” No sábado o João Lucas [um dos chefões da Fósforo Records e vocalista do Johnny Suxxx & Fucking Boys] chegou pra mim e disse: “De todas as inscrições do Tacaboca, a sua foi a mais legal. Se você quiser participar da Fósforo, a gente grava o disco independente do resultado do festival.” E eu: Não, eu quero é tocar. Não me interessa se eu vou ser desclassificado. Toquei dentro do show do Rollin Chamas. Surreal minha vida né? (risos) Por que o vencedor seria a última banda, mas como era só eu e o violão, acharam melhor me colocar pra tocar duas músicas dentro do show do Rollin Chamas.
To be continued...
No próximo post: Miscelânea Rock Festival e Monstro Discos no Prêmio Toddy.
Hasta La Vista!