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quarta-feira, fevereiro 06, 2008

A Vergonha do Metal Nacional

The Cavalera Conspiracy


E aí, como foi de carnaval? Encheu a cara, cheirou lança-perfume no baile de máscaras e enfiou o pé-na-jaca no almoço com a família?


Normal, acontece.



# Vazou dia desses o tão esperado disco da reunião dos irmãos Cavalera. Baixei a peça no fim-de-semana e ainda não consegui uma opinião definitiva. Na primeira audição achei a coisa meio chata, uma profusão ressuscitada de mais-do-mesmo. Um opúsculo de fúria requentada em linguagem retrô. Desconfiei que, talvez, estivesse muita ranzinza. Esperei por esse disco por mais de dez anos, e agora quando finalmente ele sai, já ganha uma canetada na primeira ouvida?


Dei mais uma chance, dominando o mau-humor, e as músicas até pareceram melhorzinhas. Aquela química que funcionou tão bem em pelo menos quatro discos (sendo que um deles – Roots, é uma das maiores obras-prima do pop mundial), não vai voltar nunca mais, isso já tinha dado pra perceber, e as viúvas do Sepultura que ainda se recusavam a enxergar isso, agarrando-se com todas as forças na possibilidade de um retorno da formação clássica (não a original) da banda, viram suas esperanças caírem por terra com o lançamento desse Inflikted.

Não que seja ruim, mas é o mastigar redundante daquela potência brutal que transformou Max e Ig(g)or em duas das figuras mais importantes, não só do metal, na década de noventa. Não tem o mesmo gosto de novidade e descoberta. Não impressiona mais pela precisão da selvageria, controlada dentro das características principais do thrash metal e, enfim, não tem o viço para envelhecer com glória. Daqui a vinte anos, será lembrado como curiosidade, “o disco de reunião dos caras que fizeram o Roots”.


Quando Max Cavalera anunciou que deixaria o Sepultura, em noventa e seis, logo depois do sucesso estrondoso de Roots, a pergunta da vez era: quem sobrevive?


Max tratou de se apressar e despejou rapidamente aquele que poderia muito bem ser entendido como uma continuação digna para o Roots. O primeiro disco do Soulfly, com incríveis dezoito faixas, era sólido, bravo, rancoroso e absolutamente genial, dentro daquela mistura que já se pasteurizava sob o signo maldito apelidado de new metal.


O Sepultura tentou responder com Against, mas a irregularidade das canções e a estranheza que o vocalista novo causou, levou muita gente a apostar que o Soufly sobreviveria ao Sepultura .


Acontece que o deslumbre criativo do irmão mais talentoso o fez mergulhar por experimentos demais, desviando o foco e levando o Soulfly por caminhos muito particulares, acabando por juntar-se ao Sepultura na irregularidade artística: algumas poucas coisas boas (e até ótimas), perdidas num mar de experiências chatas.


Lá na frente, o Soulfly fez a curva de retorno, apontando suas antenas para os pés, e passou a reverenciar suas raízes, iniciando esse processo de recriação do passado que não é lá muito melhor sucedido que a fase anterior. Já o Sepultura segue desfigurado, meio constrangido e na defensiva, mas ainda poderoso no palco.


E agora, esse Cavalera Conspiracy... uma conspiração nostálgica e meio caduca que promete coexistir pacificamente com duas facetas opostas de um vergonhoso passado recente, servindo de lembrança de que uma ótima banda, ao longo dos anos, se dividiu em três, mas que cada uma delas, atualmente, não dá conta de um décimo do que era, antes da tri-partição.

Matemática louca da equação ego-trip/talento/dinheiro.



MagüeRbes


# O MagüeRbes lançou, ano passado, Modelo de Prova, seu terceiro disco cheio.



A música dos MagüeRbes é uma singular mistura de criatividade hardcore, desespero rap e afinações baixíssimas. Até aí novidade nenhuma, mas quem, assim como eu, conheceu o grupo através de suas primeiras demo-tapes (lembra delas?) Ignorante e Menos Tempo, sabe que os garotos adoram carregar no sotaque interiorano e não admitem soar parecidos com nenhuma outra banda. MagüeRbes é assim, inventivo acima de tudo.


Pois bem, se na estréia em disco aproveitaram gravações das demos, enfiaram lá alguns dos mais toscos registros da banda ao vivo junto com algumas músicas “novas” e chamaram de “primeiro-cedê-dos-MagüeRbes”, o segundo foi um pouco mais caprichado. Mas só um pouco.


Apesar do encarte classe, as gravações ainda não eram das melhores, o que mais uma vez confinava o grupo ao gueto dos iniciados, afastando qualquer chance palpável de atingir qualquer um que já não fosse do meio.


Nesse terceiro a coisa não muda muito, apesar de transformações sutis. A despeito do eterno desespero raivoso, os torpedos movidos a testosterona se apresentam um pouco mais elaborados, os berros diminuíram e a banda se arrisca em outros terrenos, mesmo que o preço seja o do erro justificável. E a qualidade da gravação ainda está longe da ideal.

Tá bom que, em mais de dez anos, o quinteto não lançou nada melhor do que aquele repertório perturbador e descontrolado que recheava as demo-tapes do começo, mas mesmo assim continuam na vanguarda de um gênero que se gaba de sua obtusidade. Vou ouvindo aqui.



MagüeRbes, a vergonha do metal nacional.





* Domingo agora o Seven re-inaugura as sessões do antigo Low Amp, shows acústicos organizados pela Fósforo Cultural. O grupo instrumental – que está com seu primeiro disco pronto – promete um começo de noite recheado dos “clássicos de 1984 e os sucessos do Admirável Mundo Novo!”, lá no palquinho charmoso do piano bar do Cine Goiânia Ouro, onde já se apresentam, regularmente, conjuntos de jazz. Vai lá?




Fui

Um comentário:

Anônimo disse...

Ignorância sua dizer isso...MagüeRbeS, vergonha do metal nacional só mesmo na tua cabeça..Se fosse disco da Pitty vc diria que era o melhor do mundo né??...Zé!