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quinta-feira, outubro 29, 2009

Festa de 15 Anos

É, o Noise 2009 tá tipo... surpreendente. Mas essa evolução estilística do festival, que gradualmente foi rejeitando aquele sectarismo rançoso que não enxergava na música quase nada além de guitarras distorcidas, não se deu de uma hora pra outra, e já vem sendo elaborada há umas 5 edições. Mas foi agora que alcançou sua versão mais bem acabada – incluída nessa nova formatação descentralizada, que espalha shows pela cidade –, com atrações até então pouco, ou nada, associáveis à tradicional movimentação do indie nacional. A idéia de um festival de música, ao invés de um festival trancado no rock, foi uma das determinantes para alçar o Goiânia Noise à condição de modelo para o circuito nacional.




Mas não se engane. Assim como o extinto e saudoso Free Jazz, que ao mesmo tempo em que se abria para o pop de, por exemplo, Sigur Rós, Aphex Twin ou Belle and Sebastian, nunca se esqueceu de suas prioridades e até o fim manteve seu foco nos luminares do improviso, o Goiânia Noise também não nega o seu próprio DNA: apesar de Hermeto Pascoal, Siba, Roberto Corrêa, Jorge Mautner, Umbando, Juraildes da Cruz e Domá da Conceição, as guitarras ainda são protagonistas. E é ótimo que outros universos coadjuvem com o rock no Noise, assim como o rock coadjuva com a mpb, com o samba, com o jazz ou com a música eletrônica, em tantos outros endereços.


Dito isso, posso confessar que ainda prefiro o Egberto Gismonti, mas faço questão de assistir a mais um show do Hermeto Pascoal, ainda que o tio albino seja uma espécie rara de mala-sem-alça, cuja chatice só não é maior que sua genialidade. O problema é que o tio aparentemente tem plena consciência de seu talento superlativo e se irrita muito com a burrice do resto do mundo. Até aí tudo bem, eu que não sou nenhum gênio também não consigo esconder uma certa raiva da desinteligência da maioria dos humanos. Mas a impressão que ficou nas duas últimas vezes que vi o Hermeto no palco, é que ele reserva boa parte de seu show para provocar os idiotas, e se esquece que seu público não é feito somente deles. Whatever...


Do Juraildes da Cruz eu sempre gostei. Nunca tive um disco em casa, mas a lírica brejeira esperta que acompanha seu violão sempre afiado, nem de longe merece o meu desprezo. Do Umbando eu não preciso nem falar. Quem acompanha o que eu escrevo aqui sabe que a banda acaba de lançar disco e é uma das preferidas da casa. E deve saber também que apesar de reprocessar a tradição, a banda está longe de qualquer purismo besta, e acrescenta guitarra, baixo e bateria à sua enorme habilidade poética, sempre resguardada pelo ataque poderoso dos tambores.


Goiânia Noise Festival Ano I


Do Jorge Mautner eu tenho preguiça, você não? A única vez que eu vi o Siba ao vivo, fora do Mestre Ambrósio e acompanhado pela Fuloresta, fiquei muito bem impressionado, ainda que por uma satisfação menos musical do que, em falta de termo melhor, “zoológica” – se é que você me entende. O Roberto Corrêa eu já vi umas duzentas vezes, nos mais diferentes lugares, e se hoje minha paciência para solos de viola caipira está de férias, nada me aflige mais que a careta concentrada e cerebral que um certo público universitário, semi-analfabeto e “apegado às raízes” se esforça para ostentar durante qualquer concerto do músico mineiro. De qualquer maneira, o encontro dos dois pode valer a pena.

Ah, e o Domá da Conceição, apesar de meu conterrâneo, eu nunca vi e não sei o que esperar. Medo!


Dos protagonistas da história, guitarras em fúria, eu falo na volta. Tchau!
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Um comentário:

Desistente disse...

Por que a preguiça de Jorge Mautner?
Discorra.