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Mas não se engane. Assim como o extinto e saudoso Free Jazz, que ao mesmo tempo em que se abria para o pop de, por exemplo, Sigur Rós, Aphex Twin ou Belle and Sebastian, nunca se esqueceu de suas prioridades e até o fim manteve seu foco nos luminares do improviso, o Goiânia Noise também não nega o seu próprio DNA: apesar de Hermeto Pascoal, Siba, Roberto Corrêa, Jorge Mautner, Umbando, Juraildes da Cruz e Domá da Conceição, as guitarras ainda são protagonistas. E é ótimo que outros universos coadjuvem com o rock no Noise, assim como o rock coadjuva com a mpb, com o samba, com o jazz ou com a música eletrônica, em tantos outros endereços.
Dito isso, posso confessar que ainda prefiro o Egberto Gismonti, mas faço questão de assistir a mais um show do Hermeto Pascoal, ainda que o tio albino seja uma espécie rara de mala-sem-alça, cuja chatice só não é maior que sua genialidade. O problema é que o tio aparentemente tem plena consciência de seu talento superlativo e se irrita muito com a burrice do resto do mundo. Até aí tudo bem, eu que não sou nenhum gênio também não consigo esconder uma certa raiva da desinteligência da maioria dos humanos. Mas a impressão que ficou nas duas últimas vezes que vi o Hermeto no palco, é que ele reserva boa parte de seu show para provocar os idiotas, e se esquece que seu público não é feito somente deles. Whatever...
Do Juraildes da Cruz eu sempre gostei. Nunca tive um disco em casa, mas a lírica brejeira esperta que acompanha seu violão sempre afiado, nem de longe merece o meu desprezo. Do Umbando eu não preciso nem falar. Quem acompanha o que eu escrevo aqui sabe que a banda acaba de lançar disco e é uma das preferidas da casa. E deve saber também que apesar de reprocessar a tradição, a banda está longe de qualquer purismo besta, e acrescenta guitarra, baixo e bateria à sua enorme habilidade poética, sempre resguardada pelo ataque poderoso dos tambores.
Do Jorge Mautner eu tenho preguiça, você não? A única vez que eu vi o Siba ao vivo, fora do Mestre Ambrósio e acompanhado pela Fuloresta, fiquei muito bem impressionado, ainda que por uma satisfação menos musical do que, em falta de termo melhor, “zoológica” – se é que você me entende. O Roberto Corrêa eu já vi umas duzentas vezes, nos mais diferentes lugares, e se hoje minha paciência para solos de viola caipira está de férias, nada me aflige mais que a careta concentrada e cerebral que um certo público universitário, semi-analfabeto e “apegado às raízes” se esforça para ostentar durante qualquer concerto do músico mineiro. De qualquer maneira, o encontro dos dois pode valer a pena.
Ah, e o Domá da Conceição, apesar de meu conterrâneo, eu nunca vi e não sei o que esperar. Medo!
Dos protagonistas da história, guitarras em fúria, eu falo na volta. Tchau!
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Um comentário:
Por que a preguiça de Jorge Mautner?
Discorra.
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