# Para onde vai o rock? Melhor: Para onde vai o novo rock brasileiro?
Estou conversando com os três Macacos Bong, sentado numa das camas do hotel que lhes serviam de casa durante sua passagem por Goiânia – para o show de lançamento de seu primeiro disco –, e a impressão que tenho é a de que, apesar de intimamente envolvidos com toda essa lógica cultural e de enxergar tudo do ponto de vista de uma das
maiores novidades dessa música independente, eles não saberiam me responder. Aliás, alguém saberia?
Artista Igual Pedreiro Um trio de rock instrumental (um não, dois! A
Pata de Elefante também merece tantos créditos quanto) na ponta de lança da nova música brasileira não é algo exatamente recorrente na história da nossa cultura pop. Entre um trago no cigarro e um gole de água mineral, os três parecem mais preocupados, no momento, com um jogo de futebol na tevê. O Flamengo iria perder por três a zero. No Maracanã! Para onde vai o novo rock brasileiro?
Quase um “velho” conhecido do público goiano, o grupo cuiabano encheu de gente, no dia oito de março último, o charmoso
Bolshoi Pub para inaugurar a pequena turnê de lançamento de
Artista Igual Pedreiro, também gravado em Goiânia, no fim do ano passado. A apresentação enumerou todas as longas dez faixas do disco, na ordem oficial, começando pelas linhas quentes, líquidas e tensas de
Amendoim, passando pelos dedos leves e lascivos de
Fuck You Lady e
Black’s Fuck, despindo referências em
Bananas For You All e
Belezza, até atingir o clímax molhado e duro de
Vamosdarmaisuma. Quase uma hora e meia de um potente discurso mudo e sincopado, que terminou num clique abafado, revelando suspiros e ovações de puro prazer de uma platéia entregue.
A música instrumental desligada de conservatórios e mais próxima do rock nunca esteve em um momento tão bom no panorama nacional. Além de Macaco Bong e Pata de Elefante, toda uma nova safra de grupos que dispensaram um vocalista surge por todo o País. Aqui em Goiânia o antigo Seven, hoje
Orquestra Abstrata, e o trio Funky
Dom Casamata e A Comunidade levantam com louvor essa bandeira. Outros exemplos respeitáveis são a Fóssil, lá de Fortaleza e os Dead Rocks, do interior de São Paulo, além de inúmeros outros nomes menos cotados, mas que contribuem para um painel, finalmente, promissor para um gênero tão subestimado quanto pródigo.
Macaco Bong é, hoje, quem tem a música mais genuinamente moderna, inventiva, vigorosa e instigante desse novo rock brasileiro que eu não sei pra onde vai. Mas dá pra adivinhar que, a depender dos três cuiabanos (e de uma boa dúzia de outros conjuntos, embolados ali na “liderança” desse
ranking inventado) esse caminho escuro à frente nunca prometeu tanto para a nossa música, independente de qualquer coisa.
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4º PMW Rock Festival .
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# No primeiro final de semana de maio, o
PMW Rock Festival celebrou seu quarto ano de vida como maior festival de música da causticante cidade de Palmas, a jovem capital do Tocantins.
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Não fosse tão exagerada no calor, um visitante descuidado que acordasse de repente numa das vias largas e amplas do centro, poderia julgar ter chegado à Brasília, tamanha a semelhança das divisões urbanísticas. Grandes platôs verdes contornando as avenidas, ornamentados com árvores frutíferas que oferecem sombras consoladoras para o caminhante, invariavelmente, suado.
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O PMW é um dos festivais-referência do Norte do País, membro ativo da
Abrafin (Associação Brasileira dos Festivais Independentes) e principal evento da cultura alternativa do estado do Tocantins. Palmas ainda não completou vinte anos de idade, e apesar de amplamente inserida no circuito
indie brasileiro, não pariu uma banda que realmente faça diferença, que consiga superar a média e emocionar. Sendo assim não foi surpresa nenhuma constatar que as atrações locais do festival ainda carecem de muito tempo de estúdio para fazer bonito, de fato, no borbulhante panorama dessa nova música brasileira. Mesmo a Boddah Diciro, grupo tocantinense que mais tem girado pelos festivais Brasil afora, ainda não escapa daquela derivação inócua que encanta quase toda banda iniciante, e acaba soando como imitação terceiro-mundista (e cheia de poses) daquele grunge vigoroso que marcou os anos noventa.
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A abertura da festa, na sexta feira, ficou por conta da também local Anorexia, que conta com um baterista africano e investe naquele mesmo e surrado heavy metal esgoelado e com cara de mau. .
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O simpático trio cuiabano Branco ou Tinto tem boas idéias, boas referências e boas intenções, mas ainda não chegou lá. Fez, de longe, o melhor show da primeira metade da noite, mas esse mérito é altamente questionável já que a concorrência não era das mais acirradas. A palmense Críticos Loucos não foi exceção, e gastou meia hora de chatice barulhenta antes da paraense Jolly Joker quase me animar os ouvidos. Quase!
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Depois de tanto ruído, a guitarra afiada do trio mais embriagado da noite foi a primeira boa surpresa, que acabou perdendo um tanto da graça à medida que "piadinhas" do tipo Suck My Dick and Die, eram enfileiradas como se fossem realmente engraçadas.
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Mas se depois da tempestade vem a bonança, o show da paraibana Zefirina Bomba foi o início da redenção de uma noite difícil. O trio carregou no improviso, e ocupou quase metade de sua apresentação com devaneios instrumentais psicodélicos coloridos com tinta verde-amarela. A intensa atmosfera de distorção chapada que os três criaram acabou por seduzir quem ainda não estava em frente ao palco, e pela primeira vez na noite a comoção do público foi geral, que assistiu sorridente aos tombos bêbados que o vocalista Ilsom se permitia, em meio às ressonâncias, texturas e efeitos.
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Depois que os três deixaram o palco, cambaleantes e satisfeitos pelo dever cumprido, o
Móveis Coloniais de Acaju era o motivo do burburinho e da aglomeração saltitante que enchia o gargalo. Quando a
big-band brasiliense ocupou o palco, a histeria coletiva se revelou a mesma que o grupo tem despertado pelo Brasil afora.Se as coreografias caóticas que atravessam frenéticas o palco de um lado pra outro fazem tanto sentido, dentro de um contexto que envolve samba, ska, rock, jazz e um tanto mais de elementos, a platéia em êxtase festejava com a mesma empolgação cada uma das canções do set list, que percorreu todas as fases da curta, porém explosiva, carreira dos candangos. O calor que já havia cedido alguns graus a essa altura da madrugada, voltou com força, durante a tradicional roda, em que os músicos descem do palco e comandam uma ciranda do meio da multidão.
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Não é atôa que o MCA (que nasceu como qualquer um desses grupos iniciantes que ainda se esmeram na imitação), tem hoje um dos melhores shows do cenário independente brasileiro. Entrosamento, apuro instrumental e espontaneidade fizeram da turma de Brasília a melhor coisa da quarta edição do PMW Rock Festival, ainda que poucos dos seus concorrentes fizessem alguma diferença.
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Vista panorâmica do público .
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No segundo e último dia, a local Val Hala abriu os trabalhos, e teve coragem de desperdiçar boa parte de seu curto set numa cover anódina do U2. O grupo paulista Somos não se apresentou, já que um de seus integrantes não conseguira voar a tempo para o show, e assim a também local Mata Burro se antecipou no
line up, e teve que revelar sua receita tosca e infeliz de
agacê da velha guarda antes do combinado.
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A goianiense
Mugo subiu no tablado um tanto insatisfeita com o pouco público, mas conseguiu uma atenção empolgada de maioria das duas centenas de humanos que já desfilavam pelo pátio em frente ao palco. O quarteto goiano não estava em sua noite mais inspirada, e o som não ajudava, mas mesmo assim a fúria de afinações baixas temperada com pequenas doses de candura pop acabou funcionando, a despeito de tudo.
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A Mestre Kuka seguiu o programa com melodias pop rock das mais inofensivos (pra ser educado e não dizer ingênuas e risíveis), e a mineira
Pleiades é uma versão infantil, menos cabeluda e tão engraçada quanto o Massacration, com o agravante performático bizarro da vocalista Cynthia Mara, que aos quatorze anos assusta com seus trejeitos frenéticos pé-no-retorno à Bruce Dickinson, e com cacoetes vocais que mais lembram um urso rouco enfurecido.
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Antes da Cachorro Grande fechar o festival com os louros, aplausos e groupies que sua insuspeita popularidade lhes garantem, a Lafusa, de Brasília, dessa vez não foi feliz nos seus trinta minutos de palco, apesar do pop redondinho e adornado com guitarras wezzerianas, que já soou melhor em outras ocasiões.
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O PMW parece ser uma espécie de pai amoroso e paciente das bandas do Tocantins, e assim que surgir um grupo local com qualidade talentosa para marcar território no acirrado cenário nacional, o festival fatalmente será apontado como um dos culpados. Por enquanto a aposta da produção ainda é o fomento de bandas novas, e esse parece ser mesmo o melhor caminho para uma cidade tão jovem, e que espera a hora de tirar dessa efervescência toda, um cartão de visitas decente,que dialogue de igual para igual com os demais grupos espalhados pelos festivais tupiniquins.
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# O festival
Demo Sul, que acontece anualmente lá em Londrina (PR), recebe a partir de hoje (até o dia quinze de julho) material de bandas interessadas em tocar no palco da festa, que geralmente acontece em novembro. Os artistas interessados devem enviar um cedê (ou devedê) com a gravação de suas canções, e outro com
release, mapa de palco, fotos em alta resolução e quaisquer outras informações necessárias. Se você quer tentar uma vaga na folia paranaense, junta tudo isso aí e manda para:
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Rua Xingu, nº 136 – Vila Nova
Cep. 86025-390
Londrina – Paraná – Brasil
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- A última, só a última: O grupo californiano
The Calling, sucesso no início do milênio com músicas como
Wherever You Will Go e Adrienne, e extinto em dois mil e cinco, foi outro que também voltou à ativa e até já confirmou uma pequena turnê pelo terceiro mundo, no caso o Brasil.
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Segundo a assessoria da banda, estão sendo negociados datas em Goiânia, Recife, Belo Horizonte, Belém, Fortaleza e Manaus, além de shows aparentemente confirmados em
São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas e Florianópolis.
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Quem dá a notícia é o
Globo Online. Depois de Megadeth, The Calling!
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Se animou?
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Vou ali, já volto pra falar dos dez anos de
Bananada!