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terça-feira, julho 28, 2009

When Chico Meets Ray

Meus discos do Chico Buarque estão tão gastos quanto esquecidos. Até os vinte e poucos anos consumi uma meia dúzia de agulhas no clássico estereofônico da família com os bolachões de Construção (1971), Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo (72), Chico Buarque e Maria Bethânia Ao Vivo (74), Meus Caros Amigos (76), Ópera do Malandro (79), Vida (80), Almanaque (81), Chico Buarque (84), Francisco (87), Chico Buarque (89) e o Ao Vivo Paris Le Zenith (90) – alguns herança de família, outros fruto da minha obsessão adolescente pelos sebos da Rua 4.





Ainda estão todos lá, fazendo volume na minha coleção de discos de vinil, estabilizada em cerca de 1.500 títulos, honradamente entre o Ohio Players e o Traffic (na vida adulta, minha obsessão pelos sebos da Rua 4 multifacetou seu foco, e mesmo que os vinis sempre gritem de suas prateleiras quando vou fuçar nas colônias de ácaro da seção dos livros usados – amaldiçoando minha atual compulsão por downloads, infelizmente o volume de compra dos bolachões diminuiu drasticamente).


E apesar de estarem sempre disponíveis do outro lado da sala, os discos do Chico não saem da estante há muito tempo. Quando me perguntam se gosto, respondo de pronto que sim, e é a mais pura verdade, os discos listados aí em cima são parte importantíssima da minha formação musical e foram ouvidos, literalmente, à exaustão.


Mas olhando do alto dos meus quase 30 anos, sou capaz de apostar que a overdose deslumbrada com que sua discografia me foi apresentada ainda moleque, combinada à ovação oca e imitativa que 100% das mulheres burras que eu conheço se orgulham em ostentar em relação ao dito cujo, mais o repertório torturante de qualquer roda de violão tosca que eu tenha, involuntariamente, freqüentado, também têm uma parcela de culpa no meu atual saco-cheio com um cara tão boa-praça e com uma discografia tão respeitável quanto o Chico.


Mas só parei pra pensar nisso tudo depois que “descobri”, no segundo semestre do ano passado, o disco de estreia do pianista teen Vítor Araújo. Vitor estreou com um disco ao vivo de piano solo, e a despeito da monotonia que quase todo mundo espera de um álbum assim, o repertório caleidoscópico e o talento instrumental nada convencional do rapaz de 18 anos me atiraram certas verdades passadas na cara.





Não desenterrei meus vinis e nem sequer fui atrás de um download pra re-escutar qualquer coisa do Chico. Mesmo longe de qualquer disco dele desde quando me achava jovem e magro, ainda levo um tempo pra me desintoxicar completamente.


E o Vitor nem gravou só Chico. Misturou com Villa Lobos, Radiohead e Luiz Gonzaga, mas sua delicada versão para “Samba e Amor” ganhava ares cada vez mais poderosos toda vez que eu apertava o play, e usando essa canção como porta de entrada acabei assumindo, mais uma vez, o comportamento compulsivo de ouvir o mesmo disco insistentemente durante meses.










Mas (foco, Hígor, foco!) passei aqui “rapidamente” só pra compartilhar essa pequena jóia em vídeo, e tudo isso aí acima da telinha escapuliu antes de dizer que o talento do pós-adolescente prodígio também encontra conexões improváveis no interior de sua música, e recentemente descobriu um diálogo improvável e escondido por entre as notas de sua melhor gravação (a própria “Samba e Amor”) e “Hit the Road Jack”, como você sabe, um dos maiores sucessos do Ray Charles.


Se me permitem a contradição ingênua, é tão besta quanto genial!





P.S.: Fugindo rapidamente do tema, devo dizer (mesmo que pouca coisa tenha a ver com este post nada a ver) que concordo com o Pablo Kossa, que listou dia desses no Diário da Manhã uma série de razões pelas quais acha o Caetano muito melhor que o Chico.

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# Viu o Black Drawing Chalks no G1?
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