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Terceiro disco do Casa Bizantina, Estado Natural já foi investigado num texto que assinei no número 3 da revista Decibélica. Já o nº 4 (que ganhou as ruas semana passada - capa com os Rockassetes), traz uma curta entrevista com o grupo, que fiz antes do lançamento do álbum, quando os guitarristas/compositores Fabiano Olinto e Evandro Putz comentaram, em separado, cada uma das músicas do disco. Mas como a editoria da revista publicou uma versão miniaturizada do bate-papo, segue abaixo o faixa-a-faixa na íntegra:
"A Arte da Guerra"
Fabiano – Esse é um rock de preto! Suíngue... era uma poesia que eu tinha, e que foi publicada no concurso da editora Kelps, e aí eu peguei a poesia e coloquei o som.
Evandro - É minha e do Fabiano, uma das duas parcerias do disco. Fala da coisa da guerra, é uma onda mais pesada, e acho que lembra um pouco nosso primeiro disco.
"Menarca"
Fabiano – Eu tava num bar, uma chuva enorme caindo sobre mim, (acompanhando a letra) “... como o beijo do rio na boca do mar”. MPB? Tem MPB nela sim, é triste... Fala da mudança interna, aquela coisa de trocar as cascas, de identidade. Fala de um monte de coisas comprometedoras (risos).
Evandro - Na verdade, fala da mudança da mulher, da menstruação mesmo, da menina virar mulher... mas se olhar num outro conceito pode ser a mudança pessoal mesmo. MPB? Não, acho que não, eu não vejo MPB nessa música. Vejo esse disco inteiro como um disco de rock.
"Configurações do Espaço"
Fabiano – Essa tem influência de música brasileira. Acordes latinos... guitarras bem voltadas pro analógico, vintage, ligadas direto nos amplificadores, timbres mais crus. Levamos quase um ano pra gravar o disco.
Evandro – Essa tem uma influência de rock inglês, The Clash... Queens Of The Stone Age? Também, talvez... a introdução lembra um pouco né? Mas não fizemos pensando nisso. A letra fala de amor. É um tema que a gente sempre mexeu (risos)...
"Só Louvam"
Fabiano – É a remissão dos pecados. Eles sempre são perdoados no domingo, né, quando você vai à missa. Ou, alguns, quando vão ao puteiro... Com muita referência do rock britânico e do rock americano, às vezes é difícil transpor melodias, na hora de trazer do inglês pro português. A língua inglesa tem uma gangorra pra você cantar nas vogais, e no português há uma diferença. A gente tenta buscar essa variação.
Evandro - Acho que essa é uma das mais rock do disco! Me lembra anos setenta, é bem direta. Um questionamento sobre as nossas deficiências e no que a gente acredita, o porquê de cada coisa...
"Estado Natural"
Fabiano – Fala de uma renúncia, da privação, “...vamos mudar o estado natural das coisas”.
“Bom dia querida, você é o amor da minha vida. Mas eu não quero roupas no arame, nem quero criar filhos, nem quero ir à igreja. Felizes para sempre? Nós estaremos no retrato.”
Uma renúncia familiar, o outro lado...
Evandro - De novo a gente volta no amor, mas no amor que se foi. Num novo estado, o estado natural das coisas, o estar sozinho. Como a gente nasceu mesmo, só.
"Observatório"
Fabiano – Essa tem uma alegria brasileira com batidas duras do rock. É a música do poupador, do fazedor de parcimônias.
Evandro - Essa tem uns metais na introdução, gravados pelo Miquéias. E o Fabiano é foda! Ele deu a idéia dos arranjos de metais. É sobre o amor de novo, mas, diferente de ‘Estado Natural’, é uma esperança...
"Por Onde Anda Você?"
Fabiano – A história de uma garota cujo namorado nunca a conheceu, uma melodia ardida. E a monotonia vem... e ele nunca vai se encontrar com ela.
Evandro - Balada rock n’ roll, com uns violões acústicos. Umas viagens em tons diferentes. Esse é o disco mais ao vivo da banda, o show mesmo. Conseguiu transmitir.
"Bala Adormecida"
Fabiano – Dentro da gente não tem mais nada senão a vida, né? Aí, de repente, ele estava passeando pela rua, a família ficou órfã e ele... Trabalha com acordes invertidos, dá uma sonoridade mais grave, uma harmonia legal.
Evandro - Nessa gente quis homenagear um amigo que perdeu a vida por causa de uma bala perdida. Gravamos diretão, eu, o Marcelo e o Thiago (N. do E. Thiago Ricco, ex-baixista da banda, atualmente no Violins)! Gravamos de primeira, num take só.
"Dias Distantes"
Fabiano – Essa foi uma das primeiras músicas do disco, fala sobre um cotidiano raivoso, de um jovem trabalhador que estava insatisfeito com a vida, enquanto as coisas estavam girando... Fala sobre esse lance do encontro virtual também, internet, msn... marca os encontros nesse mundo virtual, existe um outro mundo agora, Matrix né? Não que seja uma comunicação desnecessária, mas... tudo o que a gente utiliza a gente joga fora, então...
Evandro - Eu acredito que essa música pode puxar o disco. Tem uma letra boa, e é boa de tocar ao vivo (risos). Também é uma das primeiras composições para esse álbum. O Iuri (Freidberger, produtor do disco) até tirou umas guitarras mais pesadas e deixou a música mais light.
"Fluxo Beligerante"
Fabiano – Goiânia já é uma cidade de fluxo beligerante, catastrófica no trânsito. Verdadeiros excitadores do caos! E um dia uma garota saiu correndo no meio desse trânsito, ferida pela relação com o seu amante. Elementos da música clássica, violoncelo... acordes dissonantes, elementos da nossa música...
Evandro - Essa a gente gravou quase de primeira também. O disco tava afiado, tinha três anos de gestação. Eu sempre tive vontade de ter cordas num disco meu, e essa música tem! O arranjo também é do Fabiano.
"Hey Man"
Fabiano – Um pouco de country-rock, com elementos da música brasileira. O acordeon é do jovem e fantástico Fridinho (guitarrista da Olhodepeixe). Aliás é dele também o solo de "A Arte da Guerra".
Evandro – Dave Matthews Band? Não, na minha cabeça não... Me lembra muita coisa de rock inglês, The Smiths... é uma influência do Fabiano. Pra gravar essa música nós pegamos escondido uma guitarra do Chaffin (N. do E.: músico e marido da cantora Maria Eugênia), uma semi acústica que estava lá no estúdio, mas ele não estava lá pra pedir emprestado. Mas eu acho que ele emprestaria numa boa.
"Adiante"
Fabiano - O cara tava sentado numa pedra e o vento estava batendo no rosto dele. Sabe aquele sentimento: aproveite esse único momento? Aproveite bem! Ela provoca, aguça o bem e o mal (gargalhadas inexplicáveis).
"Função Social do Amor"
Fabiano – Digamos que esse é o selo do contrato social, do contrato passional. Aí, então tá tudo certo, quando o amor chega à essência... tem uma levada sugestiva pra falar sobre amor. Tem umas melodias de metais bonitas.
Evandro – Essa é a outra balada. O curioso dessa música é que a gente quis deixar o vocal um pouco atrás, pra dar um ar meio largado, meio caído na cama, no sofá, bodado, cantando fora mesmo.
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