# Dia quinze último, debaixo daquela chuva que convidou meia cidade a ficar em casa e pedir uma pizza, aconteceu mais uma edição do Máxxxima, festival da Fósforo Records que reuniu duas centenas de garotos e garotas que não deram bola para a tempestade que enxaguava o Martim Cererê com violência.
Perto das quatro da manhã eu apostava que a Crazy Legs, a última das oito bandas da noite, não iria arriscar seus topetes para tão pouca gente, nem aventurar seu enorme baixo acústico debaixo de tanta água – para cruzar o pátio e chegar ao teatro. Mas para a sorte de vários fãs persistentes (e ainda empolgados), eu estava redondamente enganado, e mesmo perto da hora do café-da-manhã de domingo os paulistas puseram cento e poucos humanos para dançar, como num bailinho nada inocente de décadas atrás. Covers de Johnny Cash e Stray Cats fizeram os momentos mais quentes do fim de uma noite fria. Mas a essa altura eu já implorava por um travesseiro, e não esperei até o fim.
A goianiense Seven está cada vez mais afiada em seus experimentalismos psicodélicos – repletos de camadas e ecos cavernosos, e concentra esforços em derreter sua música ao máximo, desmontando e montando texturas profundamente lisérgicas. Para o clímax do show de sábado convidaram o pessoal da cearense Fóssil, que se apresentara há pouco, e numa combinação onírica e chapada espantaram os fãs do Gramofocas da platéia, que cambalearam até o bar e, contando as moedas, tentaram arranjar mais uma cerveja.
Já a Fóssil, que fazia sua segunda apresentação em Goiânia (a primeira havia sido numa memorável noite do Goiânia Noise de dois mil e seis), não fez um set tão impressionante quanto o da primeira vez, apesar de que suas atmosferas geladas e intensamente sobrecarregadas ainda funcionem muito mais ao vivo do que nas caixas de som da sua casa. O teatro foi se esvaziando conforme progrediam os dilatados opúsculos instrumentais, que alternavam ambiências intimistas com reverberações explosivas, e sugeriam um parentesco próximo com o que nos acostumamos a chamar de post rock.
Durante o show da Surfadélica a água resolveu cair com força total, isolando quem estava no bar e não queria se arriscar num banho durante a travessia de quinze metros. A curiosidade ainda me forçou a afinar os ouvidos e dar uma espiada de longe no som que escapava da porta do teatro, mas mesmo assim resolvi garantir meu lugar no seco.
Se você gosta de bebida barata e acha que os Ramones são a melhor banda do mundo, o show do Gramofocas foi feito pra você. Como eu já não mantenho nenhum disco dos novaiorquinos em casa, e abandonei a catuaba antes de completar vinte anos, o máximo que pude achar do show dos brasilenses foi graça. Teve gente que nem isso achou. Mas a molecada movida a pingorante ainda sabe se divertir com os três-acordes-a´billy do trio.
Antes deles as também locais Lenore, Grabóids e Baltazar tiveram seus trinta minutos de atenção, mas eu ainda não havia perdido meu medo da chuva (nem aprendido os segredos da vida), e aguardava inocentemente, em casa, o aguaceiro dar uma trégua. Pobre de mim.
# Onde quer que os Dead Rocks apareçam, eles levam seus terninhos, topetes e suíngue surfista, o que lhes tem garantido uma audiência das mais rebolativas Brasil afora. Não foi diferente na última quinta feira, quando fizeram a primeira de suas duas apresentações nessa passagem por Goiânia, lá no Bolshoi Pub. Os paulistas de São Carlos já são “velhos” conhecidos do pessoal daqui que gasta suas noites à procura de diversão roqueira, mas o público que equilibrava suas cervejas em frente ao palco não era majoritariamente composto por essa turma, o que prova que mesmo quem não ostenta aquele rançoso e conhecido “orgulho de classe” tem, pelo menos de vez em quando, bom gosto suficiente para não abandonar a pista e espiar de longe as boas bandas que passam pela cidade. Pelo contrário. A turba bem vestida e endinheirada cumpriu muito bem o seu papel de platéia dançante, e se deixou seduzir pela surf music desconhecida e impecável que lhes balançava os quadris. Não que não estivessem presentes figurinhas carimbadas do cenário udi-grudi local, mas a noite era mesmo dos saltos-alto e das camisas para dentro da calça.
Imunes a esse tipo de pensamento, Johnny Crash, Paul Punk e Marky Wildstone descreveram seu périplo instrumental como quem ensaia para os amigos, e entre seus pequenos sucessos, como One Million Dollar Theme e Easy Job, surpreenderam os desavisados com suas versões personalíssimas para o samba-canção As Rosas Não Falam, do Cartola, e para o bolerão Perfídia, de Alberto Dominguez. Faltou País Tropical, do Jorge Ben, mas depois de uma hora de rebolado e muita cerveja, ninguém se importou.
Ainda voltariam ao mesmo palco na noite de sábado (ontem), mas a despeito de ter me comprometido comigo mesmo (e com o trio de terninho) de que não perderia essa segunda festa, deixei a promessa de lado e me perdoei com o consolo de uma madrugada solitária entre cigarros e discos de vinil, abrigado de mais uma chuva violenta que se debatia lá fora.
# Aproxima-se o dia do lançamento do Portal Fora do Eixo, site do coletivo de jornalistas que, espalhados por todo o território nacional, se propõe a mapear e teorizar sobre os temas mais caros ao cenário da música independente brasileira. O site vai acolher opiniões, notícias e reportagens que pretendem entender e provocar tudo o que se relaciona a essa intensa movimentação roqueira que percorre o país, além de apontar links para os principais veículos online que pensam e espelham suas respectivas cenas locais.
# Dia desses fui lá no Rock Lab, o estúdio, para editar uma entrevista que fiz com o Léo Alcanfor, guitarrista do Mugo, para uma rádio de Palmas – TO, e acabei topando com o pessoal do Goldfish Memories, que gravava algumas músicas para seu primeiro disco cheio. A edição do papo (que vai ao ar na rádio 96FM de Palmas), foi jogo rápido, e depois de terminado meu serviço, o Xidan e o Renato Cunha me mostraram Think A Little, uma das canções novas que estão guardando para a estréia do Goldfish.
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No myspace do grupo tem uma amostra minúscula (menos de dez segundos) da música, e tanto segredo até tem razão de ser, já que Think A Little é mesmo surpreendente. De tudo que eu já vi do Goldfish Memories (o que não é muito, alguns shows e o EP de quatro músicas) essa foi a melhor coisa que puderam me apresentar. O EP, lançado ano passado pela Fósforo Records, exibe em seu DNA um desejo profundo de conexão com o Queens of the Stone Age, numa combinação de guitarras chapadas que tem seus melhores momentos justamente na associação com o grupo de Josh Holme. Think A Little não nega a genética, ainda se compromete com a dureza quebrada e adoravelmente pendular da eterna trindade baixo/guitarra/bateria, mas arrisca um tanto a mais de personalidade, e mesmo em meio à referências óbvias consegue um resultado dos mais atraentes. Resta esperar pra ver se o debut vai estar a altura de seu primeiro “single”.
As inscrições para o 4º TacabocanoCD se encerram na próxima segunda-feira, dia 24. Você que possui uma banda ou é artista solo não pode perder essa chance de divulgar sua música e ser reconhecido. Para participar, basta não estar vinculado a nenhum selo ou gravadora e não possuir CD prensado. Conheça o regulamento completo no site www.fosforocultural.com.br e baixe a ficha de inscrição. No dia 19 de abril, 10 bandas e artistas goianienses poderão tocar ao lado de grandes nomes do cenário independente brasileiro e, o melhor de tudo, concorrerão à gravação de um CD lançado pela Fósforo Cultural e produzido no Estúdio Rocklab!
Se você não está por dentro do alcance do festival, é só lembrar que o nosso mais recente hype local (que banca o headliner desta edição), o comentadíssimo Diego de Moraes, foi revelado para o mundo ao vencer o concurso empunhando apenas um violão e muita cara de pau. O resto da história você conhece, shows pela cidade, apresentações em São Paulo e Cuiabá, além de elogios rasgados de gente do cacife de Fabrício Nobre (você sabe, o da Monstro Discos) e Miranda (você também conhece, o produtor, jurado do Ídolos - SBT). Tá esperando o quê? Corre lá e tenta a sorte. Quem sabe sua banda não é tudo o que estamos esperando ouvir?
# Ainda é tempo de Festivais – Outra festa que incrementa o calendário rocker da cidade, no começo de maio, é a Tatto Rock Fest. Confere aí:
tatoo rock fest apresenta
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# E Não Acabou – Essa semana que começa hoje está das mais recheadas. Se você dispõe de alguns trocados, na quinta feira, dia vinte e sete, o Violins te recebe lá no Bolshoi Pub para o show de lançamento de A Redenção dos Corpos, quinto disco de sua carreira, que será, fácil fácil, o melhor lançamento do independente goiano em dois mil e oito. Se eu fosse você eu não perderia isso por nada.
# Agora, se a grana anda curta, o grande lance é o Festival Matéria Prima, que te recebe de braços abertos lá no Martim Cererê, no dia vinte e nove – sábado, e pra isso você não vai precisar nem de algumas moedinhas. A entrada é franca e as bandas são essas aí:
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17h - Technicolor
A mesa sobre mercado independente (dia vinte e sete) terá as presenças do consultor Marco Antônio de Mello e Cunha (Sebrae), do músico e produtor Luiz Chaffin, do Fabrício Nobre (Monstro Discos/MqN) e do compositor Lucas Faria.
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No dia vinte e oito a discussão será acerca da música na universidade, e os debatedores serão o professor Sebastião Rios (Universidade Federal de Goiás), a pianista Gyovana Carneiro, o maestro Jarbas Cavendish (UFG) e o compositor e violonista Arnaldo Freire.
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Você pode se inscrever para quantos debates quiser participar! Basta enviar um e-mail com seus dados (debate(s) de interesse, nome completo, RG, instituição de ensino e telefone para contato) para o endereço debates.festivalmateriaprima@gmail.com. Em pouco tempo, você receberá uma confirmação da data e horário!
Témais.
2 comentários:
Gostei do violão e da cara de pau... hehehe... mas faltou dizer que tinha a companhia da minha irmã, com 13 anos na época, participando tocando gaita, bateria e meia lua.
não tou (só) querendo vender o meu peixe, não... mas que o debate de hoje foi animal, isso foi!
valeu, hígor, por aceitar o convite, e valeu todo mundo que foi assistir... se toda aula na faculdade fosse igual o debate de hoje... heaoehoaehoae
abs!
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