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domingo, junho 29, 2008

Cada um no seu quadrado!

# O Pato Fu é uma das bandas mais sensíveis, elegantes e espertas do pop brasileiro, você sabe disso. Desde a época do lançamento de Daqui pro Futuro – o último disco dos mineiros simpáticos, que eu não botava o grupo pra fazer barulho por aqui. Mas resgatei justamente esse derradeiro álbum, e me situei novamente de que o Pato Fu é um dos conjuntos mais bem resolvidos do Brasil. Sua música tem uma sinceridade tão verossímil que devia envergonhar metade das bandas brasileiras de hoje em dia, tão interessadas em criação genuína quanto em esterco fresco.


A regularidade artística do Pato Fu é o seu maior patrimônio, e eles sabem disso. Em oito discos e quinze anos de carreira, assistiram vários fenômenos de vendas se despedirem dos holofotes depois de uma ou duas temporadas no auge, e eles que nunca tocaram o tal olimpo comercial das mega-vendagens, seguiam construindo uma obra cada vez mais consistente, tão ambiciosa quanto espontânea, e que acabou por cavar um lugar dos mais nobres na história da música brasileira contemporânea. No último Goiânia Noise, o show que fizeram no palco do Palácio da Música não só foi um dos melhores do festival, como conquistou a atenção até de muitos dos descrentes antecipados, numa celebração tão intensa quanto prazerosa. Sou quase capaz de apostar que daqui a uns vinte, trinta anos, quando nossos filhos estiverem naquela fase de remexer nos discos dos pais, vão redescobrir o Pato Fu com o mesmo prazer que a nossa geração redescobriu Os Mutantes. Sem exagero!







# E por falar em Goiânia Noise, o circo dos boatos (assunto do post anterior) continua a se movimentar. Dessa vez a pista dá conta de que os norte-americanos do Black Lips e os canadenses do Black Montain podem desembarcar em palcos Goianos no fim do ano, para possíveis shows no Goiânia Noise. Já o Porão do Rock, em Brasília, confirmou a presença dos nossos MqN e Black Drawing Chalks, da paraense Madame Saatan, das cariocas Autoramas, Canastra, Maldita e Matanza, da capixaba Mukeka di Rato, das Pernambucanas Mundo Livre S/A e AMP, da baiana Pitty, das Paulistas Nitrominds, Almah, Orgânica e Sayowa, além da gaúcha Tom Bloch.


Ao lado do já confirmadíssimo Muse, o Suicidal Tendencial diz que também vem pra festa candanga, além do grupo francês Papier Tigre (que no dia três de agosto toca em Goiânia, no Bolshoi Pub, e no dia oito no festival Calango, em Cuiabá), dos alemães do Sick City, dos argentinos hard-rock do The Tadooris e dos espanhóis do Kill Karma. Dezesseis bandas brasilienses disputam outras quatro vagas no line-up, nos dias onze e doze de julho. E completando o programa, outros treze grupos da cidade serão convidados pela produção.




# Já que o tema de hoje parece ser “festivais de rock”: O blog do Espaço Cubo, coletivo cuiabano dos mais ativos, manda avisar que o line-up completo do festival Calango sai amanhã, dia trinta, mas o Pablo Capilé, numa janela aqui do msn, me garantiu um atraso de um ou dois dias. Até agora já foram divulgadas as presenças ilustres do poderoso trio gaúcho Pata de Elefante, do suíngue paulista do Curumin e da experimentação fina do Hurtmold, além dos baianos do Cascadura, dos pernambucanos do Cabruera, do já citado Papier Tigre (FRA), do Mamelo Sound System (SP), do grupo argentino El Mato A Un Policia Motorizado, e do carioca Supercordas. Das duas das vagas restantes, uma vai para o ganhador das prévias do festival, e outra vai para a escolhida entre as bandas participantes do Compacto.REC - projeto que nasceu ano passado e integrou quase quarenta veículos online em lançamentos simultâneos de singles virtuais, de artistas de diversas partes do país.

Mas extra-oficialmente Goiânia Rock News dá garantia das presenças da divertidíssima Jumbo Elektro e do seu desdobramento nacionalizado, o Cérebro Eletrônico. A carioca Do Amor, que esteve na última edição do Bananada (assim como o Cérebro Eletrônico), também já carimbou passagem para Cuiabá, assim como os nossos Diego de Moraes e MqN. Além do Garage Fuzz, do Porcas Borboletas, do Elma e do Fossil. Amanhã ou depois eu confirmo o resto das atrações que vão tentar fazer Cuiabá tremer no começo de agosto

O Festival Calango de Artes Integradas acontece de cinco a dez de agosto, na cidade de Cuiabá, apelidada pelos locais de Hell City, devido às suas temperaturas de forno micro-ondas. Goiânia Rock News também deve viajar até Hell City para acompanhar as festividades de perto.




Móveis Coloniais de Acaju

# E não é que o Móveis Coloniais de Acaju, a big-ska-band candanga, vai levar seus trombones, trompetes e coreografias engraçadinhas até o velho mundo, para o palco do festival Pukkelpop, na Bélgica. Jan Keymis, um dos produtores da festa belga, esteve em Goiânia em novembro passado, acompanhando in loco o último Goiânia Noise, e pôde conferir o poder da banda candanga ao vivo, que tocando antes dos DT’s e do Pato Fu, não teve a menor dificuldade em comandar a massa como quis, numa apresentação tão entusiasmada quanto explosiva. Então o convite para a apresentação na Bélgica, analisando assim, faz todo o sentido.


A programação do Pukklelpop dois mil e oito é quase nada, dá uma espiada: Sigur Rós, Metallica, The Killers, Bloc Party, Soulwax, Serj Tankian, Soulfly, Tricky, Boyz Noise, Miss Kittin, Dirty Pretty Things, Simian Mobile Disco, Anti-Flag, The Gunter Twins, Breeders, Hot Chip, Black Kids, Black Mountain, Futureheads, Holy Fuck, Editors, Manic Street Preachers, Meshuggah, Cold War Kids, Móveis Coloniais de Acaju, e muitas, “milhares” de outras bandas.


Vai estar na Bélgica no meio de agosto próximo? É mesmo? Então clique aqui para conferir o programa completo do festival.




# Começando aqui a ouvir o tal Red Álbum, o novo do Weezer, já ouviu? Ainda não tenho opinião nenhuma para dar, mas, assim na primeira orelhada, estou achando até divertido, apesar de soar como... o mesmo Weezer de sempre (se isso é bom ou é ruim ainda não sei), mesmo que em The Greatest Man That Ever (um quase hip-hop transmutado naquelas mesmas alternative-guitars), e em Cold Dark World, o grupo tente um vôo mais alto, e que Everybody Get Dangerous seja realmente empolgante – num flerte improvável entre um Red Hot Chilli Peppers mais tímido e qualquer banda decente do rock alternativo noventista. De qualquer modo minhas primeiras audições não tem dito nada seguro sobre nada. Geralmente até sei se vou gostar ou não de um disco nas primeiras ouvidas, mas fui surpreendido por umas auto-insistências “bestas”, e estou mais cauteloso por enquanto.


Não é por nada, mas atualmente o titular por aqui tem sido o Viva La Vida Or Death and All His Friends, do Coldplay, que é um disco de canções tão poderosamente bonitas, que perto dele a ingenuidade quarentona do Weezer perde um pouco daquele charme de comédia romântica inglesa do Nick Hornby. Aquele papo de adolescência tardia fica meio bobão diante da melancolia minimalista sobrecarregada do Coldplay. Mas isso é conversa pra daqui um ou dois posts.


Clarah Averbuck/Leandra Leal
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# Há muito tempo que ensaio ler o Máquina de Pinball, livro da Clarah Averbuck, mas nunca decidi comprá-lo, e das tantas vezes que estou de bobeira numa livraria, nunca me lembrei de procurar. Mas ontem (ou antes de ontem), dando uma olhada no Urbanaque - site vizinho editado pelo simpático Bruno Dias, esbarrei com um link para download do livro. Acontece que, como você já deve ter ouvido por aí, o cineasta Murilo Salles resolveu filmar uma história baseada nesse livro, e chamou a gracinha global Leandra Leal pra fazer o papel da Camila, protagonista da obra, e o lançamento da fita deve ser qualquer dia desses próximos.

Estou confuso. Acho que não estou gostando do livro, mas ainda não sei se é pela vulgaridade orgulhosa e forçada em tons auto-biográficos ou pela verborragia “beatnik” duvidosa. Mas vou até o final, quem sabe essa vontade doida de ser a filha bastarda e bêbada de uma cópula esquisita entre o Bucowski e o Nick Hornby ainda faça algum sentido.



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# Sábado agora, dia cinco de julho, acontece a Festa do Quadrado, lá nos corredores escuros, escadarias apertadas e pistas-de-dança amplas e charmosamente decadentes do CETE (Centro de tecnologias do Espetáculo), ali na avenida Anhaguera, no setor Oeste, ao lado do bosque do lago das Rosas e em frente ao teatro Inacabado. No line-up, oito djs que prometem pista cheia até de manhã, com o melhor do rock, pop, electro-rock, funk e modernidades correlatas.

Goiânia Rock News disponibiliza duas cortesias VIP para seus leitores, e para correr o risco de garantir uma delas pra você é só se dirigir até a caixa de comentários aí embaixo, deixar anotado seu nome, e-mail e me dizer qual o melhor disco do ano até agora, na sua humilde opinião.
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O meu, por enquanto está entre os novos de Sigur Rós, Lenny Kravitz, Coldplay e Black Crowes. Sem contar o disco do Macaco Bong, que beira a genialidade. Mas vai lá, diga o que tem lhe comovido o coração e arrisque-se a ganhar nome na lista VIP da festa mais cool do fim de semana.



Agora é sério. Tchau procê.




domingo, junho 22, 2008

Lista VIP

# The Hives no Porão do Rock? - O grupo sueco (dono da divertida Tick, Tick, Boom) informa, em sua página no Myspace, que um dos shows que farão no Brasil será em Brasília, num tal festival “Parao” do Rock, dia cinco de setembro. Mas o POrão do Rock acontece no começo de agosto (e não de setembro) e já confirmou o Muse como atração principal (além dos intensos boatos sobre a possível vinda do Suicidal Tendencies). Porém, Fabrício Nobre – produtor de eventos da Monstro Discos e vocalista do MqN, apagou a chama que os suecos, sem querer, acenderam nas já crepitantes especulações sobre a escalação do festival brasiliense, esclarecendo que o show dos Hives é dentro de um projeto à parte, chamado pílulas Porão do Rock, que acontece trimestralmente em Brasília, e está de fato marcado para o dia cinco de setembro, portanto fora do festival Porão do Rock, que acontece no início de agosto. Então se você já estava se animando, pensando que veria Muse e Hives num mesmo fim de semana, agora já pode se decepcionar.


Mas, olhando a coisa por outro lado, é uma outra ótima desculpa para mais uma viagem até Brasília, depois de um mês inteiro, para se recuperar do show do Muse. Mas, analisando por um terceiro (terceiro?) lado, será que alguém ia se importar com o Hives depois de ver o Muse?




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# E já que os boatos estão na ordem do dia, tem um rolando pela web que dá a pista de que a Bad Chopper, banda de CJ Ramone – último baixista dos Ramones, estaria sendo negociado para uma apresentação em Goiânia. São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, ao que parece, estão com datas confirmadas. Eu, que nunca perdi meu tempo ouvindo Ramones e não tenho nenhum apreço especial pelo punk rock, não fiquei muito impressionado com a notícia. Você, por acaso, ficou?
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# Quem está se tornando habitué dos palcos goianienses é o patrono quase-famoso do grunge, o Mudhoney, que já foi anunciado para protagonizar a festa de lançamento do XIV Goiânia Noise festival, em outubro, dentro das celebrações dos dez anos da Monstro Discos. Não, não é questão de mau-humor, mas esse é outro grupo adorado que não me causa a mínima emoção. Ano passado, no Porão do Rock, usei a apresentação da banda de Mark Arm e companhia para engolir alguns litros de coca cola, e me recuperar do show que o Sepultura acabara de cometer, beeeem longe da louvação grunge que acontecia no palco. Nada pessoal, mas eu também não tenho nenhum disco do Nirvana. Já o Soundgarden tem lugar VIP na lista das minhas predileções.
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# Mais uma vez Axl Rose (e sua caricatura atual de Guns n’ Roses) consegue holofotes para o “agora vai” do lendário e incógnito Chinese Democracy, e dessa vez até a Amazon britânica – a loja virtual – entrou na história, garantindo ter o disco para pré-venda, por módicas 9,98 libras (por volta de trinta reais). Meu interesse por Guns n’ Roses não aumentou com esse hiato de quinze anos entre o último álbum de estúdio do grupo (o famoso disco de covers The Spaghetti Inciddent?) e o possível lançamento do tão prometido Chinese Democracy, e se já naquela época eu, então um jovem adolescente ávido por guitarras barulhentas, não via tanta graça na rebeldia teatralizada do Axl, e preferia ouvir os discos do Aerosmith, o tempo quase apagou o interesse meio zoológico que eu nutri algum dia pelo ex-mega-fenômeno californiano. Mas qualquer dia desses, quando esbarrar em algum link por aí, eu até cedo alguns megabytes do meu agá-dê para descobrir por que o outrora galã hard rock demorou tanto para parir esse disco. Mas depois, agora não. Vou cortar a unha do pé, primeiro.
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# Acho que amanhã vou lá no Centro Cultural Goiânia Ouro pra assistir ao show do Filhos de Maria e Madalena. É, também não conhecia, mas recebi um release por e-mail que me informou que se trata um conjunto bem novo, e que conta com a presença dos ilustres Diego de Moraes (a nossa Mallu Magalhães) e Aderson (Orquestra Abstrata), além do tal Fernando Simplista – figura que o Diego sempre me recomendou tanto, mas que eu nunca consegui conferir ao vivo –, Chello, Bruno e Gabiras. O texto do release garante ainda que o repertório do grupo é todo composto por “músicas novas e muito lindas, cheias de cores diversas (...) canções que sejam capazes de moverem, de mudarem posições irredutíveis, conceitos criados por uma meia-dúzia de cabeças, mostrar pro mundo inteiro que a dicotomia existe e que ninguém é normal.”
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Errr... apesar disso eu fiquei curioso. Juro!
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Lipstick
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# Quem manda avisar é a Andréa Ariani, do clássico sítio vizinho, o Zona Punk: O ZP, que conta quase dez anos anos na web, promove a partir do dia vinte próximo a Zona Punk Girls Tour, que com as bandas Hi-Fy, Condessa Safira, Lipstick, Killi, Mixtape e Fake Number percorre parte do estado de São Paulo, segue Paraná adentro e chega até Santa Catarina, num total de dez shows de conjuntos comandados por garotas no vocal. O Itinerário da tour inclui a cidades de São Paulo, São José do Rio Preto, Santos, Santo André, Ribeirão Preto, Florianópolis e Curitiba, além de algumas datas ainda por definir, o que pode acrescentar novas datas e endereços ao roteiro. Maiores informações você consegue lá na home do Zona Punk.
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Vou ali e volto já

terça-feira, junho 17, 2008

With a buzz in our ears we play endlessly

# # Já que o Muse confirmou, oficialmente, presença na edição dois mil e oito do Porão do Rock, você deve ter comemorado a boa notícia e agora está pensando em como organizar sua vida para viajar até Brasília e assistir, colado na grade, ao show de uma das melhores bandas do rock britânico da atualidade. Correto?
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Em dois mil e sete, ano passado, o festival trouxe o charmoso Bellrays para brilhar como melhor apresentação do line up, apagando a estrela xadrez do Mudhoney, que teve de se contentar com a atenção exausta de pouco mais de quinhentas das milhares de pessoas que pouco antes se debatiam empolgadas diante do Sepultura.
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Isso sem contar a surpresa que muita gente estampou na cara com o show hipnótico do trio instrumental cuiabano Macaco Bong, a apoteose caseira do Móveis Coloniais de Acaju, o grindcore comediante em sua melhor forma do Galinha Preta, e a celebração que, geralmente, acompanha os shows da Nação Zumbi.
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Para a edição dois mil e oito, que acontece nos dois primeiros dias de agosto, a produção já confirma, além do Muse, as presenças de Mundo Livre S/A, Matanza e Supergalo.
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O Matanza e o Supergalo eu passo. Aceita?
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# A maravilha angélica da terra do gelo, Sigur Rós, “deixou escapar” para a internet seu novíssimo quinto álbum. Depois de Harfv/Heim, disco duplo que o grupo islandês lançou ano passado (e que se dividia em versões mezzo acústicas e ao vivo de canções já conhecidas, e de algumas outras faixas inéditas), Með suð í eyrum við spilum endalaust apareceu na web dia desses, e ainda está se acostumando ao meu agá-dê. Segundo o google indica, os anagramas incompreensíveis que batizam o disco querem significar algo do tipo “Com um zumbido em nossos ouvidos nós tocamos infinitamente”, e a placidez melancólica acomodada em meio à percussão minimalista e contemplativa de canções como Inní Mér Singur Vitleysingur e Festival dão ao disco o tom dramático e solene que faz do Sigur Rós uma das melhores e mais genuínas formações do pop atual.
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Não é de hoje que a música do Sigur Rós carrega nas costas a etiqueta confusa do post-rock, e a despeito das limitações que um rótulo, em geral, impõe, aqui a definição acaba fazendo sentido, na medida em que as viagens psicodélicas geladas, carregadas de um lirismo onírico envolvente, distante e, ao mesmo tempo, perturbador, dispensam todos os clichês e ignoram a batida básica do rock, substituindo estrofes e refrões por painéis melódicos mais preocupados em atmosferas e ambientações. A aproximação com o rock progressivo também é somente sugerida, insinuada, já que as canções do conjunto não desvelam nada daquela grandiloqüência instrumental tão característica do gênero, substituída magistralmente por um comovente, e por vezes explosivo, intimismo mortiço. Sigur Rós, e seu Með suð í eyrum við spilum endalaust, carregam a trilha sonora perfeita tanto para domingos meditativos, quanto para um pôr-do-sol romântico, mas se, por acaso, você estiver deprimido e cogitar a hipótese de cometer suicídio, ouvir esse disco não vai te ajudar a mudar de idéia.
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O primeiro single é Gobbledigook, e o vídeo-clipe é cheio de gente correndo pelada pela selva gelada, num ritual que aproxima o paganismo europeu daquela libertinagem hippie de outrora. A versão original você pode conferir clicando aqui, já que o Youtube não permite que eu o ponha diretamente na tela do blog, devido à sua carga “imprópria”, mas aí embaixo tem uma outra versão, em fotos, do vídeo, que você até pode abrir no pecê do trabalho, desde que seu chefe não esteja por perto. Play:


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# Outro grupo que está perto de lançar material novo, fala português (mas prefere receber seus cachês em euro) e é mais conhecido no velho mundo pela sigla que designa seu nome de batismo. O Cansei de Ser Sexy já botou seu single novo, Left Behind, na grande rede, e se não é exatamente a melhor canção que já passou pelos Youtubes da vida, também está longe de ser a pior. Vai servir bem para as pistas de dança do meio da madrugada (naquela hora em que quase todo mundo já tiver aditivado seus copos com isso e aquilo), encaixada entre D.A.N.C.E., do Justice, e Dance to the Underground, do Radio 4. É uma canção tão simples quanto divertida (com muito mais guitarras do que em qualquer outra música do primeiro disco), que simula cinicamente uma inocência que o CSS já perdeu, e prova que o grupo não tem medo de soar como uma paródia precoce de si mesmo, já que continua reprocessando clichês do electro pop e do rock com um frescor quase infantil.
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E você, o que achou?
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Nuda
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# Na última quinta feira, seguindo indicação do baixista do Violins, o Thiago Ricco, fui ver a apresentação da banda pernambucana Nuda, lá no Café teatro do centro cultural Goiânia Ouro, dentro da edição de dia dos namorados do Low Amp, projeto de shows “acústicos” da produtora Fósforo Cultural.
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A goianiense Gloom também se apresentaria, mas mais uma vez não cheguei a tempo de assistir ao show dessa banda, que pelos comentários aqui e ali, me despertou curiosidade. Quando entrei no café teatro, o grupo recifense já estava de posse das atenções das poucas dezenas de humanos instalados confortavelmente em suas mesas e cadeiras – coisa rara. A equalização do som não estava das melhores e pouca coisa se entendia das músicas, mas a desculpa simpática do grupo (que não teve como fazer muita coisa a respeito) foi a de que o show em Goiânia teve de ser com o "freio-de-mão puxado", dada as condições mais “calmas” que o lugar (e a produção) exigia. Antes de Goiânia a banda havia se apresentado em Uberlândia – MG, e depois daqui seguiria para Cuiabá, onde se apresentaria no festival do coletivo local Volume.
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A música da Nuda se situa naquela interface desgastada entre o pop de guitarras e referências populares da música brasileira, que quase entupiu as veias do rock nacional pós-manguebit com todo tipo de charlatanismo batuqueiro, muitas vezes celebrado pela mediocridade como herdeiro testamental do legado neo-tropicalista de Chico Science.
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Mas o Nuda, aparentemente, se mantém distante dessa turma de retardatários e transita com uma cautela desconfiada pelos dois universos, disfarçando sua pretensão bossa-nova em guitarras tranqüilas, cheias de sotaque brasileiro e de uma lisergia tão cândida quanto discreta. O EP Menos Cor, Mais Quem, carrega cinco canções, entre as quais o destaque maior vai para a distorção romântica de Colibrilho e para o quase-rock-progressivo Fato Mamado Vado.
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# Pra terminar – E por falar em charlatanismo, estava eu navegando à deriva na grande rede e, não me lembro como e nem por que, caí num freak-show de pseudo-argumentos evangélicos que seria ainda mais cômico se fosse trágico. O papo do pastor é sobre Música e Adoração, e ele tenta te convencer de que há certos instrumentos e ritmos que devem ser evitados em nome da moral, bons costumes e blá, blá, blá. Dá um toque esperto, dizendo que tambores e bateria não são instrumentos abençoados por deus, já que não são citados na bíblia, e mais blá, blá, blá. Agora, amigo leitor, adivinha se o pop e o rock não estão entre os alvos prediletos da intolerância decrépita do sacerdote protestante perdido no tempo:
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Há pouco tempo, estava ouvindo a um dos noticiários de Paul Harvey
e ele contava sobre um experimento recente no qual se verificou o tempo
que era necessário para que camundongos conseguissem passar por um
labirinto. Na primeira vez, eles atravessaram sem qualquer música, cinco
minutos mais rápido que o grupo de controle. Na segunda vez, foi tocada
música clássica e atravessaram em oito minutos mais depressa. Na terceira
vez, foi tocada música “pop” e não só levaram vinte minutos a mais, como
também se voltaram uns contra os outros e começaram a matar-se. Se a música
pode provocar tal efeito em camundongos, então o mesmo é verdade com seres
humanos.

(...)

Desde que em Nova Orleans surgiu o Jazz, estava lançado no
mundo um novo e moderno caminho pelo qual o inimigo tem
acesso à mente de maneira que Cristo não seja desejado. De
muitas maneiras e variantes este tipo de música atravessou o
período da Segunda Guerra Mundial. Chegando, porém, a década
de 50, Satanás fez o lançamento do mais poderoso artigo de sua
indústria de perdição. Fez um pacto com um agente que, apesar
de ter sido cantor de coral de igreja, acabou se tornando o maior
ídolo da música popular que o mundo teve: Elvis.

Em 1963 seu pacto foi com quatro agentes de Liverpool.
Colocou em suas mãos guitarra, bateria e inspirou seu canto.
Tornaram-se tão populares no mundo todo a ponto de receberem
condecorações oficiais da realeza, e a ponto de John Lenon afirmar
que eram mais populares que Jesus Cristo.

(...)

Outro efeito negativo da batida do ‘rock’ é a alternância, um movimento
homolateral no cérebro que causa a atividade de um lado devido às ondas
cerebrais estarem fora de sincronia. Como resultado, o corpo fica num estado
de alerta e confusão. A alternância também causa dificuldades de percepção,
diminuição no desempenho, hiperatividade e inquietação, redução na capacidade
de tomar decisões e perda de energia sem razão aparente. Há também uma queda
na dose de açúcar no sangue (a fonte de nutrição do cérebro) que, depois de um
período de tempo, resulta em mudanças estruturais nas células cerebrais. Isso
causa a seguir a incapacidade do corpo em distinguir entre o que é bom e o que
é prejudicial. Também reverte os princípios da moralidade rejeitando o que é
bom e acolhendo o mau”.
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Tá bom ou quer mais?
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Tchau

segunda-feira, junho 09, 2008

Mastigando Clichês

# O disco novo do Coldplay, Viva La Vida or Death and All His Friends, caiu na web dias atrás, e o conjunto britânico resolveu disponibilizá-lo também em sua página no Myspace - para não bancar o atrapalhado. Coldplay é uma banda de canções, na acepção mais literal que o termo tem, e mesmo escondendo sua singeleza melódica entre arranjos e detalhes grandiloqüentes, Chris Martin e sua turma não conseguem ocultar sua preferência por harmonias simples, sentimentais e, por isso mesmo, muito eficazes na arte de emocionar os melófilos mais sensíveis – estes seres estranhos que ainda gastam seu dinheiro em discos (apesar da tonelada de downloads), e continuam perdendo tempo diante de blogs que se dizem especializados no assunto.


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# O quinteto acreano Los Porongas, dono de um dos melhores shows do indie nacional (e de um disco nem tanto), deixou o selo Senhor F Discos, depois da parceria que rendeu o infeliz debut da banda. E o rompimento não pareceu nada amistoso, com farpas trocadas pelos dois lados, em comunicados oficiais.
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O início da semana passada, Fernando Rosa, o nome por trás do selo/site, divulgou nota na página da etiqueta brasiliense no Myspace, assinada também por Philipe Seabra, Ex-Plebe Rude e produtor musical parceiro do jornalista. Nela, o tom é de desabafo:
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A banda acreana Los Porongas não pertence mais ao "cast" do selo Senhor F.
Por decisão unilateral, a banda assinou contrato com a produtora paulista
Barravento Artes. Com isso, o selo Senhor F Discos não mantém mais nenhum
vínculo presente e futuro com Los Porongas. Os direitos sobre o disco de estréia,
lançado em 2007, bem como a edição do DVD licenciado pelo Itaú Cultural,
permanecem com o selo.
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E ainda diz lamentar “a condução do processo que reproduz velhos esquemas supostamente superados”. E ensaia uma análise que acaba por concluir que “os fatos apontam para o afastamento da banda dos espaços, conceitos e compromissos que norteiam a cena independente”, num evidente descontentamento com a atitude do conjunto de se associar à produtora paulista.
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A banda, por sua vez, se justificou com um comunicado à imprensa, que respondeu, com certo ar de surpresa e dividindo o assunto em tópicos, à aspereza textual do selo:
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1 - (...)Se houve alguma decisão unilateral neste processo, esta foi a tomada
por parte do selo, que encerrou, através de uma nota na internet, uma parceria
iniciada em dezembro de 2005, deixando todos os integrantes da banda consternados,
uma vez que não fomos avisados com antecedência sobre a publicação dessa nota.
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2 – (...)por não termos nenhum contrato oficial que intitulasse o Senhor F como
produtora da banda, sempre nos sentimos com a total liberdade de procurar
parcerias voltadas para esse tipo de trabalho;
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4 - Durante todo o processo de negociação com a Barravento, deixamos bem claro
que o intuito da banda era de continuar fazendo parte do Senhor F Discos, e que
nossas relações com o selo continuassem as mesmas, exigências pronta e cordialmente
aceitas pela agência.
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5 - Expressões como “velhos esquemas supostamente superados” e “o afastamento
da banda dos espaços, conceitos e compromissos que norteiam a cena independente”,
contidas na nota, nos deixaram extremamente surpresos, simplesmente por não
condizerem com a postura da banda em toda sua trajetória, e também pelo fato de
serem publicadas num veículo respeitado e com considerável número de acessos,
como é o site Senhor F.
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6. A discussão sobre os direitos patrimoniais da obra dos Los Porongas e
demais assuntos relacionados será feita em particular, como orienta o bom
senso, o profissionalismo e a prática de uma relação que se construiu com
base no diálogo, no companheirismo e na verdade nestes mais de dois
anos de caminhada.
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Muse
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#E o Porão do Rock, festival que deveria acontecer em junho na capital federal e que foi adiado para o início de agosto, sofre uma nova onda de boatos, da mesma família daqueles que prometeram Queens of the Stone Age e Black Crowes em edições passadas. Mas, ao que parece, agora é sério, e a maior festa do rock candango já anda divulgando (na surdina) a vinda do Suicidal Tendencies (que esteve há pouco no país) e do Muse - essa última uma das melhores formações do pop britânico atual -, para bancar os headliners do festival, que no ano passado trouxe o glorioso show do Bellrays e a apresentação requentada do Mudhoney, para essa função. No site do trio inglês não há nenhuma referência a shows no Brasil, mas consultando uma ou duas janelas aqui do msn, pude “confirmar” que o papo procede, e que você pode mesmo começar a economizar nos psicotrópicos, para que quando chegar a hora você não esteja desmonetarizado e infeliz por perder o show de rock do ano (pelo menos aqui no meio oeste brasileiro).
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Do Suicidal Tendencies eu nunca gostei, propriamente, ainda que já tenha esbarrado uma vez ou outra com alguns dos discos dos tiozões com skates e bandanas. Acho até que perco uns dez minutos dando uma olhada no show deles, caso os rumores se confirmem, de fato.
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# Estréia amanhã, terça feira, no Fox Channel, o seriado 9mm – São Paulo, alardeada como a primeira do canal inteiramente produzida em alta definição no Brasil e para o Brasil. A série, que conta inicialmente com apenas quatro capítulos, gira ao redor do universo policial de São Paulo, com todos os registros que escorrem daí: violência, corrupção e tudo o mais que faz sucesso em seus congêneres estrangeiros, mas com a adição daquele veneno cru que só o terceiro mundo sabe administrar. A julgar pelas chamadas e pelos spots no Youtube, a coisa, apesar de mastigar um clichê, pode ser mesmo legal:
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# O festival Calango, que acontece na primeira quinzena de agosto em Cuiabá, promete a maior de suas edições para dois mil e oito, que também sediará o primeiro congresso nacional do Circuito Fora do Eixo, onde jornalistas, produtores e músicos se encontrarão para discutir essa intensa movimentação cultural que o coletivo tem conseguido realizar, através da integração de festivais como o Grito Rock, ou da articulação de críticos, repórteres e colaboradores do portal Fora do Eixo, que registra e documenta as ações mais relevantes desse cenário fervente. Acontece também, durante o festival, a reunião da Abrafin (associação brasileira dos festivais independentes), encontros do projeto BM&A – Comprador & Imagem da Brasil Música & Arte – que levará jornalistas e músicos europeus, além de seminários sobre Economia Solidária, oficinas com temas nos setores de música, audiovisual, comunicação independente, teatro, literatura, artes visuais, enfim, toda uma série de eventos-satélite.
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Quem dá o recado é o blog da produtora Espaço Cubo:
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Além das várias atividades que serão promovidas no mega-fodástico Calango 2008, uma em especial vem movimentando desde já a rede do Circuito Fora do Eixo. Trata-se do 1º Congresso dos Fora do Eixo, que acontecerá em Cuiabá durante os dias de festival. À ocasião caravanas de todo o Brasil, formadas por produtores, jornalistas e bandas integradas ao CFE, se encontrarão em Cuiabá pela primeira vez, para debater planejamentos, estratégias de ações e outras questões, com vistas a constituir o Programa Fora do Eixo 2009. Se você é banda, produtor, jornalista ou interessado e não participar de nenhum coletivo integrado pode entrar em contato, solicitando mais informações pelo e-mail contato@foradoeixo.org.br.
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Cabruera (PB), Supercordas (RJ), Mamelo Sound System (SP), Papier Tigre (França) e El Mato Un A Policial Motorizado (Argentina), já são comes confirmados para o line up, e Goiânia Rock News provavelmente viaja até Cuiabá para acompanhar as festividades.
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Volto Já

terça-feira, junho 03, 2008

A Candura Castiça (ou Bananas For You All)

# O Bananada é o festival primo-irmão do Goiânia Noise, e tem como principal objetivo dar mais visibilidade para a produção independente local. Diferentemente de seu mano mais famoso, a festa volta seus holofotes para as bandas da cidade, e convida grupos de fora para coadjuvar alegremente com melhor do rock feito em Goiânia. A fórmula tem dado tão certo que na edição dois mil e oito a Monstro Discos, produtora do Festival, resolveu inventar e arriscou como headliners, duas atrações que você não vai ver em nenhum outro festival Brasil afora.
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Mechanics
Fotos deste post: r0cket
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Para fechar os trabalhos da sexta-feira, primeiro dia, a Mandatory Suicide foi arrancada das entranhas esquecidas dos anos noventa, e de volta à vida por quase uma hora inteira, relembrou alguns clássicos do underground goiano da década passada, numa ode rediviva que encaixou novamente a virtuose do Van Halen e a fúria do Pantera numa performance vocal que, caso você estivesse lá, te lembraria o Faith No More. A primeira música do set list, Just A Simple Comment, presente na última demo-tape (lembra delas?) Taste, Feel & Enjoy, foi a senha para que o teatro se enchesse da gente que, até então, passeava pela feirinha de fetiches pop, armada no pátio do Martim Cererê, e/ou engordava as filas da cerveja. Passeando, em medleys, pelas canções de Shout To The Crowd, seu principal registro oficial, o quarteto chegou ao cume nostálgico com Journey to the Center of Myself (também presente nessa última demo), espécie de hard-rock climático e progressivo, que fez muita gente sentir saudade da adolescência cheia de calças rasgadas, patches de bandas inglesas de outros tempos e de shows ao ar-livre na praça universitária.
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As apresentações da cuiabana The Melt e da paulista Sapo Banjo, também na sexta feira, passaram em brancas nuvens, culpa da avalanche de entrevistas que a maratona ininterrupta de shows sempre provoca. E o W.O. do redator também foi observado, no sábado, durante os shows da paraense Filhos de Empregada, e da catarinense ABesta; no domingo a ausência pôde ser percebida nas apresentações da brasiliense Fire Friend, da pernambucana Amp (que eu já havia visto alguns dias antes, na pré-festa do festival), da gaúcha Identidade e da lenda carioca A Grande Trepada.
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No domingo a farra de despedida ficou a cargo da outra aposta. A tal Banda da Eline, figurinha carimbada do rock daqui, acabou sendo uma grande e embriagada confraternização de músicos que, entre banhos de cerveja, instrumentos desplugados e muito pouco espaço livre no palco, recriaram vários “hits” do repértório roqueiro goiano. Entre tantas outras, músicas de Mechanics (Sex Misery Machine e Formigas Comem Porra), MqN (Heart of Stone e Burn, Baby, Burn) e Rollin Chamas (É O Sal) , mantiveram a eletricidade de um público ensopado de suor e cerveja, aparentemente despreocupado com os deveres da segunda feira que nascia.
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Sábado foi o dia de a cidade conhecer de perto o fenômeno indie mais comentado na internet brasileira, e a caravana desesperada que invadiu o teatro Pyguá aos tropeços estava disposta a reproduzir o frisson aprendido nas telinhas do Youtube, numa ovação tão surda quanto barulhenta (dando poucas chances às singelas e delicadas melodias que a Mallu Magalhães, sozinha diante da multidão, arrancava desajeitadamente de seu violão). A debutante mais famosa do pop nacional dispensou o melhor de sua simpatia envergonhada de adolescente, cantou suas músicas com um esforço genuíno e soube ignorar um chiclete atirado em sua direção, mas apesar de sua candura castiça e do contexto jogar a favor, ainda carece de aulas de violão, muitas horas de ensaio e de alguns aniversários, para se candidatar a um posto definitivo na história do novo rock brasilis.
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Do Amor
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Depois de abandonar o palco e voltar ao camarim, sempre acompanhada pelo pai vigilante, a jovem donzela folk atendeu a todos os jornalistas e/ou curiosos com a mesma atenção dedicada e o mesmo charme involuntário, e respondendo à minha pergunta sobre quais shows esperava ver no Bananada, disse que daria pra assistir pouca coisa, já que no domingo mesmo estaria num avião de volta à São Paulo, para responder presente na aula do primeiro ano colegial, na manhã de segunda feira. Dude Magalhães, o deslocado e orgulhoso pai, me garantiu que ou ele ou a mãe estão invariavelmente presentes nos shows da filha, e que aguardam o período das férias escolares para gravar o primeiro álbum da explosiva e prematura carreira da garota que rejeitou proposta de todas as grandes gravadoras do país.
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Apartados do hype, os também paulistas do Are You God? dispensaram o diálogo e a simpatia e ensurdeceram algumas centenas de humanos com recortes instrumentais matemáticos tão precisos quanto brutais. O grindcore tão rebuscado quanto extremo, incorporado à dramaticidade dantesca e autista do vocalista João, não se limitou a pregar somente para sua igreja, e arrancou elogios até de quem geralmente faz cara feia para a média das bandas do estilo. .
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Já o Curumin, cantor, compositor e multi-nstrumentista, fez o melhor show dos três dias de festival, seguido de perto, nesse ranking inventado, pelo seu conterrâneo Maurício Takara, do MTakara3. Curiosamente nenhum desses dois grupos mantém uma guitarra em suas formações, o que me levou à constatação de que alguma coisa está mudando (pra melhor) no horizonte da música independente brasileira enxergada por olhos goianos. Se num festival assumidamente de rock, as melhores surpresas não empunharam guitarras e não enfileiraram “riffs matadores”, o sinal é de que aquela ortodoxia rançosa do roqueiro medíocre está abandonando de vez a paisagem, dando lugar à descomunal diversidade que pulsa fora da eterna trindade guitarra-baixo-bateria.
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A música do Curumin é resultado de um encontro eletrônico inesperado e acachapante entre o balanço malandro daquele Jorge Ben de outros tempos com a marra grooveira do Beastie Boys, e o front-man baterista se acompanhou somente das programações e arranjos de um MPC (Music Production Center, uma mistura de sampler com teclado), a cargo de Loco Sosa – baterista do Los Pirata, um contra-baixo ocasional (sob o comando de Lucas Martins, baixista da cantora Céu e que também apertava botões num MPC), e de muita manha, para levar seu público ao delírio físico das pistas de dança. Divulgando seu segundo disco, Japan Pop Show, Curumin roubou a cena das jaquetas de couro, penteados suspeitos e paredes de guitarra, e sem pretensão nenhuma de posar com cara-de-mau arrancou rebolado até de quem “não deveria” se deixar seduzir pelo seu suíngue moderninho e bem ajustado.
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Dude Magalhães, sentado ao fundo,
observa de perto sua filha Mallu em ação
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Maurício Takara é mais conhecido pelo seu trabalho com o Hurtmold – onde atua como baterista, vibrafonista e trompetista, mas veio à Goiânia com seu projeto solo, intitulado singelamente MTakara 3, e que também dispensa a presença de guitarras no palco. O trio, completado pelo baterista Richard Ribeiro (ex-Debate) e pelo colega de Hurtmold Rogério Martins na percussão, desenvolve experimentos a partir de samplers e sintetizadores, que ganham corpo entre arranjos alucinados de trompete e saxofone, numa busca devotada pelo inusitado da música. O que muitos consideraram preguiçosamente como “cabecismo” infértil, dá pra batizar facilmente de inquietação genial, e ainda assim não seria a melhor explicação para uma apresentação tão sui-generis quanto impressionante.
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Os santistas da Big Nitrons fizeram uma espécie de aquecimento para a esperada apresentação d’A Grande Trepada, acendendo as turbinas da turma do topete. Se o punk rock pode conviver harmonicamente com a rockabilly e produzir centenas de cópias tardias e mal-criadas daquela ingênua e angustiada juventude transviada dos filmes de James Dean, o quarteto praiano também pode sobreviver sem a minha aprovação, já que em cima do palco não convenceriam nem o mais inchado dos sósias de Elvis.

A recifense Sweet Fanny Adams dispensa os tambores (tão comuns nas bandas de sua terra natal), e faz uma música tão tipicamente pernambucana quanto a primeira revolução industrial, agradando em cheio as centenas de caricaturas anglo–fashionistas (interessadas em postura shoegazer e atmosfera pós-punk) que desfilavam seus modelitos e cortes de cabelo na arena do teatro Pyguá.
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Ainda no sábado, o Cérebro Eletrônico e o Do Amor ficaram devendo ao burburinho, e mesmo estabelecendo um diálogo bailarino com a platéia, concordaram ao decepcionar quem esperava algo realmente impressionante. Antecipando esse desapontamento para a noite de sexta-feira, o pop carioca do Jonas Sá conseguiu pouco mais do que a (des)atenção condescendente de um teatro que aos poucos se esvaziava, numa apresentação instrumentalmente correta, mas desabilitada do veneno que o músico e sua banda só conseguem insinuar.
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A paulistana Fim do Silêncio soube se aproveitar do público descansado e entusiasmado do começo da festa, na sexta feira, e regeu a assembléia hardcore como quis, indicando inclusive em que direção o rodopio da rodinha de pogo deveria seguir. Já a goianiense Inbleeding se deixou afogar na erudição burocrática dos intermináveis solos do guitarrista Luiz Maldonalle, e acabou dividindo seu show entre a empolgação veloz do thrash metal e o dilúvio de notas agudas da “vídeo-aula” do solista.
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Are You God?
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A “lenda” ao redor do auto-intitulado Lendário Chucrobillyman não chegou até mim, e se todo mundo que assistiu a performance atrapalhada do curitibando que acumula as funções de guitarrista, baterista e cantor (simultaneamente), ficou tão impressionado quanto seus sorrisos deslumbrados indicavam, não há de ser eu quem vai desabonar esse embuste circense travestido de auto-suficiência artística.
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O Chimpanzé Clube Trio, apesar de não trazer nada de novo ao front, fez uma das melhores apresentações do sábado, distorcendo guitarras com um forte sotaque funk, e esticando uma ponte até o soul e a música brasileira, flertando sutilmente com o jazz. O Violins, atração principal da noite, convidou seu ex-guitarrista Léo Alcanfor (atualmente no Mugo) para a primeira parte de seu show, reservada apenas para canções de seu segundo álbum, Grandes Infiéis, e depois que o músico deixou o palco a banda se revezou entre faixas do anterior Tribunal Surdo e do recente A Redenção dos Corpos, guardando para o final apenas uma música do elogiado Aurora Prisma (23 Carnavais).
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Antes do Violins, o Diego de Moraes, a “nossa Mallu Magalhães”. O maior fenômeno do circuito independente local também aprendeu a se aproveitar do hype em torno de seu nome, e ajuntou uma pequena multidão para seu desbunde neo-tropicalista, que mistura cinismo e poesia concreta com a mesma naturalidade com que Caetano Veloso arrota seu cardápio de despautérios.
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De volta ao domingo, a Orquestra Abstrata (ex-Seven) se confirmou como uma das maiores promessas do rock instrumental goiano, com acesso livre ao rol das melhores bandas brasileiras do gênero. Depois do quarteto psicodélico, a paranaense de Curitiba Bad Folks gastou suas fichas numa apresentação tão simpática quanto tímida, num ajuste entre a singeleza melódica de Bob Dylan, e o tempero suave do country manhoso do Flying Burrito Brothers.
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As bandas donas da festa, MqN e Mechanics, fizeram, cada uma, sua festinha particular em cima do palco, e de posse das atenções serviram de exemplo para suas conterrâneas Bad Lucky Charmers, Mugo, Goldfish Memories, Jhonny Suxxx & the Fucking Boys, Gloom, Abluesados, Bang Bang Babies, Black Drawing Chalks, Motherfish, Sweet Racers, The Backbitters, Shakemakers e Necropsy Room, que também, cada uma a seu modo, tentaram convencer suas respectivas platéias de que Goiânia é mesmo a capital do rock independente nacional.
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Se você duvida, te espero pra uma bate-papo amistoso durante o próximo Goiânia Noise Festival.
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Combinado?