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segunda-feira, janeiro 26, 2009

Encaixotando Helena

Mudo de casa amanhã. Passei o dia encaixotando um tesouro: caixas e caixas lotadas de discos, fitas VHS, cartas antigas, devedês, livros, fotografias, revistas velhas, e até algumas fitas k-7 (reproduções caseiras e demo-tapes (lembra delas?), remanescentes de uma outrora enorme, e hoje inimaginável, coleção). Além de organizar tudo aquilo que a gente tem em casa: fogão, cama, freezer, sofá... enfim, o resto.




Confesso que apesar do trabalho que isso dá, eu gosto. Gosto de encontrar aquelas coisas esquecidas (quase sempre desde a última mudança), e que por alguma razão você não joga fora. Na verdade até consegui jogar algumas coisas no lixo dessa vez, mas não foi muito. Na minha última mudança eu (pela primeira vez desde que me percebi adulto) já tinha me livrado de um monte de quinquilharias que entulharam meus armários durante anos, em vários lares.
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Mas acho que consegui equilibrar racionalidade e essa pequena obsessão, e hoje cada item que enche cada uma das caixas aqui do meu lado, tem uma explicação lógica. Pelo menos pra mim.
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Se eu guardo uma edição vencida da agenda cultural da prefeitura de Goiânia, é por que tem um ensaio fotográfico assinado por aquela fotógrafa que conheci na casa de uma antiga namorada. Se insisto em arquivar dezenas de cartas, lembra delas?, (datadas de 1992 a 1999), é por que sei que sempre vou gostar de relê-las. E se até hoje não devolvi certos discos/livros, e os empacotei longe da caixa dos “emprestados” (calma Ulisses, os seus estão prontos para devolução), é por que já não me lembro de onde vieram.
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Antes guardava coisas que não faziam o menor sentido, tipo capas de discos que já não estavam mais lá. Claro que durante o tempo que permaneci com elas, achava sinceramente que iriam me servir de algum modo, mas acabei convencido pelo tempo de que elas nunca teriam serventia.
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Estou melhorando, quem sabe um dia me livro daquele tanto de texto manuscrito, ruim e adolescente (desculpe o pleonasmo), dobrado dentro de envelopes amarelados e que me diverte tanto de cinco em cinco anos, em média.
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Mas sim, você tem razão, o processo todo de mudança é um pé no saco, mas pelo menos a visita compulsória ao passado é divertida.
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# Estou ouvindo os mesmos discos já há alguns dias: 9MA (do Nove Mil Anjos), o Tonight: Franz Ferdinand, (dele mesmo), o primeirão do Friendly Fires, e a estréia do Vitor Araújo, que está quase onipresente nos meus fones desde o começo de dezembro passado. E nos seus, o que toca?
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Vou encaixotar mais. Quando voltar já estarei na casa nova. Passa lá depois, prometo um chá com biscoitos Conosco.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Nove Mil

# Hora de dar nome (e lugar) aos bois e encerrar esse papo. Goiânia Rock News finalmente dá sua lista de Melhores de 2008, resumida brevemente em mutáveis top 5s (como qualquer humano saudável, eu ainda não ouvi todos os discos lançados ano passado que, potencialmente, valem pena). Mas aí vai:


Never!
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MELHOR DISCO NACIONAL
Artista Igual Pedreiro – Macaco Bong
A Redenção dos Corpos – Violins
Estandarte – Skank
Japan Pop Show - Curumin
TOC ao vivo no teatro Santa Isabel – Vitor Araújo

MELHOR DISCO INTERNACIONAL
Dear Science – TV On the Radio
Viva la Vida or Death and All His Friends – Coldplay
It Is Time For A Love Revolution - Lenny Kravitz
Warpaint - Black Crowes
Antidote – Foals


MELHOR MÚSICA NACIONAL
"All the Love” – Boss In Drama
“Puta Alemã” – Olhodepeixe
“Dê” - Cérebro Eletrônico
“Kyoto” – Curumin
“Problema Meu” – Violins


MELHOR MÚSICA INTERNACIONAL
”Control Freak” –The Newbees (que oficialmente é de 2007, mas (não) aconteceu em 2008)
“21 Century Life” – Sam Sparro
“Great DJ” – The Ting Tings
“Brand New Start” – Little Joy
“Don’t Make Me A Target” - Spoon

MELHOR SHOW NACIONAL
Instituto Toca Tim Maia no Goiânia Noise
Macaco Bong no festival Calango (MT)
Curumin no Bananada
MTakara3 no Bananada
Are You God? No Bananada

MELHOR SHOW INTERNACIONAL
Muse no Porão do Rock (BsB)
El Mato A Un Policia Motorizado no Festival Calango (MT)
Motek no Goiânia Noise
Black Mountain no Goiânia Noise
Papier Tigre no festival Calango (MT)

Essa lista, quase exatamente igual, eu mandei também pro Marcelo Costa, editor do ScreamYell, atendendo ao gentil convite para participar das votações anuais do site. Ele também respondeu à enquete do GRNews, alguns posts atrás.
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# O Wry, como disse alguns posts atrás, deve chegar ao Brasil por volta do mês de abril para uma série de shows pelo país, na turnê de divulgação do novíssimo She Science, que de tão novo ainda nem nasceu. A banda promete parir seu quarto disco também em solo brasileiro, assim como fez, em 2005, com o ótimo Flames in the Head.

Já em fevereiro, mais precisamente no próximo dia 16, o selo britânico ClubAC30, lança o terceiro e último volume da série de compilações Never Lose That Feeling (foto no início do post), com clássicos do shoegaze mundial, e o Wry está na lista com “Some Candy Talking”, música que o Jesus and Mary Chain gravou em 1986.

Wry - “Some Candy Talking”
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Depois disso tudo, em julho, a banda promete lancar mais um álbum (!), intitulado The Long-Term Memory of An Experience, e, non stop, em outubro deve entregar, finalmente, ao mercado National Indie Hits, espécie de disco tributo às bandas que o quarteto considera fundamentais na história da música independente brasileira. Esse National Indie Hits vai sair pelo selo vizinho Monstro Discos, e estava marcado para conhecer a luz agora nos primeiros meses de 2009, mas trâmites burocráticos adiaram o lançamento para o segundo semestre.

Vou gostar de ver o Wry em cima do palco, mais uma vez. Não me entusiasmei muito com toda aquela profundidade fleumática post-rock do último epê, Whales and Sharks, mas em compensação Flames In The Head é cheio de pequenas jóias do pop de guitarras (a irresistível "Powerless" e a empolgante "Come and Fall" são apenas dois ótimos exemplos).
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# Baixei o disco do 9 Mil Anjos e estou gostando. É sério.



Já volto. E beijo pra Jú, a carequinha mais cabeluda dentre as garotas mais legais de Goiânia, não por acaso minha nobre ex-colega de um longínquo 3º Ano colegial no Colégio Delta.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Oh No, You Girls'll Never Know!

# O Capim Pub voltou à ativa. Fui numa festa lá na última sexta-feira, cheguei às duas da madrugada e o local estava completamente lotado.

Não sei se você se lembra, mas foi numa das últimas edições da Kill the DJ (festa promovida por este blog, em sociedade com o Alexandre Ferro, ex-editor do extinto Cybergoiás e baterista d’Os Gays), em outubro do ano passado, que a fiscalização da Agência Municipal do Meio Ambiente (sigla reciclada para a famigerada SEMMA) quase aplicou uma multa de 12 mil reais devido às reclamações da vizinha do lado, deixando o clubinho punk em silêncio desde então. Ao que parece, o Afonsinho (o proprietário-morador) ainda não legalizou a situação de um dos lugares mais legais do underground goianiense, mas re-negociou sua situação com a vizinha reclamante, que pelo menos dessa vez não incomodou a fauna exótica que suava a camiseta na pista de dança.


Tonight!

O Capim Pub nasceu há mais ou menos cinco anos, e desde então já sofreu várias reconfigurações internas, até chegar na condição toscamente charmosa em que se encontra hoje. Nessa mesma sexta-feira, depois de abrir uma cerveja, atravessar a pista de dança e cruzar o corredor escuro, cheguei ao jardim do pub e fiquei de papo com os amigos e amigas, entre eles o Maurício Motta (ex-líder do Hang the Superstars) que, entre um gole e oito, esboçou uma espécie de biografia em pinceladas do Capim.

O nome, obviamente, é uma pequena pérola léxica do indie local, já que o clubinho é vizinho do córrego Capim Puba, o que, ainda segundo o Maurício Motta, impediu que o Afonsinho batizasse o lugar com o cafonérrimo epíteto de London Club (ainda que a justificativa fosse uma pretensa homenagem ao enterrado London Club original, cujo endereço era em Campinas e o ramo de atividades envolvesse, além de guitarras eventuais, o comércio sexual ostensivo).

Alertado do nome pronto e quase genial (que soprava das margens de concreto do córrego) por algum dos punks que freqüenta o lugar até hoje, o clube foi enfim batizado, e deu o primeiro passo para entrar, em definitivo, na história da cultura alternativa na cidade.


Bandas de vários lugares do Brasil já ocuparam o palquinho do Capim, além das centenas de festinhas estranhas com gente esquisita, quase sempre com os dj sets mais legais da cidade. E o público do Capim é mais que fiel. Sempre atende ao chamado da agenda de eventos completamente aperiódica, já que o pub não funciona regularmente, só quando o Afonsinho está a fim de festa ou precisando de dinheiro.

Enfim, fiquei feliz pela reabertura de um dos melhores lugares da cidade para dançar música decente e ficar bêbado com os amigos. A próxima edição da Kill the DJ já está sendo armada, e provavelmente depois do carnaval aparece por aí, num desses e-flyers da vida. Te aviso.



# Há um ano eu escrevi aqui nesta mesma tela azul exatamente assim:

A melhor música de dois mil e oito (até agora), é do ano passado. O nome dela é "Control Freak", e está no melhor disco desse ano (que também é do ano passado), por enquanto. O Newbees, quinteto inspiradíssimo lá do Kentucky, lançou Famous há alguns poucos meses, mas só agora fui ouvir esse que é o segundo disco da curta carreira da banda da Sharon Udoh, Misty Perholtz e de seus amigos


Não por sorte, 2008 acabou e a lista final dos melhores do ano passado que vou botar aqui durante essa semana, traz "Control Freak" liderando minha tabela de preferências particulares na categoria Melhor Música de 2008. Muitas outras boas músicas apareceram, e algumas delas também estão lá, mas "Control Freak" manteve a posição durante um ano inteiro. Os Newbees não apareceram em nenhuma das listas de melhores que eu vi até agora, e só posso concluir que é por puro desconhecimento, por quê Famous, o disquinho que contém "Control Freak", é tão arejado e espontâneo que, tenho certeza, seduziria muitos dos novidadeiros de plantão que sempre estão atrás da última bolacha do pacote.


Mas lembrei disso tudo por que desde que puxei Tonight: Franz Ferdinand para o meu agá-dê (alguns dias depois do explosivo vazamento), uma música insiste em reclamar para si o título precoce de melhor música de 2009. Não, não é o single "Ulysses", esse já é quase “velho”. O disco, como um todo, está se dando bem aqui nos meus fones de ouvido e já rodou inteiro uma boa meia-dúzia de vezes, mas "No You Girls", com todo aquele neón-disco, toda aquela insinuação charmosa das guitarras, e aquele climão chapado e escuro de bailinho dançante na casa dos amigos, não sai da minha cabeça, além da letra (Nick Hornby ficaria orgulhoso do ácido romantismo pop de Alex Kapranos) ser das mais espertas, e do refrão ser uma das melhores coisas que o Franz Ferdinand fez desde o riff de "Take Me Out":

You girls never know
Oh no, you girls'll never know
No you girls never know
How you make a boy feel

(…)

No you boys never care
You dirty boys'll never care
No you boys never care
How the girl feels


Volto a esse assunto em Janeiro de 2010.



# Desde dezembro que quero dizer aqui que TOC Ao Vivo no Teatro Santa Isabel, disco do pianista teen Vitor Araújo, é uma das melhores novidades da música brasileira. A versão do garoto-prodígio para "Samba e Amor", do Chico Buarque, é uma das coisas mais bonitas que já ouvi.

Na volta eu digo tudo isso e muito mais, sobre o rapaz que já foi “descoberto” pelos programas “antenados” da rede Globo, e tem percorrido a via-crúcis da popularidade visitando o Programa do Jô, Altas-Horas e Caldeirão do Huck. Qualquer semelhança com o case Mallu Magalhães é mera coincidência. Vitor não adora Bob Dylan,\não é uma gracinha e já domina seu instrumento.



Já já eu volto. Mas pode esperar sentado.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Procurando a Saída...

Quase chegando ao fim da enquete, é a vez do Hansen e do Segundo pronunciarem suas verdades particulares sobre 2008. Vai lendo:



Elegant Machinery - A Soft Exchange
Independente

Após 10 anos sem gravar (apesar de alguns side projects como o excelente Hype), Robert Enforsen, Leslie Bayne, Richard Jonshof e Johann Malmgren retornam com sua melhor obra e com um disco capaz de arrebatar, mesmo de candidatos fortíssimos num ano excelente (Thermostatic, com Humanizer era o candidato mais provável até agora), o cetro de Best of the year. Após uma assustadora sucessão de singles que deixaram todos boquiabertos ("Feel the silence e Move"), causando frisson na pequena tribo que não depende dos lucios e thiagos para saberem o que gostar, o álbum mantém a expectativa e pode ser ouvido de cabo a rabo sem pular faixa nenhuma, tamanha é sua uniformidade.

Claro que trata-se de um lançamento a ser deglutido por poucos aqui, onde se babam por Mallus, Curumins e Cordéis, num claro cumprimento à alusão de Terry Jones, que interpretava o líder de Hy Brazil, em Erik, o Viking: "Não somos uma nação musical", ah ah ah ah ah ah...


Melhor show do ano: Project Pitchfork - Inferno-SP 25/10/08
Prestes a completar 20 anos de carreira, Peter Spieles e seus asseclas finalmente aportaram por aqui, o que parecia ser apenas mais um boato ou um sonho não realizado, e fez valer cada segundo de uma espera que se estende desde que o grupo ficou (relativamente) famoso por aqui, a partir de 92.

Num show que priorizou os clássicos, Spieles mostrou forma e garganta invejáveis, entretendo um publico exigente por quase 2 horas. Mal nos recuperamos do choque de finalmente ver um dos expoentes da musica electronica frente a frente conosco, Rodrigo Cyber e seu projeto Ferro Velho trouxeram quase em seguida Plastic Noise Experience e Serpents, antevendo que 2009 deverá ser um grande ano...

Melhor musica de 2008: Hora de separar os homens dos meninos. Eu não devia me meter a fazer o que não sei. Não tenho a cara de pau de um lucio ou thiago que pegam uma merda qualquer dos arghtic monkeys ou rakes e elegem como melhor "música" do ano. Num ano simplesmente estupendo como foi 2008, simplesmente não tenho a competência devida para destacar uma musica que se imponha sobre tantas maravilhas lançadas. A muito custo consegui um top ten, e olhe lá:

Elegant Machinery - "With grace"
Elegant Machinery - "Move"
Declassé - "Default values"
Sound Tesselated - "Why can´t you forgive"
Fantazja - "Kathy"
Imaten - "Haven" (Projeto de Peter Spieles, que nessa faixa divina, conta com os vocais especialíssimos de Rolf Harris, VNV Nation)
Machine Made Pleasure - "In a dark world"
Thermostatic - "Driving"
Nadia Sohaei - "Dragonfly"
Digital energy - "Doubting heart"

O que acham de baixar todas e vocês mesmos decidirem qual a melhor? Não é tão dificil assim...



Hansen é um dos mentores do Harry, legendário grupo paulista de música eletrônica dos anos oitenta



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Portishead - Third
Mercury/Island

Explica uma banda que fica 11 anos parada e vê tudo quanto é tipo de gente copiar seu som e consegue se reinventar da forma que o Portishead conseguiu nesse álbum. Não sei se o Third é o melhor disco do ano por falta de coisa melhor ou se simplesmente é realmente um álbum fantasticamente psicodélico, que ultrapassará as barreiras do tempo. Isso a gente deixa pra discutir daqui uns anos, o que interessa mesmo é que é muito bom ver que as bandas velhas ainda tem bastante fôlego. E o Portishead tem demais.

p.s. menção honrosa ao Black Ice do AC/DC e Motorizer do Motorhead.


Discarga - Música pra Guerra
Laja Records

Se não me engano este é o terceiro álbum dessa banda paulista que já é considerada uma das mais agressivas dos últimos tempos. Depois de Música pra Guerra o Discarga pode se juntar ao panteâo do HC nacional juntamente com Cólera,RDP,Olho Seco,Ação Direta,Lobotomia,Mukeka di Rato e mais algumas outras que fazem a alegria da galera chegada num pogo e num mosh.

O álbum simplesmente é perfeito tanto na parte musical (que aliás, no encarte, ao lado de cada música vem citado o nome de uma ou duas músicas de bandas HC que as inspiraram) quanto nas letras que questionam o cotidiano e as injustiças e preconceitos da socidade burguesa de forma peculiar, como por exemplo: "Se você tem cérebro e é um ser pensante/Exercite-o,Treine-o e use-o mais/Consuma menos e pense mais" ou "Minha vida é um livro aberto,pra você arrancar as páginas e queimar com seus camaradas".

Tirando o fato de a última faixa do álbum ser um funk setentista extremamente bem feito devidamente intitulado de "Sob Influência" e a letra simplesmente constituir o nome da pura elite da música negra de Jackson do Pandeiro a Outkast, de Cartola a Miles Davis, suingando o melhor disco de Hardcore nacional dos ultimos anos.


Melhor show: Desastre

Ver o capim pub lotado já é uma coisa corriqueira, porém nesse dia algo de satânico pairava no ar do pub mais underground de Goiânia. Quando o desastre subiu no palco eu realmente pude sentir que todos os anos de ré valeram a pena. Uma multidão de 100 pessoas cantando "Revolver" e "O inferno não é um lugar ruim" em coro davam não só a sensação de dever cumprido em mais de 10 anos de banda, mas provaram que santo de casa faz milagre sim.

E após o final show ainda sobrou aquele clima no ar, digno dos maiores eventos do rock. Não precisa de som com técnicos apurados, não precisa de imensos espaços públicos, de seguranças fortemente equipados, nem de grade na frente do palco, tudo que é preciso é a energia do público, e a catarse daquele final de tarde ainda vai pairar muito tempo sobre a imaginação dos pouco mais de 100 presentes, afinal quem disse que tosco não é legal? Pena que esse foi o último show da banda com essa formação que gravou o pequeno clássico do hc nacional Procurando Saída.


Wander Segundo é dono da Two Beers Or Not Two Beers Records e baixista/vocalista do Corja



Tchau

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Sindiecato

Voltei.


Por causa de todo aquele protocolo de fim de ano, boas festas e bla, bla, bla, não deu pra passar por aqui antes, e deixar aí embaixo as derradeiras respostas da enquete. Acho que esse papo ainda rende uns três posts, e depois deles eu boto aqui a lista final dos melhores do ano (passado), pra enterrar 2008 de vez, ainda que o ano novo ( e eles estão cada vez mais precoces) tenha batido à porta lá pelo meio do último mês de setembro.


Mas seguindo, o Diego de Moraes (talvez o artista goiano mais comentado em 2008), e o Eduardo Kolody (que lidera a Orquestra Abstrata, e acompanha Diego, como guitarrista d’O Sindicato) revelam suas preferências.



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Júpiter Maçã - Uma Tarde na Fruteira
Monstro Discos

O melhor disco lançado em 2008 foi o Uma Tarde na Fruteira, do Júpiter Maçã. Mas a verdade é que quem gosta dele já conhecia essas músicas há algum tempo, pelo menos numa versão mais tosca, que circulou amplamente pela internet desde que esse álbum enrolou para ser lançado aqui no Brasil.

Então talvez devêssemos ficar alertas à lição cármica que abre outro disco, e dar devido mérito ao Third do Portishead (que foi duramente criticado como decepcionante durante o ano). Quem estava com saudade do Portishead "fuck music", descobriu que não é mais como se a Beth Gibbons fizesse uma felação com o microfone enquanto a banda toca orquestrações jazzísticas, como nos tempos do Roseland, NYC. No entanto, o que compor quando se alcança tamanho reconhecimento com apenas dois álbuns de estúdio?

Dez anos depois, o Portishead ainda manteve sua essência, marca de qualidade; fez um disco com personalidade, que não imita o período áureo da banda e também não se entrega a nenhuma hype electro-boba do momento. Se talvez o trip hop desenvolvido pelo grupo não seja mais tão (hip)hop quanto em Dummy, certamente nunca conteve tanta trip. As viagens da banda estão repletas de atmosferas sombrias e (in)tensas, se utilizando de vários timbres vintage captados de sintetizadores analógicos e amplificadores antigos, além de sessões rítmicas hipnóticas, cheias de ecos e tambores. Geoff Barrow continua mostrando que a criatividade é o único limite da música, fazendo com que o misterioso Portishead consiga soar eletrônico e orgânico ao mesmo tempo, e mostrando que psicodelia não tem necessariamente nada a ver com fadas e duendes.

Agora a trilogia está completa.


É quase impossível escolher uma melhor música, visto que uma boa banda geralmente lança pelo menos três por álbum, mas eu fico com Marta, da banda gaúcha Pata de Elefante. Quem já viu o grupo tocando ao vivo entende porque eles são uma das melhores banda de rock do país. O som é cru, mas suas músicas são construídas com um feeling harmônico quase insuperável. Não é fácil fazer rock sem letra pra pirar e bater cabeça.

Os melhores shows que eu vi esse ano foram o Skatalites e o The Doors (o Jim Morrison devia estar presente em espírito, porque a banda quebrou tudo). Todo músico deveria almejar chegar aos sessenta / setenta anos de idade com a disposição que esses caras têm pra tocar.


Eduardo Kolody é Músico, produtor e guitarrista em vagas horas






Beck - Modern Guilt
Interscope Records

É complicado apontar um único disco como o “melhor” do ano. Até porque tenho uma grande lista de discos que ainda pretendo ouvir. Sem falar que tem vários álbuns que me “tocaram”, como os dois que o Tom Zé lançou esse ano, ressaltando sua homenagem irreverente à criação de João Gilberto. Além disso tivemos 2 (mais que) esperados lançamentos instrumentais de bandas do meio independente já “louvadas”: Macaco Bong e Pata de Elefante.


E tem também o fantástico Uma tarde na fruteira, do Júpiter Maçã, que foi lançado, oficialmente, esse ano (mas que já comentei aqui nesse mesmo blog [na enquete dos melhores de 2007], no ano passado, quando já havia “vazado” na net...). Mas se tem um disco que fez minha cabeça esse ano foi o Modern Guilt do Beck. É muito bom saber que tem um cara brilhante como esse tal de Beck Hansen aí na ativa, sempre a impressionar e convencendo pelo próprio som (ao contrário de outros que usam outros meios para “chamar a atenção”) e por suas letras, cada vez mais existenciais e melancólicas . Este é um álbum fruto do mundo contemporâneo, mas que dialoga com várias referências do passado (como as influências rítmicas e melódicas sessentistas dos Beach Boys) e um pouco menos esquizofrênico que outros discos de Beck, ainda que retome muitos elementos de sua obra, como o aspecto eletrônico latente.


Nesse disco (um dos melhores dessa primeira década do século XXI, na minha opinião) Beck conseguiu, juntamente com o produtor Danger Mouse, um resultado coerente, com uma certa sonoridade que perpassa todo o disco, embora aponte, como sempre faz, para várias direções (dificultando assim o trabalho de quem tenta defini-lo): minimalismo, experimentalismo, momentos obscuros e outros mais animados, dançantes... tudo misturado num caldeirão sonoro hipnótico. Destaque para o vocal na faixa título, para a melodia e para bateria de “Chemtrails” e para a intimista “Volcano”, que fecha o disco de forma sublime. A madura e forte “Soul of a Man” é uma das minhas faixas favoritas.


Achei um disco instigante que em 10 faixas curtas (comparadas ao que o Beck geralmente faz) esbanja sutileza nos detalhes. Um belo disco pra se ouvir com paciência e, de preferência, no fone de ouvido. Não vou dizer que ele é genial, pois não quero chover no molhado! Ainda estou “(Re)descobrindo-o” calmamente...


O melhor show que vi: Muse e Instituto toca Tim Maia foram, simplesmente, “ducaralho”!

Mas acho que o show que mais emocionou e que mais “fritou a minha mente” foi o do Arrigo Barnabé e do Patife Band na Caixa Cultural, em Brasília. Sensacional! Por causa desse novo formato do show do Arrigo, mais voltado para o piano... estou curioso pra ouvir o cd Arrigo Barnabé & Paulo Braga - Ao vivo, em Porto.


Melhor música do ano? Prefiro não responder.... Não sei. Devo confessar que nos últimos meses não ouvi muito esse revisionismo do folk (continuei no Neil Young do Harvest ao invés de escutar o primeiro da Mallu ou o Zé Ramalho cantando Dylan). Então não sou a pessoa mais apropriada para falar sobre 2008, né?


Pro mundo deve ter sido "I Kissed A Girl" da Katy Perry, né? Achei muito boa a “João Nos Tribunais”, do Tom Zé, por ser a homenagem mais irreverente e “didática” (típico do Tom Zé...) à criação de João Gilberto.


Diego De Moraes é cantor e compositor.






Tchau.