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sexta-feira, setembro 14, 2012

Filosofia de boteco



A ilustra abaixo eu pesquei no blog do Luiz Antena, brother dasantiga e ilustrador do jornal O Popular.



A frase é batida, mas a releitura pop do Antena pro aforismo do Nietzsche despertou umas lembranças aqui, de uma época inocente em que eu lia, empolgado, o Anticristo. Foi mais ou menos por aí que comecei a organizar minha coleção de discos, que até então era apenas uma montanha de CDs, uma amontoado de vinis e várias gavetas lotadas de fitas k-7. Na faculdade de filosofia descobri que nem todo mundo tem paciência pro Nietzsche e que música boa é um troço difícil de definir.

Ontem à noite tomei umas cervejas e comi um filé de peixe, pouco antes de sentar no tapete da sala e escarafunchar a estante dos vinis. De papo com a patroa na noite quente, climão preguiçoso, fui de Modern Jazz Quartet, mas avançando rápido na fila dos bolachões cheguei ao Technotronic. Não botei pra rodar - a noite cáustica pedia sons menos festivos. Voltei uns 200 discos pra trás e encontrei o Milton Banana sorrindo pra mim. Já ouvi gente dizer que o Milton Banana faz música de churrascaria. Se fosse isso mesmo acho que ia comer churrasco todo dia.

Os últimos discos de vinil que eu comprei foram o 69 d'Os Incríveis (versão matadora de "Vendedor de Bananas", do Jorge Ben) e o Musical Guide From Stellium, do Dorsal Atlântica. Os Incríveis foram logo rodar na bandeja e o Dorsal ficou encostado por uns dias, mas quando foi pra agulha ficou lá um bom tempo. Não sou exatamente um grande fã do Dorsal, na verdade nem conheço todos os discos, mas esse em especial faz todo o sentido pra mim. E é engraçado que a relação das pessoas com a música não guarde conexões exatamente musicais. Nessa época de que falo ali em cima, ia toda semana ao Centro garimpar pérolas de 1 ou 2 reais nos sebos da Rua 4. Foi num desses que achei o Musical Guide From Stellium. Era um tempo em que minha discoteca era bem menos eclética e se dividia, basicamente, entre uma maioria de discos de rock e uma minoria ascendente de álbuns de música brasileira.

O Dorsal rodou na vitrola até quase furar, mas antes disso um coleguinha do prédio pegou emprestado e nunca devolveu. Fiquei anos e anos sem ouvir. Muito tempo depois baixei o disco pela internet, ouvi entusiasmado umas duas vezes e encostei. Mas quando, dia desses, achei a bolacha novamente em outro sebo do centrão, senti um comichão adolescente e não tive dúvidas.

Descobri o Milton Banana mais ou menos nesse mesmo período (ou um pouco depois), e foi com ele que aprendi a gostar de bossa nova. A partir daí fui atrás dos fodões: Tamba Trio, Quarteto Novo e Zimbo Trio despertaram minha atenção para o jazz. Dave Brubeck e Dizzy Gillespie logo ganharam lugar entre o Just Another Crime... in Massacreland, do Ratos de Porão, e o Feira, do Quinteto Violado. E ainda hoje a coexistência pacífica entre, por exemplo, o Decade of Agression do Slayer, o Nó Caipira do Gismonti e o Look Out for #1 do Brothers Johnson, garante a saúde da coleção.


Sem música a vida seria um erro, mas mesmo errada a vida precisa de música. Pelo menos a minha e, aposto, a sua também.









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