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quinta-feira, setembro 13, 2012

Uma história que não brilha no escuro - 25 anos do acidente com o Césio 137



Exatamente há 25 anos, Goiânia enfrentava um dos episódios mais amedrontadores e nebulosos de sua história. 




O vazamento da cápsula de Césio 137, retirada por dois catadores de material reciclável de um aparelho de radioterapia abandonado, foi o maior acidente radioativo do mundo fora de usinas nucleares. O aniversário da tragédia não é pra ser celebrado, obviamente, mas a lembrança perene do ocorrido serve para manter as antenas ligadas e evitar acontecimentos parecidos no futuro.




Em 2010, cumprindo uma pauta para a edição brasileira da revista Vice, fiz uma extensa reportagem sobre o estado atual das vítimas do acidente, que denunciaram um enorme descaso do poder público para com suas necessidades sociais e hospitalares. De lá pra cá a coisa não parece ter mudado, como confirma grande parte das matérias publicadas hoje para marcar a data funesta.

Abaixo, um trecho da minha reportagem para a Vice (para ler o texto na íntegra, clique aqui).




(...) Recentemente, toquei a campainha de uma casa simples na periferia de Aparecida de Goiânia, cidade já quase engolida pela capital, pouco antes das 10 horas da manhã de um sábado de sol. Dona Lourdes das Neves, 58 anos, mãe de Leide das Neves ( a menina que, com seis anos em 1987, comeu um pão contaminado e foi uma das primeiras vítimas fatais da cápsula de Césio 137), me atendeu com uma simpatia inesperada.




Mas mais de duas décadas depois, pessoas como Dona Lourdes não parecem guardar esperanças de que as devidas culpas, que de tão divididas acabaram diluídas, sejam de fato assumidas ou apontadas pelas autoridades, e têm um discurso pronto, ensaiado ao longo dos anos em tantas entrevistas concedidas, para desfiar uma história de horror tão mal contada quanto “bem” escondida.

Odesson Alves Ferreira, 55 anos, também é uma dessas pessoas. É o presidente da Associação das Vítimas do Césio 137, órgão cujas iniciais formam uma espécie torta de acrônimo, carregado de ironia auto-evidente: AVCésio. E se você acha que Goiânia, em 1987, não chegou a sofrer nada tão grave quanto um, por assim dizer, acidente vascular cerebral, o golpe que a cidade e a vida que nela habitava sofreu — incluindo a minha inocente versão de sete anos de idade — foi tão violento e enigmático que a comparação em tom de humor-negro não é descabida, ainda mais levando-se em conta que, além de tudo, parte significativa do ocorrido se perdeu para todo o sempre.














Planeta Terra, cidade Goiânia




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