sábado, fevereiro 10, 2007
A Plenitude da Delícia.
O macho dominante e a fêmea emancipada de Um Copo de Cólera.
Onde é que tá o maldito telefone? – me indaguei nervosamente enquanto revirava as almofadas e os travesseiros em cima da cama desarrumada. O dedo ainda ardia por causa da brasa do cigarro, e o maldito celular não resolvia aparecer e nem parava de tocar. Passei à cômoda, abrindo as gavetas e portas mesmo sabendo que ele não estaria lá. “Embaixo da cama...” - ela falou displicentemente enquanto espiava as unhas, como quem quer ajudar sem muito esforço. Olhei pra ela com certa raiva nos olhos, passeando um olhar irritado por sobre o seu colo e mãos, que agora programavam um embate calmo entre os polegares. Das duas uma, ou ela não percebeu ou não quis perceber minha impaciência: cerrando os olhos do jeito mais meigo e tocante que eu consigo lembrar de ter visto, me mandou um beijo estalado, barulhento, quase infantil. Me desarmei completamente. O gesto era tão irrefletido e aparentemente honesto, que me arrancou instantaneamente a cólera sem sentido. Nem registrei que o telefone havia parado de gritar... dei a volta na cama na intenção sincera de lhe devolver na carne dos lábios o beijo enviado há pouco pelo vento. Sentei-me e a espiei dentro dos olhos, segurando sua face de Afrodite entre as mãos, numa contemplação comovida e franca. Mordi meus próprios lábios, denunciando minha ansiedade e anunciando minhas intenções. Ela, conhecedora das minhas manhas e manias, sorriu de canto com o prazer dos íntimos, como que assentindo a proposta nos meus olhos, boca, dentes e mãos, que agora lhe apertavam os seios pequenos e rijos, enquanto as carnes dos beiços se misturavam. Num solavanco, a arranquei da cadeira e a roubei para a maciez do colchão, enquanto me ocupava de lhe tirar a calça, calcinha e sutiã, deixando-a desnuda, indefesa, entregue, de pernas abertas e mãos curiosas. Abriu-me os botões da calça com calma – o que me deixava ainda mais ansioso, sempre –, e enquanto me deitava com regozijo, adivinhando a carícia predileta, me deixei despir, oferecendo-me também indefeso à plenitude da delícia. Assim que senti o hálito quente e saboroso me envolver gloriosamente as partes, volta a esgoelar, agora nitidamente mais próximo, a merda do telefone celular.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário