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quarta-feira, setembro 19, 2007

Cidade Oculta

O Quarto das Cinzas
Foto: Renato Reis

Calango 2007 - Domingo


Pra fechar a edição 2007 do festival, a decepcionante estrela local, Vanguart, foi escalada em horário nobre, logo depois da exatidão confusa e cínica da veterana Patife Band, dona do melhor show dentre os 47, espalhados em três dias e intercalados em dois palcos.


Daniel Belleza, liderando os Corações em Fúria, manipulou a molecada como quis, e convenceu a aglomeração juvenil a destruir a grade que delimitava o fosso dos fotógrafos, expulsar a imprensa de lá e se aproximar do palco. O tecladista Astronauta Pingüim, pilotando seu moog e acompanhado por parte dos Corações em Fúria, ganhou lugar honroso nos destaques da festa, em recriações psicodélicas de temas como Smells Like Teen Spirit e Um Lugar do Caralho, Nirvana e Júpiter Maçã, respectivamente.


O Quarto das Cinzas, numa receita que centrifuga trip-hop e sotaque cearense, se revelou uma agradável surpresa, enquanto as eletroniquices bombadas e minimalistas de sua conterrânea Montage, já dona de certo prestígio nacional, inflamaram a afluência de humanos dançantes.


O rock punk, tosco e humorista da carioca The Feitos, se igualou à mato-grossense Boneca Inflável no fracasso. Com nomes como esses, não dava mesmo pra esperar alguma coisa. Já a turma do Dead Smurfs não tenta ser engraçadinha, mas conseguiu arrancar risadas divertidas com um impensado hardcore-hippie, temperado com pão-de-queijo. No começo da noite, haviam se apresentado grupos que atendiam por nomes ainda piores: Skarros e Suco di Nóis, além das locais Snorks e Branco ou Tinto.



Paulo Barnabé no comando da Patife Band
Foto: Escárnio e Osso


Depois que o Montage desmontou sua discoteca andrógina e abandonou o palco, Paulo Barnabé e a Patife Band ocuparam o tablado ao lado para os melhores quarenta minutos do Calango 2007. A aglomeração frenética que se desmobilizara rapidamente depois da saída dos cearenses não se deixou seduzir pelos retalhos melódicos pontiagudos e experimentos punk-jazzísticos da mais clássica das bandas paranaenses, e o trio dialogou com pouca gente no gargalo.


Não faltou a definitiva e genial versão musical para Poema em Linha Reta, do Fernando Pessoa, presente na trilha-sonora do longa-metragem Cidade Oculta, do Chico Botelho e co-roteirizado pelo Arrigo Barnabé, irmão mais famoso – e não menos excêntrico – de Paulo, e que também dá uma de ator, na fita.


Depois da lenda da vanguarda oitentista, o hype cuiabano pôs o time em campo. O disco da Vanguart, encartado recentemente na revista Outracoisa, gira em torno de um eixo tão saturado e pouco criativo que não empolga nem nos seus melhores momentos. Não rodou mais do que o necessário no meu player, e o show do grupo em casa, a despeito da tietagem besta dos nativos, serviu só pra confirmar o que está claro no álbum: a derivação pode até ser legal, nunca genial. E no caso do Vanguart, não é nem um, nem outro.


Rangel (Corações em Fúria) ajuda Daniel Peixoto na maquiagem,
pouco antes do Montage entrar em cena.

Foto: Renato Reis

Encerrando, de fato, os trabalhos do Calango 2007, a gaúcha Tequila Baby arregimentou os últimos insistentes com aquela mesma ladainha punk-rock de sempre, que garante para o grupo um lugar na área VIP do gênero, no Brasil, há anos. Porém, três acordes perto das quatro da manhã e depois dos vinte e cinco anos de idade, não é pra qualquer um.


Antes de conseguir vaga numa das vans que voltavam ao hotel, vi uns amigos coadjuvarem involuntariamente um “arranca-rabo” protagonizado por dois jornalistas de São Paulo, regado, com fartura, à saliva e cerveja. A briga, logo desmanchada pela famosa turma do deixa-disso, acabou por injetar adrenalina e acordar essa última leva de testemunhas, o que acabou por ocasionar uma das mais divertidas confabularias do festival, travada madrugada adentro à beira da piscina do Taiamã Plaza Hotel, com gente – músicos e jornalistas de todo o Brasil – rindo alto até o café –da–manhã ser servido, com o sol causticante de Cuiabá já alto no horizonte.


Assim o ocidente sub-equatoriano amanhecia, setembro recomeçava, e daí a pouco eu retornaria para casa.



Battles
Foto de divulgação


# O Goiânia Noise Festival, que este ano completa treze anos de vida, mais saudável do que nunca, já tem dez nomes de peso confirmados para sua edição 2007. São seis atrações internacionais, duas nacionais e duas locais. Alguns dos nomes da lista gringa já haviam sido assoprados pelo blogueiro aqui, em posts passados, o amigo leitor bem sabe. A lista segue abaixo, e vem recheada de grupos latinos.


Batlles – EUA
The Legendary Tigerman – Portugal
MqN
Mundo Livre S/A - Pernambuco
Perrosky – Chile
The DTs – EUA
Rubin – Argentina
Mechanics
Motosierra – Uruguai
Ecos Falsos – São Paulo


# # Como dito semanas atrás aqui nesse mesmo blog – que cogitava a aparição do grupo em terras goianas, o Battles é um quarteto nova-iorquino que desconstrói o rock com ferramentas de vanguarda pop, em elaborados panoramas concretistas e painéis melódicos matemáticos. A one-man-band lusitana The Legendary Tigerman, que esteve no país em 2005, traz novamente seu blues contemporâneo, fragmentado, eletrônico e psicodélico, para terras tupiniquins, ao lado do folk barulhento e saboroso do duo argentino Perrosky.


# # # O Mundo Livre S/A, todo mundo sabe, é uma das grandes bandas da geração noventa, tem uma discografia praticamente irretocável e seus shows (quase) sempre são sinônimo de diversão garantida.


The DTs
Foto de divulgação


# # # # Dave Crider, o “todo-poderoso” do cultuado selo indie americano Estrus Records, ex-líder do Mono Men e também do Watts (que já se apresentou no palco do Martim Cererê, anos atrás), desembarca em Goiânia a bordo dos DTs, fantástica formação que destila veneno clássico numa mistura que aproxima o hard-rock mais quadrado dos seventies, do suíngue sofisticado dos melhores títulos da Motown, debaixo de uma aura densa e tosca de blues garageiro. Imperdível!


Nasville Pussy em Goiânia
Foto: rOcket's Multiply


# Na sexta feira passada o Nashville Pussy, grupo mais peitudo do Tennessee, descarregou suas guitarras e clichês no palco do teatro Pyguá, no Martim Cererê, para pouco mais de duzentas almas sortudas, no lançamento da edição 2007 do Goiânia Noise Festival.


# # Ainda que o público não tenha sido o esperado, Katielynn Campbell e Ruyter Suys, as louras de posse de baixo e guitarra, incendiaram as duas centenas de criaturas suadas que dançaram durante todo o set, cantaram junto com Blaine Cartwright e estampavam sorrisos satisfeitos depois do show.


# # # Tratando com o respeito e o talento devidos, enumeraram todos os adoráveis chavões daquele hard-rock cru e despretensioso, porém imponente e teatral, que tanto agrada os ouvidos garageiros dos goianienses. Pena que a maioria deles não se apercebeu do fato.



# O Radiohead parece estar finalmente prestes a entregar o sucessor de Hail To The Thief ao mercado. Segundo informa o site do grupo, estão em fase final de masterização do álbum e em breve o track-list poderá ser conhecido na íntegra – já que algumas dessas novas canções constavam no repertório dos shows há algum tempo. Tá certo que Hail to The Thief é um discaço, mas a melhor coisa que o Thom Yorke fez nos últimos anos – talvez sua mais ousada, e bem-sucedida, aventura autoral desde OK Computer – foi mesmo The Eraser, seu primeiro disco solo.


# # Lançadas em 2006, as nove canções seduzem e comovem profundamente pelas texturas e beats eletrônicos tão ardilosamente encaixados na agonia fluida de vocais desesperadoramente belos. A obra-prima máxima da canção eletrônica do século vinte e um. Daí a enorme curiosidade para com esse próximo, e esperado, disco do(s) inglês(es).



Vou escutar o disco novo da paraense Cravo Carbono ali, depois eu volto.





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