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terça-feira, outubro 16, 2007

A estética guitarreiro-cabeluda




O segundo disco do Velvet Revolver, o super-grupo do Slash, o último dos guitar-heroes, foi mesmo um grande passo desde Contraband, sua estréia. Libertad segue o modelo do hard rock ereto e espadaúdo de sempre, mas adiciona porções bem dosadas de um admirável traquejo sensual e até um discreto suíngue, o que o diferencia de sua premiére sisuda e azeda. E isso foi um elogio.


Let It Roll abre o track list ribombando veloz em adoráveis clichês, de uma fluidez tamanha que um ouvinte desavisado poderia pensar se tratar de uma dessas conjuntos com décadas de história. O que não é totalmente falso, já que (quase) todos os Velvets vem de mega-bandas que lançaram discos clássicos e excursionaram por todo o ocidente. She’s Mine arrancaria movimento até de um inchado Axl Rose, que insiste com a megalomania tardia de um Guns n’ Roses completamente desfigurado.


Get Out the Door fala diretamente às pistas de dança, e pulsa ritmada com o pé em cima do retorno e o cabelo cobrindo o rosto, deixando apenas o cigarro – filtro vermelho, enxergando a garrafa de Jack Daniel’s pela metade. She Builds Quick Machines é um road-rock acelerado, que amacia o refrão nas curvas antes de exibir um dos solos especializados de Slash.


The Last Night põe o pé no freio, passeando de raspão pelo passado grunge de Scott Weiland, ex-Stone Temple Pilots. Pills, Demons & Etc. faz alusão às drogas, escondendo chavões do rock hard por entre camadas de modernidade bailarina, mesmo artifício lançado em American Man.


Mary, Mary é a canção mais distante da estética guitarreiro-cabeluda, e se equilibra em melodias vocais que sugerem lembranças do lado mais melancólico dos anos oitenta, ainda que as guitarras se apressem em dissipar a impressão. Já Just Sixteen escancara a acrimônia pressurosa e pesada que atravessa o disco, antes de Cant’ Get it Out of my Head admitir toda a grandiloqüência emocional que o gênero pode assumir.


Perto do fim, For a Brother acumula mais do mesmo, logo atrás da celeridade-vento-na-cara de Spay, e da despedida contida, melodiosa e um tanto piegas de Gravedancer.


Não, Libertad não vai mudar a vida de ninguém, provavelmente não vai te motivar a montar uma banda no salão de festas do prédio e nem vai te convencer a deixar o cabelo crescer (a não ser que você tenha menos de vinte anos). Mas que é um disco bem decente de grandes figuras com um passado glorioso, isso sem dúvida é.


Um destino muito mais digno que o de Axl Rose, que até hoje tenta, enumerando fracassos, conceber algo tão revolucionário e grandioso quanto o Appetite for Destruction. A certa altura, humildade e pé-no-chão valem tanto quanto uma boa porção de talento, mas William ‘Rose’ Bailey continua imerso numa fantasia megalômana anacrônica, e mesmo que não tenha percebido, sua credibilidade já toca as canelas, enquanto Slash e sua turma – que parecem ter aprendido a lição, estão novamente caminhando, senão rumo ao topo, pelo menos rumo a uma regularidade artística respeitável.


E, alguém avise ao Axl, o cume daqueles tempos já não existe mais.

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