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Lá no começo dos anos 90, o Living Colour coadjuvava alegremente com o primeiro escalão do pop mundial, acumulando alguns milhões de discos vendidos, dois Grammys, o nobre apadrinhamento de Mick Jagger (que contratou a banda para abrir os shows dos Stones na turnê de Steel Wheels, de 1989) e a reputação de ter uma das melhores apresentações de uma época de transição, que desviava um zeitgeist dividido entre os estertores da tristeza ensaiada do pós-punk e a mordacidade multicolorida do funk-o-metal, para a urgência nublada de um florescente movimento grunge. Esses foram os anos dourados da carreira do quarteto, que pouco depois acertaria um óbito para o grupo, por ocasião da saída de Vernom Reid, o guitarrista-fundador.
Ressurgido no ano 2000, o Living Colour já não gozava da mesma popularidade de outrora, e a despeito da remasterização de Vivid (o disco de estreia, originalmente lançado em 88) e do lançamento dos inéditos Colliedoscope, de 2003, e The Chair in the Doorway, do ano passado, o glamour coruscante dos holofotes já não era mais apontado no seu rumo.
Mas alheios às especulações sobre a hierarquia midiática do rock, os quatro músicos ocuparam o palanque montado no autódromo Nelson Piquet em Brasília, na última sexta feira, diante de pouco mais de mil pessoas, e desfilaram o melhor de seu repertório em cerca de duas horas de pura festa.
É bem verdade que faltou “Solace Of You” (aquela que traz uma semelhança constrangedora com “Alagados” do Paralamas do Sucesso), mas a abertura estrepitosa com “Type”, a sequência envolvente com “Memories Can’t Wait” e “Pride”, a depravação indecisa de “Bi”, o suingue ensolarado de “Glamour Boys” (quando o vocalista Corey Glover atendeu aos apelos dançarinos de uma garota que se insinuava em cima de uma das caixas de som, convidando-a ao palco), até chegar à apoteose com “Love Rears Its Ugly Head”, “Time’s Up”, “Cult of Personality”,”Elvis is Dead” e “I can´t help falling in Love”, em sequência.
E mesmo figurando somente nos rodapés da imprensa mainstream nacional, desprovido de recursos cênicos e truques espetaculosos, do alto da crueza desglamourizada de um palquinho de quermesse na capital do terceiro mundo, o Living Colour deixou claro que em sua “decadência” ainda tem muito mais a oferecer que uma dúzia e meia de next big things.
segunda-feira, maio 17, 2010
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2 comentários:
....ironizando a preferência do rock local pelo idioma dos Beatles:
Amei o Blogger, criativo d+.
Muito criativo esse blog.
Puta merda que beleza...
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