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Estrelando o horário nobre de quarta feira da semana passada, o Vitor Araújo desembarcou novamente seu piano de cauda em Goiânia, e ocupou o palco do Bolshoi Pub em mais uma noite inspirada.
Extraída da rejeição acadêmica, a virtude tortuosa do pianista-prodígio parece ter sido assentada sobre uma autoconfiança obsessiva, e talvez sua música seja assim tão arejada precisamente por ter sido preservada da corrupção formal dos conservatórios, que em parte considerável das vezes decepa o ímpeto do improviso.
Estreando concerto novo em Goiânia, o músico pernambucano não teve casa cheia neste que é o primeiro ato de sua prometida trilogia sobre a Paixão, mas as cerca de cem pessoas que se deixaram envolver pelo poderoso lirismo melódico, pontuado por declamações passionais, souberam aproveitar também a atmosfera de apresentação exclusiva, que dava tons ainda mais nobres à noite.
Abrindo o show com “Paranoid Android”, versão personalizada para o clássico do Radiohead, mas priorizando o repertório novo, que além de composições próprias inclui peças de Villa Lobos (“Impressões Seresteiras”) e Lorenzo Fernandez (“Jongo”), a maior novidade ficou por conta das interpretações apaixonadas de textos de Zé da Luz, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, Arnaldo Antunes e Aldir Blanc, além de alguns versos autorais, proclamados entre uma música e outra.
E foi assim que durante cerca de uma hora Vitor e seu piano mantiveram cativa a atenção hipnotizada da turma, e só depois de voltar ao palco para atender aos pedidos de bis, disparando sua variante cheia de tensão para “Asa Branca”, do Luiz Gonzaga, é que o transe começou a se dissipar, e todo mundo pôde voltar a reclamar que ainda era quarta feira.
quarta-feira, maio 12, 2010
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