Boa parte do apelo da Gal Costa é fruto do bom-gostismo, essa abstração que vitima a classe média brasileira. Não importa que a voz da cantora esteja desgastada e que, às vezes, ela não disfarce certa displicência. A turba que lotou ontem o Centro de Cultura e Eventos da UFG não estava lá para apontar a decadência da maior cantora do País.
Mas mesmo com o resgate preciso de jóias passadas como “Barato Total” e “Deus é Amor”, não dá pra ignorar a aspereza de sua voz nas notas mais difíceis, nem deixar pra lá certa negligência no encaixe do vocal com o instrumental, esse sim afiadíssimo. Como cânone da MPB, Gal parece gozar de imunidade crítica e recebeu os aplausos calorosos de um público café-com-leite de sorriso aberto.
De seu último disco, Recanto, ela tirou o momento mais emocionante do show – a canção-manifesto “Autotune Auterótico”, mas veio de lá também a passagem mais maçante do concerto, com “Neguinho”, tentativa canhestra de atualizar seu repertório com uma batida eletrônica que já nasceu velha.
Não foi um show ruim, tampouco foi ótimo. Mas apesar do carisma legítimo, Gal Costa se esforçou apenas para atingir a média, e isso é muito pouco.
6 comentários:
Terei que descordar veementemente. Assisti a esse mesmo show em São Paulo e lá ela conseguiu cantar tão bem como nos bons tempos de seu auge vocal. Agora, não queira que uma pessoa com 67 anos de idade tenha o mesmo fôlego de uma de 30. Gostaria de ver quem escreve nesse blog aos 65 fazendo metade do que ela fez no show em Goiânia. Sem contar que era notório que ela estava com uma tosse seca uma faringite (só não percebeu quem é cego) e mesmo assim deu o máximo que pode no show que, como o(a) autor(a) do Blog, se não foi ótimo, também foi longe de ser ruim. Sem contar que teve problemas de retorno para um dos músicos, algumas falhas no sistema de som e microfonia. As pessoas esquecem que os ídolos também envelhecem. Só ficam eternamente jovem e com o brilho do auge da carreira quem morre cedo, como Elis. Prefiro ter os meus ídolos de outrora vivos (e que infelizmente a nova geração não está conseguindo superar e repor), mesmo que produzindo pouco ou com qualidade inferior a tê-los mortos sem nada mais produzir, vide Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethania, João Gilberto, Milton Nascimento dentre muitos outros. Ser crítico é importante, mas ser ácido e pseudointelectual é desnecessário e também tem cara de gente que fruto de "bom-gostismo" de classe média brasileira. Que a sensibilidade nos livre desse tipo de abstração psicodélica que vemos invadir os meios de comunicação e a Internet.
Para o comentário acima: você tem razão. A arte de saber a hora de parar é para poucos!
Você não estava no mesmo lugar que eu então meu caro! A voz dela estava perfeita e o show foi belíssimo, ousado e ela estava encantadora! A única crítica negativa que li foi a sua, aliás, crítica totalmente descabida, o público aplaudia antes mesmo das músicas terminarem, a banda é excelente, os falsetes com a voz divinos, o show foi surpreendente. De que decadência você está falando? Só se for do seu texto com esses erros de grafia e de não ter apreciado um show que deixou a muitos boquiabertos como eu! Ouso dizer que deixou o show da Marisa Monte no chinelo!
Uma crítica negativa ao show premiado da Gal Costa, pelo famoso quem?
Assisti essa pérola e foi maravilhoso ! É mais um querendo se sobressair através do talento do outro...
Para o comentário de Leo carrer: Parece que você já exerceu aquilo que chama da "arte de parar". Parou no tempo, deve ser um eterno adolescente, que não soube amadurecer e que não sabe reconhecer o bom vinho que, envelhecido, fica melhor mas que é apreciado por poucos. Outra coisa, se não gosta da cantora, da voz dela e acha que ela está decadente, faça um favor, não vá ao show dela e nem ouça suas músicas. Talvez a "arte de parar" deve ser exercida por você. Eu prefiro vê-la em todas as suas fases, reconhecer nela o humano que envelhece, modifica e sabe a "arte de seguir em frente", mesmo com críticas medíocres e, as vezes, infundadas.
E eu devo dar algum crédito à sua "crítica", mero blogueiro, que parece reduzir a arte da canção às descabidas e desnecessárias perfeita afinação e clareza vocais? O romantismo do século XIX já, há muito, superara o classissismo em que parte da medíocre classe média ainda busca amparo, como você.
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