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segunda-feira, dezembro 27, 2010

Os melhores de 2010 (I)

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Dando início à habitual enquete de fim de ano, quem abre os trabalhos e, atendendo ao convite do goiânia rock news, responde sobre o que de melhor aconteceu no horizonte musical de 2010 é o inquieto Márcio Júnior, que antes de enumerar as suas predileções do período faz uma curta digressão sobre sua relação com a música ao longo do tempo. Siga a letra:


Scratch my Back - Peter Gabriel


O convite do goiânia rock news provocou uma bela reflexão no meu cérebro pitimbado. A dificuldade de encontrar exemplares de 2010 para a escolha de discos e canções me fez perceber como minha conexão com a música se alterou ao longo do tempo.

Houve uma época em que elaborar uma lista dessas seria fichinha. Eu encarava o universo musical com o rigor de um cientista, ávido por conhecer todas as novidades e lançamentos. Gastava os meus parcos trocados para ter acesso àquilo que parecia ser novo e relevante. Gastava minha verborragia xarope para desnudar e, se possível, enterrar os (supostos) dinossauros que erravam pelos campos sonoros. Quanta pretensão...

As coisas mudaram. Ao menos para mim. Depois do milésimo hype em torno de qualquer banda nova que no fundo é um pastiche de algo que rolou há no mínimo 30 anos, desencanei. Se antes minha abordagem era, digamos, sociológica, hoje ela é mais subjetiva, individual. Quase psicanalítica. Gosto de entrar num sebo e sair com um monte de vinis baratos debaixo do braço. Vinis que não sei do que se tratam. Na hora da escolha, a capa é determinante. A esquisitice também. Boto a bolacha na vitrola e fico esperando a música me pegar.

Ainda escuto com afinco os discos que lançamos pela Monstro. E continuo a seguir os artistas que me são caros. Para mim, no final das contas, são eles que ainda dão as cartas. Sociológica e psicanaliticamente falando.

Abandonei quase por completo a imprensa musical no que diz respeito à crítica - que de especializada não tem nada. O tempo é curto e chega um momento em que não dá mais pra perdê-lo com alguém mais novo e burro do que eu.

Nesse panorama, 2010 foi mais ou menos isso aqui nos meus tímpanos:


Melhor show
Esse foi um grande ano de shows para o Brasil. Não vi nenhum. Mas fiquei com vontade...

Arrigo Barnabé canta Caixa de Ódio,
de Lupicinio Rodrigues (Bolshoi Pub - Goiânia)


Bebê recém-nascido em casa muda tudo. Os shows, uma das necessidades de primeira ordem, pularam lá pra 40a posição na lista de prioridades, bem abaixo das fraldas Pampers. Daqueles a que tive acesso, o melhor foi o do genial Arrigo Barnabé interpretando Lupicínio Rodrigues. No Noise, The Mummies e Krisiun foram antológicos.


Melhores álbuns
1 - 2010 me reservou uma pérola. Scratch my Back, de Peter Gabriel, é uma obra-prima onde o legendário fundador do Genesis troca chumbo do mais alto calibre poético com pares não menos legendários, tais como David Bowie, Lou Reed, Radiohead, David Byrne e Bruce Springsteen. Coisa de gente grande.

"Flume", from Scratch my Back - Peter Gabriel (Bon Iver's cover)


2 - Apesar da capa sem graça, Nasceu, do Rinoceronte, foi um dos melhores lançamentos Monstro de 2010. E sem nenhuma modéstia coloco o 12 Arcanos, do Mechanics, como um dos álbuns que merecem uma audição rigorosa (à base de Dramin, que é para evitar possíveis náuseas).


Melhor música
Não consigo mais decorar nome de música. O conceito de álbum, que lentamente acompanha a vaca rumo ao brejo, ainda me é infinitamente mais interessante do que pensar em músicas individuais.

"Modern Day Delilah" - Kiss


Pra não votar em branco, fico com "Modern Day Delilah", dos meus eternos heróis KISS. Rockão porrada e certeiro, poderia estar em qualquer grande disco da banda. Mas na real, é a faixa de abertura de "Sonic Boom", discão que quebra um jejum de onze anos sem um álbum de inéditas dos mascarados - e que, sem nenhuma explicação minimamente racional, não teve um lançamento digno no Brasil.

Enfim, minha suada lista de 2010 revela um pouco como tenho me relacionado com a música nos últimos tempos: olhando pra trás. Porque é lá que está quem aponta de verdade pro futuro. Podem me chamar de velho. É a mais pura verdade.




Márcio Júnior é sócio fundador da Monstro Discos e do Goiânia Noise Festival. Também é vocalista dos Mechanics.





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