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segunda-feira, maio 16, 2011

Entrevista Márcio Júnior (Monstro Discos)

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Sócio-fundador da Monstro Discos, Márcio Júnior participou de todos os momentos decisórios do, hoje, maior selo de música independente do Brasil. Não poderia ser diferente no momento em que foi negociada a saída de Fabrício Nobre da etiqueta (notícia que, apesar de especulada à boca pequena desde o lançamento d'A Construtora, só foi oficializada no último dia 27 de abril). Para entender melhor o acontecido, o goiânia rock news falou com Fabrício Nobre (em entrevista publicada aqui), mas também conversou com Márcio, que endurece o discurso e dá sua versão dos fatos no bate-papo a seguir.


Foto: Perroloco


Por que o Fabrício saiu da Monstro?
Márcio Júnior - A Monstro é uma empresa que foi criada em 1998 por mim e pelo Leo Bigode. Nossa idéia era criar um selo/produtora para lançar e trabalhar bandas que a gente acreditava estar entre as mais interessantes no cenário independente da época. Queríamos lançar discos, produzir shows, promover intercâmbios, realizar festivais e, principalmente, nos divertir. O cuidado e profissionalismo que tínhamos com nosso produtos (vinis malucos, design arrojado, assessoria de imprensa, Goiânia Noise Festival, etc.) terminaram por estabelecer a Monstro como um dos principais nomes do panorama alternativo brasileiro. Nossas referências eram essencialmente selos como Dischord e Alternative Tentacles, que possuíam uma visão muito crítica e ácida do mercado fonográfico mainstream. Neste sentido, a vibe da Monstro sempre foi punk: queríamos fazer um monte de coisas legais, sempre acreditando na autonomia dos artistas e sem concessões de nenhuma espécie. Alguns anos após a criação da Monstro, o Fabrício apareceu e sugeriu ampliarmos a sociedade, incluindo-o e também ao Leo Razuk. Na bagagem veio o Bananada, festival que ele criou.

Esta foi uma sociedade que durou bastante tempo e realizamos muitas coisas das quais temos o maior orgulho. O problema é que, nos últimos tempos, o Fabrício passou a se dedicar a ações que eram conflitantes com os interesses da Monstro. A Construtora, por exemplo, realiza uma série de ações que, no nosso entendimento, deveriam ser feitas pela Monstro. Diante desse panorama, eu, Leo Bigode e Leo Razuk preferimos seguir sem ele na empresa.


O comunicado publicado no site da Monstro, fala que a separação se deu por “divergências de visões e pensamentos em relação às ações e ao futuro do selo”. Quais seriam essas divergências?
Márcio - O mercado da música alternativa é muito complexo. Para que uma empresa como a Monstro possa sobreviver e ser lucrativa, é importante que ela esteja envolvida em todo o processo. Lançar um CD físico hoje em dia é uma ação deficitária, mas ainda assim muito importante para a visibilidade de uma banda. Ou seja, se perdemos dinheiro lançando discos é possível reverter este quadro produzindo e também vendendo shows. A questão é que a Monstro tinha um investimento nos discos (mesmo quando a banda paga a prensagem!!!) e na outra ponta, na hora de capitalizar institucional e financeiramente, a Monstro não estava presente. Ou seja, havia um esgoto dentro da própria Monstro que iria, em nossa opinião, conduzir à falência da empresa caso não fosse estancado. Obviamente os problemas não se reduzem apenas a isto, mas é um exemplo adequado para entender a situação que atravessamos.


A Monstro perde algum título já lançado para o antigo sócio?
Márcio - Não. Disco é um negócio usualmente deficitário, então penso que ele não vai mexer com isso.


Foto: bruno Lobo


O que muda na Monstro a partir de agora? Quais são os planos do selo, daqui pra frente?
Márcio - O que de fato muda é que os tramites e o diálogo dentro da Monstro estão muito mais fáceis e tranqüilos. E acho também que a Monstro será uma empresa mais acessível a partir de agora. Muita gente tem nos relatado que não se sentia à vontade em nos procurar. O Fabrício – e isso não é segredo pra ninguém – possui uma personalidade muito forte e alguma dificuldade em lidar com opiniões contrárias. Por isso achamos que o melhor caminho era mesmo ele seguir sozinho com seus projetos, arcando com todos os ônus e bônus de sua postura e de suas decisões.

Estamos cheios de planos pra Monstro. Queremos tocar os projetos antigos e criar outros novos. Posso adiantar algumas coisas aqui, sem muitos detalhes: a volta do Infomonstro e das Noitadas Monstro, o Antimúsica, a realização da Zombie Tour (só com bandas de Psychobilly) e por aí vai. Temos alguns shows gringos no gatilho e estamos estabelecendo novas parcerias, bem como recuperando algumas antigas, uma vez que era o Fabrício quem fazia este trampo em nome da Monstro. O mais importante é que a coisa voltou a ficar divertida pra gente. Acho que estamos recuperando o velho espírito da Monstro. Não queremos ser os patrões do rock, os fodões da indústria, nada disso. Muito pelo contrário. A Monstro, na real, surgiu para ser o oposto daquela caricatura ridícula que é a indústria fonográfica.

Pra mim é muito importante dizer que, para nós três, a Monstro é um projeto de vida. Então estamos tendo muito cuidado com esse período de reformulações. Não estou preocupado com a Monstro dos próximos dois meses, mas sim com a Monstro dos próximos dois, dez, quinze anos. O que é feito respeitando o tempo, o tempo respeita.


Já existe algum (ou alguns) nome confirmado para o Antimúsica?
Márcio - Não. Estamos fechando nosso calendário e logo todos saberão a data e as atrações do Antimúsica. O que dá pra adiantar é que o mote do festival será rock e porrada! Shows de bandas loucas alternados com lutas dos mais diversos estilos. Enfim, algo que eu adoraria pagar um ingresso pra ver.


Monstro e Construtora são concorrentes?
Márcio - De forma alguma! A Monstro pensa o mercado em que atua de forma mais ampla, como uma grande cadeia produtiva. Esse papo de disputa, concorrência, não cola pra gente. Como disse antes, a vibe primordial da Monstro é punk e é assim que deve continuar a ser. Quando eu e o Bigode começamos a história toda lá atrás, havia uma premissa que era muito cara ao underground da época: “cooperation, not competition!” Ainda pensamos assim. O Fabrício é um grande produtor e temos certeza que vai fazer um monte de coisas legais pra caralho.


O Goiânia Noise 2011 será realizado como nos últimos anos, em vários dias e lugares da cidade, ou vai resgatar seu formato tradicional, centralizando as atrações num mesmo espaço, durante um mesmo fim de semana?
Márcio - Ainda estamos definindo isso. São quase infinitas as variáveis na produção de um festival do quilate do Noise. Mas podem estar certos de uma coisa: em novembro vai rolar um Goiânia Noise fodaço!


Na opinião da Monstro, qual a principal contribuição do Fabrício ao longo de 10 anos de sociedade?
Márcio - Uma inacreditável força de trabalho e ambição sem limites.










Fabrício Nobre comenta sua saída da Monstro Discos







3 comentários:

Allysson Garcia disse...

Essa moçada não me engana, estão montando é uma holding, punk nada, são é yuppies mesmo, kkkkkkk

Colegio Estadual Joana Darc disse...

Torcendo muito para que a saída do Fabrício não interfira no exelente trabalho que a Monstro fez e estava fazendo pela cultura em Goiás.

Que o Gyn Noise mantenha o alto nível e privilegie a diversidade musical como sempre.

E que o Bananada, agora da Construtora, nos surpreenda com esse seu novo formato. Aliás, quanto ao Bananada, Marcelo Camelo, Gloom e Violins para a primeira parte, achei ducaralho.

Larissa Nobre disse...

Triste com o pouco cuidado e decepcionada com visão que o parceiro de trabalho de tantos anos Marcio Jr. tá vendendo por aí...