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quarta-feira, novembro 29, 2006

Assembléia hardcore.


BNegão e os Seletores de Freqüência
Foto:
r0cket.multiply.com


* Goiânia Noise Festival

# Domingo, terceiro e último dia de farra, cansaço acumulado e muitos shows ainda pela frente. Atrasado por causa da chuva, o blog se viu presente no Oscar Niemeyer a tempo de matar a enorme curiosidade a respeito dos cearenses da Fossil. Post rock instrumental intenso, sobrecarregado e repleto de minúcias, extendido em temas longuíssimos que conduziam, sempre, ao transe hipnótico. Climatizações e atmosferas geladas, encadeadas de uma forma tão bonita que inspiravam as mais diversas sensações em quem se deixava envolver. Espetacular!

# # Já haviam se apresentado, Obesos, Mersault e a Máquina de Escrever, Johnny Suxx n’ the Fucking Boys, Supergalo e Crazy Legs.

# No palco Noise o Carbona consumia energia adolescente com seu hardcore cheirando chiclé de bola, enquanto os cariocas da Maldita preparavam terreno para seu show de horrores. Numa salada que envolve Marylin Manson, Sepultura, Metallica, Portishead, Tolerância Zero e um tanto mais de bizarrices, o grupo prendeu a atenção de centenas, cometendo sua performance insana regada a sangue de groselha e solo de bateria incandescente. Marcante, pra dizer o mínimo!

# # Mais uma vez voltando ao palco Noise e aos problemas com o som, a Valentina tentava derrotar a distância e aquecer o menor público dos três dias. A banda lançou no festival o seu disco de estréia, mas sem conseguir inflamar seu pequeno público cativo, ficou mesmo no zero a zero.

# # # Entrando no apogeu do fim da farra, BNegão e Os Seletores de Freqüência fizeram as honras, com suas melodias impregnadas de setentismo black power, rimas urbanas e requinte de gafieira. Nova Visão, Dorobô, Prioridades e A Verdadeira Dança do Patinho, entre algumas novas e outras pepitas de Enxugando o Gelo, mostraram que o caldo do Planet Hemp rendeu bem mais que a prolífica e talentosa carreira solo de Marcelo D2.

# Fechando a tampa dessa décima segunda – e bombada – edição do Goiânia Noise, o Ratos de Porão levou novos e velhos fãs ao júbilo. Aglomerada e espremida no gargalo do palco Noise, a caravana agacê confraternizava entre adolescidos rapazotes, e (quase) respeitáveis senhores, que ao longo dos anos aprenderam a amar os sons coléricos e estúpidos de João Gordo e companhia. Para essa parte mais velha da turma, o RDP reservou canções como Pobreza, Cucificados pelo Sistema, Caos, Agressão/Repressão e Não Me Importo, todas de Crucificados Pelo Sistema, primeiro e clássico álbum do grupo. Mas não faltaram os esporros de Homem Inimigo do Homem, disco mais recente, e motivo dessa turnê.

# # Relembraram com a violência devida, pérolas de Descanse em Paz e Anarkophobia mas, como era de se esperar, não incluíram nenhuma do magnífico Just Another Crime... In Massacreland, único registro da banda em inglês, e talvez por isso ignorado.

# # # João Gordo ainda encontrou energia para discutir com um dos milhares de moleques que insistem, sabe-se lá por quê, em detratá-lo e chegou a atirar o microfone no rumo da criança, que não sei se sobreviveu... ao vexame. Felicitou pessoalmente e com bom humor uma das seguranças, que corria com rigor atrás daqueles ultrapassassem a área permitida para os moshs e invadissem o espaço reservado para a banda e manuseou a assembléia hardcore como quis. Vinte e cinco anos de palco servem pra alguma coisa, afinal!



* Abraços para os amigos da estrada, Coruja (ex baixista do La Pupuña) e Léo Rockassete (baterista dos Rockassetes), que entraram para a lista de bródis do blog ainda em Londrina, durante o Demo-Sul, e visitaram Goiânia Rock City durante o festival.

O mercado dos Bons Sons!


Pata de Elefante
Foto:
r0cket.multiply.com


* Goiânia Noise Festival

# Dando início às atividades da segunda noite, a goianiense Bang Bang Babies entornou seu rock sujo, cheio de adoráveis garagices britânicas moderninhas, e conseguiu reunir um bom número de humanos diante do palco Monstro, apesar do dia ainda claro. Depois deles, a também local WC Masculino mastigou seu hardcore raivoso e cheio de discurso para a mesma platéia, que agora rodopiava nas rodinhas de pogo.

# # O público do sábado anunciava-se beeem menor do que o do dia anterior (notícia que Fabrício Nobre deixara escapar durante o show do MqN), e nem a estratégia de botar uma banda com grande apelo popular como o Violins pra tocar mais cedo, fez com que o grosso da moçada também antecipasse sua chegada. Assim, Beto Cupertino e sua turma fizeram as honras de abertura do palco Noise para pouco mais de cem pessoas. Apresentando basicamente músicas de Tribunal Surdo, disco que deve ser lançado depois do carnaval, o grupo não conseguiu vencer o distanciamento, o pouco público, e o som que insistia em não colaborar. Na maioria do tempo, o contra-baixo e os teclados simplesmente se escondiam por entre a confusa massa sonora de guitarra, bateria e vocais, e isso num volume incrivelmente baixo. Já quase no final a coisa pareceu se ajeitar, mas a essa altura pouca coisa adiantou.

# # # Mesmo assim o conjunto empolgou os fãs mais devotados, com canções como Hans, Grupo de Extermínio de Aberrações e Campeão Mundial de Bater Carteira.

# De volta ao palco Monstro, lá fora, a banda com o nome mais estranho do festival, Debate, se revelou uma grata surpresa, num mix impensado de Zumbi do mato com Fugazi, arranjado entre lembranças de Mars Volta e At The Drive In. Vocais gritados (e às vezes irritantes), guitarra impaciente, baixo exagerado e bateria ultra-picotada e exata. Segundo o grupo, estão atrás da criação de uma sonoridade de centro esquerda, que não rompa com os conservadores e respeite as leis do mercado! Hã?

# # Para um público que começava a crescer, o Los Diaños adiantou sua receita de psychobilly, jazz e surf music, seguidos pelos brazilienses do Prot(o), que continuam cosendo seu rock com água, sal e açúcar.

# No primeiro grande, e esperadíssimo, momento da noite, os gaúchos da Pata de Elefante tomaram posse do imenso palco Noise e reuniram quase que a totalidade das almas presentes no festival, num desbunde instrumental espremido em meia hora de êxtase. Soltaram, Funkadelic e O Dia em Que a Casa Caiu, entre algumas poucas outras, não satisfizeram por completo o séqüito de adoradores que a banda mantém na cidade. Quem sabe um outro show, daqueles demorados e sem hora pra terminar?

# # Sucedendo a Pata, o hardcore duro e mal-passado do Ação Direta reclamou a atenção de quem estava por perto do palco Monstro, sucedidos pelo Mechanics, que se esforçaram para entreter a pequena multidão que começava a se aglomerar dentro do Palácio da Música, esperando pela Patrulha do Espaço, e pela grande Nação Zumbi.

# # #Os tiozões da Patrulha do Espaço são uma espécie de baluartes do rock independente nacional. Pra quem não conhece a estória, eu explico: numa época em que o mercado fonográfico era completamente dominado pelas grandes gravadoras, e que esquemas independentes de gravação e distribuição eram inexistentes, a Patrulha do Espaço (que nasceu com o guru Arnaldo Baptista, que menos de um ano e dois discos depois abandonou a banda) se viu obrigada a gravar, lançar e distribuir por conta própria seus discos, antecipando em décadas o modus operandi que, hoje, injeta sangue novo no mercado dos bons sons (como diria o reverendo) do novo milênio. E tudo isso, é justo lembrar, numa época em que internet era coisa inimaginável até nos filmes de ficção científica.

# # # # O show dos lendários não poderia ser de outra forma, senão impecável. É bem verdade que depois da saída do Arnaldo, ainda em 78, o grupo abandonou sua aventura psicodélica, redirecionando suas antenas para o hard-rock cru e dançante, e assim também foi sua apresentação em Goiânia. Ainda que homenageassem Arnaldo com Sexy Sua, do álbum Elo Perdido (1978), o que reinou no repertório foram as guitarras azedas, a cozinha cavalgante e os vocais agudos, que culminaram no clássico de arena Colúmbia, aplaudido com arrebatamento pela platéia satisfeita.

# A Nação Zumbi também é velha conhecida dos goianos, e se o público do dia anterior havia sido muito maior, aquele que esperava pelos pernambucanos não perdia nada em entusiasmo. O blogueiro aqui já se encontrava em frangalhos, de tanto correr de um lado para outro atrás de shows e entrevistas (que logo logo estarão aqui publicadas), e por isso perdeu metade da apresentação do ex-grupo de Chico Science. Aliás, o defunto aí foi relembrado mais de uma vez durante a apresentação, em versões de vários dos hits de Afrociberdelia e Da Lama Ao Caos, desgastados pela super-exposição, mas recriados com tanto frescor e intenção, que estimulou os sentidos como coisa nova. Antropofagia re-processada.

# # E, por falar nisso, dormir algumas horas também faz um bem danado.

A alegria da maioria.


MqN
Foto: www.r0cket.multiply.com


# Pois é, foi-se mais um Goiânia Noise, festival que nascia há treze anos e que chegou à sua décima segunda edição com cara de gente grande. A farra que começou em 1993 em plena praça Universitária (reduto de todas os estratos da fauna ‘intelectualizada’ e vagabunda da cidade), atingiu seu apogeu com a mega-estrutura da versão turbinada de 2006.

# # O palco principal, dentro do Palácio da Música do colossal Centro Cultural Oscar Niemeyer, sofreu com uma acústica não preparada para uma difusão tão descomunal de decibéis guitarreiros. Já o palco secundário, apesar de modesto no tamanho, vibrava em suas caixas sons de perfeição cristalina. Isso sem contar o charme e proximidade que um pequeno palco pode proporcionar.

# # #Entre os dois palcos, um imenso pátio. Logo na entrada havia a tradicional feirinha rocker, onde se podia adquirir, entre tantos outros fetiches pop, até uma raríssima edição em vinil do famoso Tim Maia Racional, de 1974 e com todos os seus grooves finos. Para isso bastava desembolsar a nada singela quantia de R$ 300,00!!

# A sexta-feira, primeira noite,parecia confirmar a aposta alta da Monstro Discos, com um público bem pra lá de satisfatório, beirando o preocupante. A abertura, perdida pelo blogueiro, ficou por conta dos goianos da Black Drawing Chalks, do Señores e do Trissônicos, seguidos de perto pelo eletro-macumbeiro e festivo dos cearenses da Montage. Na sequência, o gaúcho Tom Bloch não empolgou a ainda pequena platéia que se dispunha a encarar o gelado ar condicionado do teatro sem cadeiras. Aliás, é preciso pontuar: o que era uma pequena platéia dentro do imenso Palácio da Música, fazia um volume retumbante no seu vizinho, o palco secundário, apelidado de Palco Monstro. Daí a faca de dois gumes.

# # Já no meio da noite os sergipanos do Snooze se ocuparam do tal palco secundário e enterneceram a atmosfera fria com suas melodias derramadas, pesadas e cheias de beleza triste. Seguindo, a Karine Alexandrino cometeu suas esquisitices performáticas e pouco atraentes no palco Noise, o dito principal. Já no palco Monstro, o Cascadura surpreendeu. Em disco o grupo baiano soa bem mais pesado e roqueiro que ao vivo, o que decepcionou o blog, fã de Vivendo em Grande Estilo, discão do grupo.

# # # Como comentado lá no início, o Palácio da Música sofria com a falta de tratamento acústico, e até os donos da festa sofreram as conseqüências. O MqN fez o show de sempre, mas a imensidão do lugar – que distancia sobremaneira a banda do público –, o volume inacreditavelmente baixo dos P.A.s, e a confusão sonora que escondeu o som do contra-baixo por quase todo o tempo, impediram a banda de consumar aquela costumeira e incendiária celebração. Parte da molecada ainda se empolgou em moshs repetidos, mas dessa vez o som não ajudava.

# Entrando no clímax da noite, os cariocas do Matanza – adorados por aqui – manusearam o mar de gente como quiseram. Sua receita nada original de country-music e hardcore convence muito mais gente do que o blogueiro aqui poderia imaginar. Legal mesmo foi ver os seguranças correndo atrás da molecada pelo palco.

# # O momento mais esperado por milhares de almas cândidas e dilaceradas estava próximo. O Los Hermanos tem uma estória bem particular. Tiveram lá aquele início bombástico com o mega hit Anna Júlia. No segundo disco fizeram careta para a indústria fonográfica e caíram nas graças dos formadores de opinião. Com o lançamento de Ventura, a tinta mais adequada para pintar sua relação com os fãs é a da adoração. Já em Los Hermanos 4, a adoração dos fãs persiste, mas parte da crítica formadora de opinião passa a rechaçar o fenômeno etiquetando-o como uncool, resultado talvez do inesperado retorno à super-popularidade.

# # # # Pois bem, aparentemente distantes dessa discussão, os hermanos pareciam longe também daquele palco que ocupavam. Atuavam segundo o velho clichê do funcionário público perto da aposentadoria, que até cumpre com suas obrigações mas não move uma palha para além disso. Um show burocrático, pouco emocionado e com uma entrega aparente mínima (e olha que Rodrigo Amarante até ensaiou um mosh. Meio bundão, mas ainda assim um mosh). Muitas das milhares de histéricas mocinhas que esgoelavam atenção, não pareciam se importar com a apatia dos barbados, e perpetuavam sua tietagem besta, sem se preocupar com os ouvidos dos vizinhos. Olhando criaturas como essas quase dá pra entender o porquê de uma banda tão legal como Los Hermanos ganhar pecha de brega, ou o que o valha.

# Mas a multidão parecia longe de qualquer divagação, e entoava em uníssono mântrico todas as canções. Pois é, Último Romance e até Casa Pré-Fabricada e Azedume, entre todas as outras, fizeram, enfim, a alegria da maioria. Não é isso que importa?

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Já, já o resto dessa estória.

sexta-feira, novembro 24, 2006

E o Violins fala ou não fala???

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Como promessa é dívida, está aí embaixo um pequeno trecho do bate-papo do blogueiro com o Violins, numa aprazível tarde de sábado na chácara do vocalista, guitarrista e compositor Beto Cupertino, onde Tribunal Surdo – o novo álbum da banda – foi o tema principal. O papo inteiro você vai poder conferir no entrevistão da primeira edição de 2007 da revista Decibélica. Por enquanto, vai saboreando o aperitivo aí:


Da esq. pra dir.: o blogueiro aqui,
Beto Cupertino e Pedro Saddi.
Foto: LuiZ Antônio Passos




O quê dá pra dizer que influenciou a confecção do Tribunal Surdo, em termos de música, literatura, etc.?
Beto –
Cara, eu não leio um livro de literatura há uns cinco anos. E tenho ouvido muito pouca música. Eu ouvia muita música, mas ultimamente... eu entro no carro, vou para os lugares e nem ligo o som. Deve estar acontecendo alguma coisa comigo, não sei se é a velhice chegando...
Pedro – O que a gente mais ouviu ultimamente foi Nine Inch Nails, até bitolou um pouco.
Beto – É! Ouvi muito Nine Inch Nails, mas acho que não tem muita coisa a ver com o que a gente está fazendo.

Mas agora que o disco já está quase pronto, ouvindo vocês não conseguem identificar nenhuma referência?
Thiago –
Eu não!
Beto – Cara, deve ter alguma coisa né? Para a gente que está de dentro é difícil falar sobre isso.
Thiago – Influência do disco anterior. Ou de alguma coisa que a gente tenha escutado aqui, num final de semana, mas eu não tenho percebido isso não.
Beto – Acho que pelo fato da gente estar ouvindo pouca música né?
Pedro – Acho que o que a gente ouve não tem muito a ver com o que a gente faz não. No meu caso, pelo menos. O que eu ouço não tem muito a ver com o que eu faço.
Thiago – Eu também não.


Há alguns anos, no show de lançamento do Aurora Prisma lá no teatro Goiânia, após uma das canções você fez uma piadinha do tipo “É tudo mentira, viu!”. Quanto de auto-biografia tem nas letras do Violins?
Beto –
Cara, no disco atual acho que não tem nada (risos)! Se eu falar que tem, eu vou ser preso (risos gerais).
Pedro – É, espero que não tenha!
Beto – Acho que o disco mais auto-biográfico é o Wake Up and Dream. O Aurora Prisma ainda tem um pouco disso, mas muita coisa também de ficção. O Grandes Infiéis já é quase todo ficcional, e O Tribunal Surdo é todo ficcional. Acho que tudo que você escreve tem um pouco de auto-biografia, por quê é você que está escrevendo né? Aquilo que você escreve, mesmo que seja uma ficção, tem algo seu... mas não quer dizer que aconteceu comigo. Quer dizer que tem uma influência do que eu sou, do que eu vivi, do que eu li, dos filmes que eu assisti, das músicas que eu ouvi, tudo tem uma influência. Nesse sentido, tudo o que eu escrevo tem alguma coisa de auto-biográfico, mas não que as músicas reflitam o que eu fiz, o que eu sou... aí não, aí é ficção total! Se fosse, podia internar (risos).


E aquelas músicas, postadas quinzenalmente no site?
Beto –
Aquele lá já é outro projeto né? Só músicas para o site. E a gente gravou em casa, no laptop do Pedro, usando um microfone e ligando as coisas direto na placa de som, enquanto ensaiava para fazer o disco. Por que gostamos de deixar a banda bem viva, quase todo ano a gente lança um disco, e gostamos que visitem o site, a comunidade [do Orkut], vejam ação rolando lá. Então temos esse cuidado de sempre oferecer alguma coisa pra quem que gosta da banda. Disponibilizar gravações simples e caseiras, meio que lado B, sem pretensão de ir pra disco nenhum. Gravamos umas seis ou sete músicas, postadas semanalmente no site. Aí quando começamos a gravar o disco, paramos porquê não dava mais tempo. Talvez num futuro próximo voltemos a fazer isso, de duas em duas semanas. Por que no início prometemos uma música por semana, mas como eu trabalho à noite, e o Pedro só pode nesse horário, era difícil encontrar pra gravar e demorava um pouco mais, e a galera já começava a cobrar. Depois vamos voltar com esse projeto, mas com uma ou duas músicas por mês. Por que às vezes você gosta de uma banda e ela demora três anos pra lançar um disco. Por exemplo, eu estou esperando disco novo do Silverchair desde o Diorama [lançado em 2001], que eu gosto pra caralho. E a banda nunca mais lança nada cara, eu fico puto (risos)! Querendo ouvir música nova, e eles vão lançar só em 2007! As vezes o cara nem tem culpa né? Mas ir colocando umas musiquinhas para o pessoal ouvir, vai agradando. É um aperitivo.


E sobre aquela associação que faziam do som do Violins com Clube da Esquina, na época do Aurora Prisma e do Grandes Infiéis, procede?
Beto –
Pra você ver que coisa mais inusitada! A gente é um grupo de jovens que nunca tinha ouvido esse povo antigão e de repente aparecem com essa, de que a gente é Clube da Esquina! Isso pra mim é a mesma coisa de falar que é virose. A gente nunca ouviu isso... somos [eram] uma banda com duas guitarras, formação de rock... e aí, Clube da Esquina? Que é uma emepebê mais diferente e tal...
Pedro – Até comprou o cedê pra ouvir né?
Beto – Depois eu comprei. Comprei Lô Borges, Beto Guedes...

Músicos, geralmente, são avessos à rótulos, mas qual deles mais se aproxima do som do Violins de Tribunal Surdo?
Beto –
Humm... (pensativo) aí eu já não sei cara... passo pro Thiaguinho, ele sabe.
Pierre – Pegou pesado.
Beto – Eu não tenho a pretensão de dizer que não tem rótulo, mas é que eu não sei mesmo!

Pra facilitar, numa loja de discos em qual prateleira o disco do Violins estaria hoje?
Thiago –
Acho que na de rock!
Beto – É, rock! Mas na de rock cabe tanta coisa né?
Pierre – Talvez estaria naquela de rock alternativo!
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quarta-feira, novembro 22, 2006

O Acre Não Existe, Pôrra!


Vudu
Foto: Talyta Singer (Espaço Cubo)




* No próximo post entra o prometido trecho do bate-papo com o Violins, que sai na íntegra na primeira edição de 2007 da revista Decibélica.

# Demo Sul:
Último dia de festival, gostão de fim de feira. Mas a VI Geração da Família Palim do Norte da Turquia conseguiu afastar o bafo de realidade da segunda feira à espreita. Rock com pitadas de punk, e muito bom humor serviram para abrir de fato os trabalhos de domingo. Destaque para 'Acre!Que Pôrra É Essa?', cujo refrão afirma: "O Acre Não Existe, Pôrra!". Uma bela canção de amor, que desacredita as aulas de geografia e mapas do Brasil em geral.

# # Outra apresentação insana foi a dos catarinenses do Ambervisions, que ao final da introdução, se apresentaram solenemente: “Boa Noite, nós somos os Forgotten Boys!”. Surf-core acelerado e gritado com doses generosas de bom humor e ironia. Zimmer, o gigante e rotundo vocalista, desfilava de máscara e percorria freneticamente todos os cantos do palco, jogando água em todo mundo e girando o microfone pelo fio. Não satisfeito, arremessou seu imenso corpanzil palco abaixo, descendo de um pulo para a platéia, onde continuou o ritual de esquizofrenia. Depois do fim do festival, lanchando com a turma no Habib’s, fico sabendo que o cara tinha ido parar no hospital, com o joelho estourado. Também...

# # # O Jhonny Suxx n’ the Fucking Boys, que na noite anterior havia tocado na vizinha Maringá ao lado dos Ambervisions e do Forgotten Boys, fez seu belo show de guitarras e poses, mas não conseguiu levantar o ânimo da platéia mais apática dos três dias.

# # # # Pra terminar a noite, depois dos locais precisos do Mudcracks, os Forgotten Boys assumiram seu posto de atração principal e reuniram o menor público dos três dias de festival para ouvir, sem muito entusiasmo, o excelente resultado de sua prolífica discografia. Começando com Stand By the D.A.N.C.E., e preferindo a versão em inglês para ‘5 Mentiras’, os garotos esquecidos não empolgaram o povo rock presente, mas mesmo assim fizeram um show redondo e profissa. Bobo do povo que não aproveitou para dançar!


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* Textão largo e completo sobre o festival? Só na primeira Decibélica de 2007.

* * Fica assim então, guentaê que um pedaço razoável
do entrevistão com o Violins já já entra aqui!

terça-feira, novembro 21, 2006

Vudu argentino!


Bruno Cayapi - Macaco Bong
Foto: Bruno Dias - www.urbanaque.com.br

* De volta à Goiânia



# O Demo Sul acabou e o blogueiro desavisado, que foi pensando em passar um friozinho no sul, se fodeu já que Londrina estava ainda mais quente que a terrinha.

# # Lá embaixo você lê uma curta entrevista com os gaúchos do Superguidis, que fizeram um dos melhores shows da primeira noite.

# # # No segundo dia, o maior destaque ficou por conta dos nossos hermanos argentinos do Vudu, que com uma verdadeira aula de genuíno rock n’ roll arrancaram entusiasmo até dos mais distraídos. O quarteto perfilou os clássicos de seus três discos, conseguindo reunir o já grande público em frente ao palco e prender-lhes a atenção por todo o set. Guitarras azedas e suingadas, vocais irretocáveis e cozinha absurdamente requebrável, num misto personal de Grandfunk e Led Zeppelin, garantiram aos compañeros de mercosul o laurel de melhor show da noite. Simplesmente Acachapante!

# # # # Seguindo, os Rockassetes teriam a ingrata tarefa de suceder o conjunto argentino, que a essa altura atendia os fãs e jornalistas na lateral do palco. Apesar de concentrar um público menor, os sergipanos teceram sua malha pop-roqueira sessentista com classe, costurando suas melodias doces e assobiáveis com letras divertidas e despretensiosas. Não é por acaso que andaram freqüentando o espaço mais nobre da última edição da Decibélica.

# # # # # O grande Porcas Borboletas fez um dos melhores shows de todo o festival. A salada de emepebê esquisita com outras roqueirices estrangeiras ganha um sabor especial ao vivo, onde as performances irrequietas de Danislau e Enzo Banzo tomam as rédeas do espetáculo. Referências aos irmãos Barnabé são bem vindas entre os mineiros, que re-processam a Vanguarda Paulistana, acrescentando, é claro, seus próprios venenos.

# Com muitas horas de festival pela frente ainda e com o almoço já devidamente digerido, a única opção era mastigar alguns dos modestos espetinhos, vendidos a R$ 1, 50 na barraca da cerveja. Nenhuma alternativa havia. Bruno Dias, colega lá do Urbanaque e também colaborador da revista Bizz, tentava burlar essa falha trazendo pãezinhos surrupiados no café da manhã do hotel, para envolver os nacos de carne do espeto num sanduíche improvisado. O problema é que ele nunca acordava para o café, e quando acordava nunca se lembrava da manobra.

# # Sábado também foi o dia da (in)esperada baixa do Finatti. Discutindo, sabe-se lá por que, com a prestativa Jôse, da produção do festival, o distinto proprietário da Zap, saiu às pressas bufando e quando encontrou a van que levava e trazia o pessoal das bandas, esbravejou que queria a porta aberta e pôs-se a lutar com a maçaneta do veículo. Não deu outra: antes que o condutor pudesse dar a volta e ver o que acontecia, freak Finas sai com a maçaneta do automóvel nas mãos, exibindo um certo constrangimento alcoólico perante o olhar de reprovação e raiva do, até então simpático, motorista. Não demorou os seguranças foram envolvidos e a baixaria quase reina. Contudo, logo chegou o Marcelo Domingues (diretor executivo e pai do festival) para deitar panos quentes na estória. Ê Finatti...

# # # Falando em Finatti... Logo que cheguei no hotel, na sexta feira pela manhã, recebi um kit: credenciais, fichas de cerveja, um cedê compilação com as bandas do Demo Sul 2005 e uma folha com instruções sobre horários das refeições, dos shows e de saída das vans. Como penalidade para os que descumprissem o cronograma e atrasassem todo os demais, estava previsto (e impresso) o castigo cruel de dividir quarto com quem?? Hã? Isso, adivinhou!

# # # # Pra quem não conhece, o Finatti é uma lenda do jornalismo musical brasileiro, assina a coluna semanal Zap n’ Roll, no portal Dynamite e também é colaborador da edição nacional da revista Rolling Stone. Sempre que vai cobrir um festival, deixa muuuitas estórias pra trás...


# Os Locais do Trilobit, todos de macacão azul, também fizeram uma apresentação digna de nota, ainda na primeira noite. Rock com eletroniquices diversas, feito para as pistas descoladas, e com um gorila maluco como baixista. Rock caipira bruto!

# # Rogério Skylab ajuntou a pequena multidão em frente ao palco para fechar a segunda noite. Banda profissa, público cativo e presença de palco, taí uma receita que costuma dar certo, e não foi diferente em Londrina. Mas o mito carioca nunca tocou fundo o coração do blogueiro aqui, que aproveitou as várias cadeiras vazias, deixadas pela massa compactada no gargalo, e assistiu o encerramento da noite de longe e devidamente sentado.


* Como avisado no post anterior, a cobertura completa da festa poderá ser conferida na primeira edição de 2007 da revista Decibélica.

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A Superguidis veio ao mundo no inverno de 2002, influenciada pelos fortes odores do rock inglês sessentista, muito popular no sul do país. Até que descobriram o Crooked Rain, Crooked Rain do Pavement e outras pérolas do Guided By Voices, e então aposentaram os ternos e lhe caíram as cuecas! Aí embaixo você confere um papo rápido com o grupo, logo depois de descerem do palco do Demo-Sul 2006.


Hígor - O que vocês ouviram essa semana?
Andrio –
Vou ter que pensar um pouco... Queens of the Stone Age, que é quase sagrado. My Bloody Valentine… o Incesticide do Nirvana, e uma banda de uns camaradas meus lá de Guaíba, que são Os Empíricos.
Lucas – Eu estou apaixonado pela Cat Power! Quero me casar com ela a qualquer custo. Muito Cat Power... ouvi Sparklehorse, que é uma banda que me dilacera o coração, é lindo! Também ouvi Queens of the Stone Age, o primeiro do Foo Fighters.
Andrio – Uma banda legal também é Trail Of Dead.
Lucas - Emo!
Diogo – Eu ouvi Prozac, Nada Surf, e estou ouvindo muito o Los Hermanos número 4. Ando viciado nessas três bandas.
Marco – Yeah Yeah Yeahs, qualquer coisa do Queens of the Stone Age, The Cure sempre, e Evan Dando de vez em quando, pra dar uma relaxada.
Lucas – Vai dando de vez em quando pra dar uma relaxada?? (risos)

Hígor – E o show no Demo-Sul 2006?
Lucas –
Pô, foi do caralho! Tinha um monte de gente que conhecia as músicas, a gente ficou impressionado. É sempre assim, a gente chega nos lugares e pensa que vão atirar coisas, ou mandar a gente embora, mas sempre tem uns cabeças que conhecem as músicas... de onde??

Hígor – E o disco novo, que será gravado em Brasília e vai sair pelo Senhor F Discos?
Andrio –
Nosso primeiro disco foi gravado em Guaíba mesmo, na casa de um camarada nosso lá, o Sonic, e rendeu bons frutos como esse show aqui hoje no Demo-Sul. O próximo álbum a gente vai gravar em janeiro de 2007, lá na casa do Philipe Seabra e vai ser o segundo disco pelo Senhor F Discos. Como o Philipe dá bastante atenção pra bateria, acho que vai ser um disco bem pesado, vai soar bem Foo Fighters.
Lucas – O bumbo vai ficar parecido com um morteiro.

Hígor – E você Lucas, como é essa história de ser seu próprio luthier? Fez sua própria guitarra, pedais...
Lucas –
Pois é, eu não tenho dinheiro pra comprar uma Mustang, daí tive que fazer uma! Sempre quis ter, gostei dela desde o início, aí vi uma reportagem na tevê de um cara fazendo guitarras. Aí eu olhei para a cara do cara e pensei, se esse idiota consegue, eu não posso não conseguir! Aí comprei a madeira, o Coró me ajudou com umas ferramentas, com uma furadeira de bancada... eu não sei como eu vivia antes sem uma furadeira de bancada. Aí fiquei dois meses fazendo, entre aula, trabalho e fins de semana, até conseguir, aliás eu faço engenharia elétrica pra quê né? E ficou bacana, ficou como eu queria mais ou menos. Diversão total!

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* Substituição de última hora no Goiânia Noise Festival: sai Mundo Livre S/A, entra Bnegão.

* Muito material pra desovar aqui, nessa semana pré Noise: Novidades da Allegro Discos, trechos saborosos do entrevistão com o Violins, e mais umas coisas do Demo (Sul). Vai prestando atenção aí que a coisa vai ser cheia nos próximos dias.

* Agradecimentos mil ao Bruno, pelas fotos. Valeu!

Témais.

sábado, novembro 18, 2006

A avalanche instrumental mato-grossense!!



* De Londrina

# Começou ontem o Demo-Sul, auto-proclamado o maior festival de música independente do interior do Brasil. O blogueiro chegou em Londrina pela manhã, trocou impressões com o pessoal das bandas e jornalistas no hotel e no restaurante durante o almoço, e no começo da noite fomos todos levados para a chácara Lima, onde se realizaria a festa.

# # A cobertura completa e detalhada do festival poderá ser conferida na primeira edição de 2007 da revista Decibélica. Por enquanto adianto que o trio cuiabano Macaco Bong fez, de longe, a melhor apresentação da noite de abertura. Transitando com desembaraço por vias próximas do post rock europeu, mas fazendo curvas arriscadas – porém perfeitas – e se embrenhando firme nos ângulos finos do jazz rock de um Jeff Beck da vida, a avalanche instrumental mato-grossense roubou a cena.

# # # Ocupando um honroso segundo lugar, a gaúcha Superguidis também foi aplaudida com empolgação por algumas centenas de humanos. Com um improvável e bem humorado lirismo urbano, muito bem acomodado entre guitarras ardidas e cozinha dançante, a banda – que lança seu segundo disco em 2007 pelo Senhor F Discos, de Brasília - segue como destaque festivais Brasil afora.


* O Blog deve estar de volta à Goiânia na terça feira, e então dá maiores detalhes do Demo Sul 2006. Se tudo der certo, posto algo aqui antes da volta.

* * Prometo ainda pra essa semana um trecho do entrevistão com o Violins, falando sobre o disco novo, que será integralmente publicado também na primeira edição de 2007 da Decibélica.


Então até mais pra você.
Vou ali no hotel ver se ainda tem alguém zoando o Finatti. Deve ter.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Caipira Way Of Life


Foto por Marisol

# Na quinta feira passada (como indica o post anterior), a Olhodepeixe prestou homenagem ao Faith No More, banda amada por oito, entre cada dez roqueiros de respeito. O Bolshoi Pub, clube que abrigava a festa, ficou completamente lotado de pares de ouvidos curiosos.

Com uma discotecagem ‘esquenta turbinas’ pra lá de bizarra (onde canções, no mínimo, improváveis para uma pista de dança, como Speak To Me do Floyd, e Child In Time do Purple, se encontraram), a turma queria mesmo era ver a banda em cima do palco.

# # Por volta de meia-noite, o quarteto – mais a convidada especial Vivis, da Cine Capri, nos teclados – ocupa o tablado, pluga seus instrumentos e sem muito alarde Evidence escapa elegante das caixas de som. A essa altura a pista já se encontrava intransitável, tamanha a quantidade de seres humanos amontoados.

Numa espécie de delírio rocker coletivo, a Olhodepeixe comandou um pesado transe dançarino, com clássicos de Patton e cia: Get Out, Edge of the World e Diggin’ the Grave eram comemoradas pela pequena multidão, que não economizava gritos empolgados e satisfeitos nos intervalos das músicas.

# # # Já perto do fim, sob pedidos desesperados e em côro de Falling To Pieces, Ricochet e Epic, a Olhodepeixe ainda emocionou com Gentle Art of Making Enemies, Colision e Midlife Crisis.

Em meio às pérolas do Faith No More, como não poderia deixar de ser, o grupo encaixou algumas de suas ótimas composições, presentes em seu álbum de estréia, como Hoje Meu Mundo é Bom, e músicas novas como Cheese 41, Plasmando, Sabe e Ponto de Cruz.

# # # # O sucesso da empreitada foi tamanho que em a banda promete repeteco para breve, no início de dezembro, no mesmo bat local, o Bolshoi Pub. E dessa vez, provavelmente, atenderão os pedidos desesperados por Epic e Falling To Pieces!

Se você não foi, é sua última chance! Se estava presente, você vai voltar. Ah vai!



# No sábado, o blog foi recebido por Beto Cupertino em sua aprazível residência, no Parque das Laranjeiras, para um bate papo com sua banda, o Violins, que tem um novo álbum, intitulado Tribunal Surdo, quase pronto. Em uma tarde pra lá de agradável, o grupo falou sobre tudo: disco novo, discos antigos, literatura, Britney Spears, Caipira Way Of Life, coisas de ‘velho’ e muito mais. Mais pra frente você confere a íntegra desse papo, na revista Decibélica, e uns aperitivos saborosos aqui no blog.

## Já ouviu as músicas desse Tribunal Surdo, que estão disponíveis no site do Violins? Não?!
Então corre lá, escute e se assuste!



# Começa na próxima sexta-feira o maior festival de rock independente do interior do País, o Demo-Sul, lá em Londrina, no Paraná. São três dias de muita farra, em alto e bom som. Dá uma conferida na programação supimpa da festança:

Bidê ou Balde)
The Brown Vampire Cats
VI Geração da Família Palim do Norte da Turquia
Forgotten Boys
Superguidis
BúfalosD’Água
Hocus Pocus
Grenade
José Prazeres
Stoned Sensation
Lamborguines,
Jhonny Suxxx’n The Fucking Boys,
La Pupuña,
Trilobita
Junkie Bozo
Matanza
Ouvidos Calados
Trissônicos
Silêncio
Macaco
Bong Vudu
Ambervisions
Mudcracks
Rogério Skylab
Porcas Borboletas

# # Depois o blogueiro manda mais notícias sobre o festival paranaense.



# E o Goiânia Noise Festival tá chegando. Eu tô ansioso, e você?


*


Então, até mais procê, a gente tromba por aí.

quinta-feira, novembro 09, 2006

"Sangrar é próprio de quem adivinha lâminas"

.
.



As Virtudes do Vício

(...)

III

O vício em mim
se fez no cansaço
quando no fígado
o fogo já era fátuo.

As virtudes do vício
no vinho que sangro
pelo cálice de Alice
desfigurada.

A nódoa do vício
na uva passa:
veneno que se alastra
na decomposição da boca
para a virtude do pecado
presa na língua do lasso.


IV

Sangrar é próprio
de quem adivinha lâminas.
Sangrar no próximo
é acender amoras
em lantejoulas e jogá-las
nos olhos de quem chora.

Migrar em sangue
a mortalha da penhora.


V

Pecar, pecar,
pecar até arder em chamas.

Pecar pelo que chamas
e nunca chega.

Pecar ao ponto
do carbono original
que a carne nutre
no paraíso das delícias.

A ser vício da serpente
desfruto da árvore da volúpia
cabelos, cabides, perfume e ócio.

Pecar é meu divórcio.



Gilson Cavalcanti

quarta-feira, novembro 08, 2006

Novo do Violins quase pronto!

# Amanhã, (quinta feira) a Olhodepeixe, banda das melhores do rock goiano, vai prestar tributo ao grande Faith No More, lá no Bolshoi Pub, ali na T-2, setor Bueno.

# # É o seguinte: o grupo, formado por amigos do blog, sempre gastou muita onda escutando a banda mais famosa do Mike Patton, daí resolveram produzir um show onde se divertiriam desfilando grandes clássicos dela.

# # # Até às onze da noite humanos só pagam 10 legais para entrar, depois o preço sobe pra inatingíveis 15 legais por cabeça pensante. Uma vez lá dentro, garanto emoções fortes, com versões para ternas canções como ‘Get Out’, ‘Midlife Crisis’, ‘Gentle Art of Making Enemies’, ‘Edge of The World’ e uma pá de outras. Bora?

* Te espero lá então, vai ser PHoda!

# E não é que o From Under the Cork Tree, do Fall Out Boy é bom mesmo? Gostei do clipe de ‘Dance, Dance’ (aquele do bailinho de formatura), fui atrás do disco e me surpreendi. Os caras são rock! Não é atôa que o Gustavo Drummond, dono do Udora, tem recomendado esse álbum aos amigos.

# # Ah, e antes que eu me esqueça da azia: EMO: Som de Fruta!

# E o Violins está prestes a terminar o processo de gravação e pós produção do novo disco, Tribunal Surdo, mas como lançamento só mesmo ano que vem, preparam um aperitivo para os fãs. Quem conta a novidade é o próprio Beto Cupertino, num comunicado postado na comunidade da banda no Orkut. Acompanha aí:

“Estamos chegando à parte final da mixagem do "Tribunal Surdo", e nós definimos então 4 músicas para colocar pra vocês no site, assim que chegarmos ao fim do processo.

Serão elas:

Anti-herói (parte 1)
Grupo de Extermínio de Aberrações
Campeão Mundial de Bater Carteira
Piloto Russo na Aldeia Suskir”

# # O blog adianta que a ótima, violenta e dançante ‘Grupo de Extermínio de Aberrações’ pode gerar polêmica, por causa de sua ironia fina; a bela e fleumática ‘Piloto Russo na Aldeia Suskir’ tem algo do antigo Violins, da época do Aurora Prisma, mas sem a mesma inocência; ‘Campeão Mundial de Bater Carteira’ aposta em guitarras azedas, pianos grandiosos e letra reveladora: “A vida é uma ‘disgrama’ quando nela falta grana!/ Cada um convive com o peso da sua fama”; e ‘Anti-herói (parte 1)’ é uma ode cínica ao macho dominante.

# # # É bem possível que o Violins lance seu melhor disco em 2007.

# A poesia do Gilson Cavalcante, ‘As Virtudes do Vício’, prometida no post anterior, sai assim que o próprio me mandar o mail com a própria. Espera aí que compensa.

*

Então tchau, até amanhã lá no Bolshoi.

domingo, novembro 05, 2006

"(...) Cabelos, cabides, perfume e ócio: pecar é meu divórcio!"

.

# É, esse Goiânia Noise vai entrar pra História, pode anotar aí.


# # Na sexta, estou curioso pra ver o Montage. Já ouvi comentários bem positivos sobre os shows dos cearenses. Mas também já ouvi uns bem depreciativos, daí a curiosidade. Será que eles bombam o Noise com seu electro-funk macumbeiro? Quero ver também o Cascadura, que tem pelo menos um discão, o Vivendo em Grande Estilo. Além do Tom Bloch e da Karine Alexandrino.


# # # Já no sábado, não perco por nada a Patrulha do Espaço, banda clássica dos nossos seventies, e que foi fundada por ninguém menos que nosso guru psicodélico nacional, o Arnaldo Baptista. Na verdade não sei o que esperar. Gosto da fase inicial com o Arnaldo, dos discos ‘Elo Perdido’ e ‘Faremos Uma Noitada Excelente’ – esse gravado ao vivo –, mas a etapa seguinte do grupo, anos oitenta adentro, não me agrada tanto. Só vendo pra saber! E, ainda no sábado, a Pata de Elefante deve mais uma vez roubar a cena (como sempre acontece) com suas, sempre impressionantes, costuras lisérgicas instrumentais.


# # # # Domingão. A curiosidade do blog se volta para o post rock instrumental e noturno do Fossil, para os topetes brilhantes – e contra-baixo acústico – do Crazy Legs, e para a ‘vanguarda’ pop-poética da Maldita.

# # # # # Tudo isso sem contar, é claro, os santos de casa (que no nosso caso, fazem sim os milagres), as surpresas e as atrações principais. Aliás, e a ‘prometida’ dobradinha de Mundo Livre S/A e Ratos de Porão no mesmo palco? Essa eu quero ver!


# Estou nas primeiras audições do Transfiguração, disco novo do Cordel do Fogo Encantado. Gosto muito dos primeiros discos, e já vi ótimos shows deles. Esse agora parece mais voltado para as canções, relegando a poderosa percussão – outrora protagonista – à condição de coadjuvante. O Conjunto soa mais polifônico e menos experimental (ainda que alguns poucos momentos de esporro percussivo estejam lá), e não abandonou sua fortíssima veia poético-teatral.


# # Outro que comecei a ouvir por esses dias é o Saturday Night Wrist, do Deftones. Já, já posto uma nota sobre ele aqui.


# O amigo do blogueiro e poeta incorrigível, Gilson Cavalcante, comemorou seu aniversário no sábado, e para animar a festa uma imensa jam com o pessoal de bandas legais como Cine Capri, NEM, Olhodepeixe e Triêro (lançando disco), além de uma porção de músicos e amigos. O Gilson é um poeta orgânico, daqueles que respiram e vivem como poetas (lembra como são?). Boêmio, sensível e atento, apreende a poesia até onde menos se espera. Parabéns Gilsin! A festa foi das melhores!


# # Próximo post, entra no blog um texto inspiradíssimo do Gilson, intitulado ‘As Virtudes do Vício’ (do qual saíram os versos do título deste post), presente verbo-hepático para os distintos leitores disso aqui.

* Show do ótimo Pedra 70 em Brasília, nesta segunda-feira (06/11), no Bar do Calaf, dentro do projeto Criolina, com produção do bróder Diogo Barros, que transferiu sua base de atuação para a capital federal recentemente.

* * Na quinta feira, show da também ótima Olhodepeixe no Bolshoi Pub. Nessa apresentação em especial, a banda vai homenagear o grande Faith No More, baseando o set list em clássicos do grupo mais famoso de Mike Patton. Claro que também tocarão músicas de seu primeiro disco, Combustível, além de novas composições. Vai lá? Eu vou!


Até a volta então.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Goiânia Noise Party

#Sexta feira de inauguração rocker do Palácio da Música, no complexo cultural Oscar Niemeyer, aquele “pedacinho de Brasília” encravado numa das entradas de Goiânia.

# # O espaço gigantesco ao ar livre deu pistas fortes de que o público – esse ano ampliado consideravelmente por causa da promoção da rádio 97 FM – vai ter mais conforto do que no clássico e charmoso, porém miúdo, Martim Cererê (a chuva, muito provavelmente, foi considerada pela produção).

# # # Pensei num tapete vermelho – já que o lugar é um palácio -, mas depois de entrar na cúpula de concreto, dei de cara com ar condicionado e carpete. Logo pensei em cigarros. Calculei por cima: perto de mil humanos. Pelo menos a metade fumante (sendo otimista), e disposta a se embriagar.

# # # # # A Casa Bizantina distribuía seus versos romanescos e melodias bonitas, enquanto o bar borbulhava quente, de tanta gente nas filas. Não esperavam um sucesso de público tão retumbante. O Rollin’ Chamas já havia feito sua esquete e a Casa não conseguia empolgar a massa, que aplaudia e assobiava, mas não parecia disposta a suar a camisa. Ainda.

# # # # # # Logo depois, o nobre anfitrião fez os agradecimentos de praxe e solicitou aos presentes, entre sorrisos de incredulidade, que cuidassem do lugar com carinho e não jogassem bitucas de cigarro no ‘tapetche’. Então tá.

# # # # # # # O Móveis Coloniais de Acajú logo ocupou o espaçoso ‘picadeiro’, sob os olhares atentos e gritos histéricos da massa, agora compactada em frente ao tablado. Os vizinhos candangos colocaram a molecada pra rodopiar, com seu mix de rock, emepebê, ska, folclore europeu e latinidades, mas não impressionou o blogueiro, que já assistiu apresentações do grupo beeem melhores do que esta. Quase decepcionante, apesar de uns poucos bons momentos instrumentais.

# # # # # # # # Quando a Cachorro Grande tomou conta do palco, a pequena multidão entoou um ensurdecedor e caótico boas vindas. Estava curioso pra ver os gaúchos depois da consagração nacional via emitiví. Deu pra constatar o esperado: eles perderam – ou deixaram de lado – um tanto daquele vigor esporrento e alcoólico, tão característicos de outros tempos. Mas se perderam aí, ganharam em profissionalismo e concordância com sua crescente audiência. Não que uma coisa exclua, necessariamente, a outra, mas com eles a coisa parece ter acontecido assim.

O show tem um roteiro bem definido, mescla novos hits com os do passado recente, e está mais polido e menos espontâneo. Inspirados climas instrumentais, psicodélicos e longuíssimos, levantaram dúvidas sobre o quê o vocalista Beto Bruno estaria fazendo no backstage.

# # # # # # # # # Os bares – sim os bares, no plural, porquê no meio da imensa confusão das filas, sabiamente abriram um novo ponto de vendas – já estavam mais acessíveis, porém a cerveja continuava quente.

O Cachorro Grande ainda não abandonara o palco, mas o blog já assistia tudo de longe, conversando com os amigos e amigas e administrando um leve e doce pileque.

Temporada de caça ao ‘noise perfeito’ aberta. Afine seus ouvidos.

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# Lembra da maravilha mineira Udora? Pois é a banda voltou para o Brasil (com o rabinho entre as pernas, será?), se desmantelou e agora quem responde por ela, é somente o vocalista e guitarrista Gustavo Drummond. Drummond vai reformular o grupo, que se prepara para gravar ‘A Volta dos Que Não Foram’ (sugestivo o título), álbum totalmente articulado em português e que segue a mesma linha musical adotada até então. Gustavo disponibilizou a gravação da pré-produção de todas as músicas dessa nova fase na sua página na Trama Virtual. Nas primeiras audições, é de se confessar que a língua pátria causa uma certa estranheza inicial. Automaticamente você vai ter a impressão de que as sílabas em inglês, dançam melhor as melodias do conjunto mineiro. Eu meio que ainda estou nessa. Vou escutando aqui pra ver no que dá.
Escute você também: www.tramavirtual.com.br/udora

# # O motivo da insistência é o ‘Liberty Square’, disco que a banda lançou nos EUA e que, na opinião do blog, está entre os cinco melhores discos de rock lançados em 2005, ao lado de gente como Mars Volta e Franz Ferdinand.

# # # Falando nisso, o fim do ano se aproxima e com ele as famosas listinhas dos melhores. Numa prévia, assim de supetão e sem pensar muito, eu colocaria – no quesito melhor disco de rock internacional -, o ‘Black Holes and Revelations’ do Muse, o ‘Revelations’ do Audioslave, o ‘Enemies Like This’ do Radio 4, o ‘Stadium Arcadium’ dos Chili Peppers, o ‘First Impressions of Earth’ dos Strokes, o ‘Plans’ do Death Cab for Cutie (que foi lançado no fim de 2005), o ‘Road to Rouen’ do Supergrass (também do fim de 2005), o ‘Amputechture’ do Mars Volta, o... o... o... tem uma pá de disquinhos para colocar aí ainda, mas a peneira vai afinando...

*

Então fica assim: nem eu te ligo, nem você me telefona.
Falô procê!