Depois de passar o sábado perambulando pelo Conic, onde gastei um bom tempo jogando conversa fora na Kingdom Comics - espécie de Champyoship Vinyl dos quadrinhos, passei na arena do Porão do Rock, montada ali perto, na Esplanada dos Ministérios, pra acertar meu credenciamento antes do almoço. O sol que assava a capital federal já descia a ladeira.
Mais tarde, no começo da noite , quando cheguei à arena pronto para a festa e descobri que a El Mato A Un Policia Motorizado já tinha feito seu set, me culpei gravemente pelo rodízio de galetos que encarei no almoço, pouco antes do horário marcado para a banda argentina subir ao palco. Depois de uma ceia farta regada a vários chopps, eu e a minha turma fomos obrigados à horizontalidade, e o show do El Mato eu devo ter gasto encostado num travesseiro, tentando digerir uns duzentos galetinhos fermentados na cerveja.
Mas se eu havia perdido a atração que, para mim, era a principal da noite, me senti livre do line-up e fui especular, pela primeira e única vez, o palco Pílulas, que incrivelmente era localizado ATRÁS do palco principal.
Voltei a tempo para ver o Ludov, mas como o show da banda paulista não empolga ninguém, comigo não seria diferente. Enquanto descobria que durante sua apresentação o Cachorro Grande, que tinha tocado imediatamente antes, havia reclamado insistentemente do volume dos monitores, se desentendido com o pessoal da técnica e abandonado o tablado no meio do show (depois eles voltaram), tentava me afastar ao máximo do palco principal, que agora era dominado pela banda local Elffus, espécie de arremedo terceiro-mundista de um AC/DC sem inspiração.
O Black Drawing Chalks subiu em sequência, e a despeito da atual supervalorização que dá uma medida falsa de seu poder de fogo em cima do palco, meia-hora de posse das atenções de milhares de pessoas provou que a banda pode não ser tudo o que andam dizendo por aí, mas já tem algumas balas na agulha.
Depois do Black Drawing Chalks descer do palco, havia chegado a hora de separar os homens dos meninos. Josh Homme, baterista original do Eagles of Death Metal (e líder do Queens of the Stone Age) não veio, ocupado que deve estar com o Them Crooked Vultures, mas em seu lugar mandou Joey Castillo, baterista do próprio Queens Of Stone Age.
Exageros nos clichês da diplomacia pop à parte (“Amamos o seu país”, “Vocês são ótimos”), o set foi preenchido com guitarras de puro apelo rock, dançante, e sexualmente provocante, apimentadas pelo frescor que o talento caricatural do guitarrista/vocalista Jesse Hughes imprime ao espetáculo, e pela exatidão explosiva e caótica que escapa da bateria de Joey Castillo.
Na sequência, o Sepultura deu pança no Mugo e subiu ainda mais o volume do palco principal. Enquanto a banda entrava em cena e cada um ia tomando seu lugar, me veio à cabeça um velho hino-de-guerra da torcida de um Corínthians perdido no tempo, que desdenhava do astro do Palmeiras em detrimento de seu próprio.
“Chora Porco Imundo/ Quem tem Viola Não Precisa de Edmundo”.
No primeiro estrondo do show, a constatação brilhante: quem tem Jean Dollabella não precisa de Joey Castillo! Mais à vontade no posto, Jean já não reproduz os clássicos do Sepultura com aquela fidelidade reverente, e se arrisca com uma segurança empolgante ao imprimir sua marca pessoal a hinos do metal consagrados nas baquetas de outro. Enquanto isso Andreas Kisser aparentava um entusiasmo de iniciante, ainda que sua guitarra soasse como a de um profissional.
O Sepultura pós- Max Cavalera ainda não produziu nenhum clássico do calibre dos violentos hits de sua era dourada, e o mais provável é que não produza nada equiparável. Mas o que a sintonia alcançada por essa formação apresenta no palco, é algo próximo do genial.
Prejudicado pela reconfiguração de última hora do line-up, o Mugo pegou uma platéia exausta, que já havia gasto litros de suor durante o show do Sepultura e tentava se recuperar para o show do Angra, que felizmente fora empurrado para o final. Fora isso, o som, em volume bem mais baixo e aparentemente sem a devida atenção dos técnicos, embaralhava os riffs em agudos irritantes. Mesmo assim a banda goiana ainda conseguiu arrancar alguma reação da multidão.
No domingo fui de salada no almoço, mas mesmo assim cheguei à arena já com a noite ocupando o horizonte. Esbarrei com o Paralamas do Sucesso no palco principal, e se meu humor já não estivesse abalado pelo bafo quente vindo da segunda feira, teria sido mais paciente: Paralamas é bom de palco, mas na ocasião eu não era uma boa platéia.
Depois do Paralamas, a necrofilia da arte se espalhou pela Esplanada dos Ministérios e a imagem anacrônica, fixa nos telões, do choro histérico de uma garotinha diante de uma Legião Urbana aleijada, foi a cena de despedida de uma noite que só entrou na minha programação por engano.
O que você vai fazer hoje à noite? - Quem manda o convite é a Gabriela Munim, da Tronco Produções:
Hoje tem Black Drawing Chalks no palquinho de veludo vermelho do Bolshoi, às 22 horas. O ingresso custa 15 reais antecipado e 20 dinheiros na portaria do pub. Vai lá?
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quinta-feira, setembro 24, 2009
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Um comentário:
Pior do que algumas bandas do PORÃO é ter que aturar pseudocríticos metendo pau nas bandas brasileiras e puxando saco de porcarias gringas. Tinha que ser goiano mesmo. Vá para casa curtir Zezé di Camargo e luciano e viajar com Xitãozinho e Xororó, comedor de piquí. Antes de criticar 1º monte uma banda melhor do que as que você critica. Ps: me perdoem os goianos que realmente sabem o que é ROCK'N ROLL de verdade.
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