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Siba, que hoje lidera sua Fuloresta do Samba, foi o nome mais evidente do Mestre Ambrósio, a banda mais habilidosa de sua geração na impressão de um sabor pop aos ritmos tradicionais do interior do nordeste. Roberto Corrêa é, simplificando, o erudito que levou a viola caipira (e sua variante regional primitiva, a viola de cocho) para as salas de concerto.
Fãs do trabalho um do outro, os dois transformaram a admiração mútua no disco Violas de Bronze, registro do diálogo entre a viola de Corrêa e a rabeca de Siba, cujo show desembarca no palco do Centro Cultural Goiânia Ouro depois de amanha (26/11), dentro da programação do Goiânia Noise 2009.
Respondendo a um convite aberto no Twitter, o goiânia rock news conversou com a dupla (via Skype) e descobriu, entre outras coisas, uma surpreendente admiração do Siba pela opção analógica e sonoridade retrô do Jack White e seu White Stripes, além de uma confessa paixão por Jimi Hendrix (“É uma influência profunda, conheço toda a obra dele muito bem”) e Motorhead (?!). Além de garantir que a sonoridade primitiva da banda inglesa tem uma relação direta com o maracatu (“Pelo menos no meu gosto pessoal”), Siba ainda enumerou Cidadão Instigado e Nação Zumbi, dentre suas preferências nacionais.
Roberto Corrêa também não é um estranho ao mundo das guitarras, e citou coisas como Creedence Clearwater Revival (“Comprei todos os discos”) e Big Brother and The Holding Company (“Aquele Cheap Thrills tem umas coisas ótimas”), além de garantir que está numa fase de resgate de suas origens roqueiras, e que tem ouvido seus discos do Yes e do Black Sabbath também.
A respeito da parceria no Violas de Bronze, Siba fez questão de enfatizar que é um passo absolutamente natural na trajetória de cada um dos dois, e que sua repercussão só será medida a longo prazo: “O tempo de vida do disco é longo. estamos fazendo pouco a pouco as coisas”. É objetivo ao afirmar que não se trata de um produto de resgate, mas sim de um diálogo livre com a tradição.
Nenhum dos dois parece interessado em fronteiras estéticas engessadas, e dão a entender que seus únicos limites são o talento e a sinceridade artística. Roberto Corrêa foi além e insinuou que, conceitualmente, o Violas de Bronze não pode ser alheio ao mundo do rock, na medida em que “o conceito fundamental do rock é isso de não ter nada definido, ser inovador”.
Autointitulados criadores modernos livres, os dois rechaçam qualquer rótulo limitante, e a despeito da identificação óbvia de Violas de Bronze com a música do interior do Brasil, traços nítidos de urbanidade contemporânea atravessam o disco de cabo a rabo, e conferem uma carga ainda mais genuína ao álbum. Sobre isso, Siba disparou: “Não sinto o peso de ser coerente com nenhum estilo musical”.
Quase no fim do bate-papo, me lembrei de uma entrevista que fiz com o Siba alguns anos atrás no vilarejo de São Jorge, durante o Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, em que ele havia me dito que o Mestre Ambrósio não tinha acabado de fato, estava apenas em suspensão. Inquirido novamente sobre o assunto, a resposta não mudou, ainda que desta vez tenha vindo acrescida de um comentário com ares definitivos:
“Ao contrário do que muita gente pensa, eu fui o único que não saiu do Mestre Ambrósio, mas depois dessa pausa combinada de 6 meses, que virou um ano, e por causa do conflito de interesses, foi saindo um, depois outro... e hoje te digo que acho muito difícil uma reunião da banda.”.
Perguntado sobre o repertório dos 3 discos de sua banda mais famosa, o rabequeiro disse que provavelmente revisitará algumas canções num "power trio, ou power quarteto, não sei ainda”, em parceria com Catatau, do Cidadão Instigado, que deve ganhar corpo em 2010:
“Não me sinto com a obrigação de manter repertório de nenhum trabalho anterior, mas algumas canções do Mestre Ambrósio, como por exemplo “Benjaab”, “Gavião” e “Mestre Guia”, devem estar presentes ao menos nos shows deste novo projeto, ano que vem.”
Antes da despedida, ainda deu tempo de perguntar o que tem girado na vitrola de cada um, em casa. Roberto Corrêa colocou a música barroca e o mestre-organista alemão Dietrich Buxtehude em primeiro lugar, mas não se furtou de falar mais uma vez de seus velhos discos do Sabbath. Siba, além dos já citados Jimi Hendrix, White Stripes (e demais bandas de Jack White) e Motorhead (cujo show no Abril pro Rock ele fez questão de assistir), sublinhou sua paixão pela música africana dos anos 60, principalmente do Congo, Mali e Guiné.
terça-feira, novembro 24, 2009
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Um comentário:
Cara, siba é um dos caras mais repeitados da musica pernambucana. Por TODOS, nao so alternativos, roqueiros, tradicionais de maracatus e caboclinhos e etc...
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