quarta-feira, maio 16, 2012
Madame Satã - O Importante É Ser Eu e Não o Outro
O único contato que tive com o Madame Satã foi há alguns poucos anos, com o livro Madame Satã - O Templo Underground dos Anos 80.
Mas foi o suficiente pra me deixar entre fascinado e saudoso (mesmo que no meio dos anos oitenta - auge do Satã - minhas maiores preocupações estivessem entre o Castelo de Greyskull e um disco do Balão Mágico). Reaberto em 2012, agora a casa noturna mais importante do pop brasileiro de outros tempos ganha tributo no documentário Madame Satã - O Importante É Ser Eu e Não o Outro:
Em vinte e um de outubro de 1983, na Rua Conselheiro Ramalho, 873, nasceu o Restaurante Cultural Madame Satã. Uma revolução na noite paulistana. A partir do sonho de dois irmãos – um deles ex-seminarista – e de duas irmãs, que participavam de teatro mambembe nas periferias da cidade, a casa começou a surgir.
Engajados no teatro, os quatro reuniram-se e decidiram criar um espaço que, mais tarde, culminou em uma inestimável contribuição para a disseminação de todo o tipo de arte. Márcia e Miriam Dutra, Wilson José e Williams Silva, sem saber, deram início ao que se tornaria um templo, um mito da noite paulistana. Com a ajuda de José Cláudio Mendes (Zé Cláudio) que, além de ser um engajado no assunto, tinha acabado de retornar de Nova Iorque, trazendo muitas ideias e inovações, o espaço passou de Restaurante Cultural a casa noturna e abrigou desfiles, shows, peças de teatro, performances e muitas histórias.
Desde então, nada continua o mesmo. Suas paredes ainda ecoam as vozes das almas que ali passaram, gritando e exclamando por liberdade, felicidade, socorro, atenção. Um local onde quem o habitasse poderia se sentir inteiro, completo. Experimentar novas sensações, conhecer outras pessoas e alimentar-se de informações.
Em nossas mãos, pudemos lapidar mais do que a história de uma casa noturna. E, pode ser que a princípio se julgue assim, mas um olhar mais crítico e cuidadoso permite perceber uma temática bastante elaborada além da simplicidade inicial.
Na década de 1980, o Brasil sofreu inúmeras transições. No centro das atenções e dos problemas, o Regime Militar instaurado em 1964 paulatinamente esvaía-se, permitindo à população ganhar mais autonomia e poder de decisão em diferentes âmbitos. Historicamente, a cidade de São Paulo tem sua importância que aumentou gradativamente no decorrer do último século. Nos anos 1980, a capital paulista já era uma metrópole com os ares da miscigenação populacional, causada pela migração e imigração.
Economicamente, já era a principal cidade do país e, culturalmente, um polo de informações e ideais. O Madame Satã trouxe para São Paulo o conceito de cultura underground. Neste espaço, a juventude paulistana pôde expressar e experimentar suas faces, mostrar sua irreverência e testar sua ousadia.
Hoje, quase 30 anos depois de seu auge, a casa foi reaberta sob o nome “Madame” e sem vínculos com os antigos donos. Alguns frequentadores continuam nos caminhos de antigamente. Outros pegaram os desvios do destino e seguiram em direções opostas. Família, idade, trabalho, sonhos. Tudo agora é diferente. Entretanto, todos têm dentro de si as lembranças de um tempo que ficou para trás, com experiências que não voltam e com muitas pessoas que já morreram.
O documentário é um quebra-cabeças de lembranças, que tenta levar para dentro do Madame Satã quem nunca esteve entre aquelas paredes, assim como levar de volta ao casarão quem lá viveu estas tantas histórias.
Produzido e editado por: Daniel Mori Gabriela Prosdocimi Nivia de Souza Raphael Calles
Imagens e Edição: Rafael Ribeiro Mori Márcio Komesu
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