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Meus planos para o fim de semana passado eram, num resumo rápido, viajar até Anápolis para assistir aos shows do Porcas Borboletas e do Macaco Bong, na edição local do Grito Rock América do Sul, e me arriscar com os bônus, felizes ou infelizes, que um festival sempre reserva como surpresa.
Porém, como a vida não é justa, só consegui chegar à Praça Dom Emanuel, no centro da cidade mais rica e desenvolvida do interior do centro-oeste brasileiro, às vésperas do fim do show do Macaco Bong, que havia trocado de lugar no lineup com o Porcas Borboletas. Cheguei defronte ao palco poucos minutos antes do trio ceder o lugar aos mineiros, e só tive tempo de ver toda aquela dissonância inventada que sempre anuncia o fim de um show dos Bongs.
Frustrado, fui me esconder da chuva, que recomeçava, debaixo de uma árvore, já que as tendas disponíveis no local incrivelmente priorizavam um viveiro de mudas de plantas e uma meia dúzia de skatistas, deixando o público já diminuído (talvez justamente por causa da falta de abrigo) mais uma vez descoberto e à mercê do tempo, enquanto as plantinhas gozavam de proteção e os skatistas mantinham seus modelitos milimetricamente despojados a salvo da garoa insistente, completamente indiferentes aos shows.
E o pior é que, abrigado da chuva debaixo da árvore, eu não conseguia ver um centímetro do palco, cuja vista era obstruída justamente pela tenda das plantinhas, quase que hermeticamente fechada. Não sei qual o critério seguido pelo pessoal do Coletivo Pequi, produtor do evento, mas o estabelecimento de prioridades e a disposição das coisas na geografia da Praça foram, no mínimo, equivocados.
Mas depois de ameaçar desabar com força, a chuva parou a tempo para a apresentação do Porcas Borboletas, que conseguiu reunir em frente ao palco a fauna adolescente até então esparramada pelo lugar. Mas a música do Porcas Borboletas não é fácil, e o público precisou de um curto período de acomodação, carregado de uma curiosidade tensa, para finalmente sintonizar a estação.
Apesar dos óbvios elementos do rock, o septeto reprocessa uma das encostas mais íngremes da MPB, onde a estranheza, a teatralidade e a afronta são os elementos que dão a tônica da música propriamente dita. Nem sei se todo mundo que acompanhava as piruetas suarentas do vocalista Danislau Também, a coreografia frenética do Jack, o percussionista, e toda aquela insolência instrumental repartida e suturada, conseguia conectá-las à provocação literária das letras.
Mas quem não entendeu fez questão de tratar a ocasião como qualquer outro “showzinho da bandinha”, e usar a trilha sonora para acentuar sua própria embriaguez; ou, no caso de um segundo grupo deslumbrado, entranhar um sorriso “discreto” no canto da boca e simular uma cara de séria compenetração intelectual, esquecendo-se de que música é, antes de tudo, diversão. Dos dois tipos eu fico com o primeiro, que pelo menos deu uma destinação mais digna à música “cabeça” do grupo de Uberlândia.
Um terceiro time soube se divertir como os bêbados, sem despedir o barato cerebral inseparável da música do Porcas, e foi esse quem mais se divertiu quando, no fim do show, Danislau Também desceu do palco, atravessou o público já rarefeito e foi interagir com o trânsito anapolino, cantando enquanto costurava, a pé, os carros em movimento, até que, depois de terminada a última música, desligou seu microfone sem fio e embarcou num ônibus coletivo que, alheio a tudo aquilo, percorria inocentemente seu trajeto.
Quando deixei a Praça Dom Emanuel para trás (depois bater um breve papo com o Ney e o Ynaiã, respectivamente baixista e baterista do Macaco Bong, sobre o incrível show que, ao lado do guitarrista Kayapy e de vários convidados, o MB fez no auditório do Ibirapuera, em São Paulo, mês passado), ainda não se tinha notícia do paradeiro da Danislau, mas seu feito era repetidamente narrado, diante de certa incredulidade, a quem não havia acompanhado o show de perto.
terça-feira, fevereiro 09, 2010
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Um comentário:
Antes de ter feito qualquer comentario preconceituoso e desinformado a respeito de parte do Grito Rock "interiorano" onde era convidado e dispunha de credenciamento para a cobertura do mesmo, o senhor deveria ao menos ter usado do bom senso e se apresentado aO Coletivo Pequi e assim ficar sabendo da problematica daquela exposição e o que representava estar com um palco daquelas proporções e um evento de Rock n Roll naquele lugar nobre e central da cidade! Ter buscado entender o que acontecera para termos uma exposição de Holambra no meio da praça onde acontecia o evento comprometendo metade do nosso espaço físico(nos auto sabotando) e separando o palco da pista de Skate. ou acreditou voce que o coletivo era responsavel por tal burrice e meiguice de abrilhantar o GR com uma exposição de flores e plantas ornamentais? e tambem pelo gerenciamento da utilização dos espaçso fisicos publicos da cidade? Mesmo com parte da admi. publica da cidade nos boicotando conseguimos fazer o evento ser um sucesso, de publico e objetivos alcançados, primeiro em relaçao as reaçoes às performances executadas pelas principais atraçoes do GR! e segundo pelo impacto que fica na cidade acostumada com "qualquer outro showzinho de bandinha”!
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