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O debate que vem fermentando uma animada polêmica nos bastidores da nova música independente brasileira (disputa que, não raro, descamba pra hostilidade retórica) ganhou mais um fórum. A ágora virtual itinerante dos independentes, desta vez migrou para a caixa de comentários do Scream & Yell, que recentemente publicou a controversa carta-aberta assinada e divulgada pelo João Parayba, o célebre percussionista do Trio Mocotó.
Para ler a íntegra da carta aberta
de João Parahyba no Scream & Yell,
clique aqui.
de João Parahyba no Scream & Yell,
clique aqui.
A parcela dos leitores que não é de artistas e/ou produtores envolvidos com o meio pouco participa, mas o engajamento dos integrados é ferrenho e apaixonado. Redargüindo à acidez da carta, que quer revelar uma suposta desvalorização do papel do artista na nova lógica apregoada pela integração dos festivais, uma enxurrada de anotações cheias-de-razão ferveu a audiência da questão (e do Scream & Yell), de modo parecido com a ebulição de adjetivos chulos X elogios ensaiados ocorrida na repercussão da entrevista concedida pelo Pablo Capilé, membro de primeira hora da ABRAFIN (Associação Brasileira dos Festivais Independentes) e líder natural dos Fora do Eixo, ao site O Inimigo, onde, em dado momento se disse, dentro da ABRAFIN, “um defensor de que não se deveria pagar cachê às bandas. Festival é uma mostra.”.
Na época, rabisquei uma lauda com o que penso sobre o assunto, que pra mim não é motivo pra tanta altercação, e publiquei aqui. Num resumo rápido:
Não consigo enxergar muita polêmica no tema. Juro.
Pra mim as coisas são tão simples quanto poderiam ser.
Música é, essencialmente, prazer estético, comunicação.
Cada banda vale quanto pesa, e se a sua ainda não se
comunica como você gostaria, e não garante um público
que valha o investimento, festival nenhum no mundo
vai gastar sua verba com você.
Obviamente ainda assino embaixo do que escrevi há alguns meses, e desconfio que a reclamação do Parahyba tenha tantos contornos ideológicos, ainda que opostos, quanto o chavão “Artista Igual Pedreiro”, que antes de batizar a estreia em disco do Macaco Bong já era axioma dos cubistas e propunha a desglamourização da figura do artista, e o nivelamento da criação com qualquer outra atividade da, para usar o vocabulário dos convertidos, cadeia produtiva.
Segue trecho da carta, em que sem digitar nome aos bois, Parahyba responde à declaração de Capilé, aparentemente sem considerar que o recado do produtor cuiabano foi endereçado principalmente aos artistas novatos e/ou iniciantes, cuja não-popularidade eliminaria a legitimidade da cobrança de cachê, num festival cuja visibilidade poderia detonar a criação desse público até então inexistente:
Vejam: quase todos os festivais e shows já têm apoio
do seu município, do seu estado, (conquista deles é verdade)
e muitos da grande iniciativa privada, e quase todos, com a
desculpa da promoção e da formação de público não pagam
cachê aos artistas e músicos convidados “é divulgação etc. e
tal”, mas não justifica, pois ganha pão, é ganha pão. “Não peçam
para eu dar de raça a única coisa que tenho para vender, minha
música, minha arte”. (Cacilda Becker)
Depois de render mais de cem comentários, contra e a favor, onde anônimos, músicos, produtores e jornalistas lançaram mão de seus recursos linguísticos para defender seus pontos de vista (inclusive a ofensa pessoal) , a polêmica transbordou o Scream & Yell e se desdobrou, primeiro no que seu autor, Anderson Foca, membro da ABRAFIN e produtor do festival potiguar DOSOL, chamou de Editorial DOSOL, publicado no blog do festival; e depois, numa espécie de resposta aos detratores da ABRAFIN, assinada pelo seu presidente, Fabrício Nobre, e publicada no Nagulha.
Continuo sem enxergar tanta controvérsia, mas acho que apesar do bate-boca magoado que sempre contamina discussões assim, o assunto está evoluindo, ao mesmo tempo esvaziando lentamente a soberba dos “gênios incompreendidos” que se recusam a enxergar (e, por conseqüência, a aproveitar) essa nova realidade como infinitamente mais favorável que o modelo anterior, e desbaratando o panfletarismo rançoso dos coletivos-papagaio, que ao pasteurizar o discurso, empobrecem o debate e tentam circunscrever a questão a esquemas de pensamento pré-estabelecidos, nublando o principal, o cerne do litígio: a Música.
Na época, rabisquei uma lauda com o que penso sobre o assunto, que pra mim não é motivo pra tanta altercação, e publiquei aqui. Num resumo rápido:
Não consigo enxergar muita polêmica no tema. Juro.
Pra mim as coisas são tão simples quanto poderiam ser.
Música é, essencialmente, prazer estético, comunicação.
Cada banda vale quanto pesa, e se a sua ainda não se
comunica como você gostaria, e não garante um público
que valha o investimento, festival nenhum no mundo
vai gastar sua verba com você.
Obviamente ainda assino embaixo do que escrevi há alguns meses, e desconfio que a reclamação do Parahyba tenha tantos contornos ideológicos, ainda que opostos, quanto o chavão “Artista Igual Pedreiro”, que antes de batizar a estreia em disco do Macaco Bong já era axioma dos cubistas e propunha a desglamourização da figura do artista, e o nivelamento da criação com qualquer outra atividade da, para usar o vocabulário dos convertidos, cadeia produtiva.
Segue trecho da carta, em que sem digitar nome aos bois, Parahyba responde à declaração de Capilé, aparentemente sem considerar que o recado do produtor cuiabano foi endereçado principalmente aos artistas novatos e/ou iniciantes, cuja não-popularidade eliminaria a legitimidade da cobrança de cachê, num festival cuja visibilidade poderia detonar a criação desse público até então inexistente:
Vejam: quase todos os festivais e shows já têm apoio
do seu município, do seu estado, (conquista deles é verdade)
e muitos da grande iniciativa privada, e quase todos, com a
desculpa da promoção e da formação de público não pagam
cachê aos artistas e músicos convidados “é divulgação etc. e
tal”, mas não justifica, pois ganha pão, é ganha pão. “Não peçam
para eu dar de raça a única coisa que tenho para vender, minha
música, minha arte”. (Cacilda Becker)
Depois de render mais de cem comentários, contra e a favor, onde anônimos, músicos, produtores e jornalistas lançaram mão de seus recursos linguísticos para defender seus pontos de vista (inclusive a ofensa pessoal) , a polêmica transbordou o Scream & Yell e se desdobrou, primeiro no que seu autor, Anderson Foca, membro da ABRAFIN e produtor do festival potiguar DOSOL, chamou de Editorial DOSOL, publicado no blog do festival; e depois, numa espécie de resposta aos detratores da ABRAFIN, assinada pelo seu presidente, Fabrício Nobre, e publicada no Nagulha.
Continuo sem enxergar tanta controvérsia, mas acho que apesar do bate-boca magoado que sempre contamina discussões assim, o assunto está evoluindo, ao mesmo tempo esvaziando lentamente a soberba dos “gênios incompreendidos” que se recusam a enxergar (e, por conseqüência, a aproveitar) essa nova realidade como infinitamente mais favorável que o modelo anterior, e desbaratando o panfletarismo rançoso dos coletivos-papagaio, que ao pasteurizar o discurso, empobrecem o debate e tentam circunscrever a questão a esquemas de pensamento pré-estabelecidos, nublando o principal, o cerne do litígio: a Música.
Mas como parte do coro dos descontentes felizmente não perdeu o bom humor, houve quem transformasse o assunto em “inspiração”. Auto-intitulada RockStar,
A Abrafin Não Liga Pra Mim!
Sou roqueiro de verdade
Montei uma banda legal
Agora eu quero é destaque
No cenário musical
Não sou de fazer amizade
Mas sei que hoje é fundamental
Ter diploma de puxa saco
Pra tocar num festival
Misturei humor com metal
E até que não ficou ruim
Mas eu sei que a Abrafin
Não liga pra mim
Abri mão da minha moral
Pra fazer show num botequim
Porque eu sei que a Abrafin
Não liga pra mim
Se rola palestra no Acre
Ou reunião em Natal
Ninguém me diz nos debates
Onde é que eu arrumo um Real
Pra pagar hotel e passagem
De uma turnê nacional
Vou vender minha virgindade
Na praça de São Nicolau
Misturei humor com metal
E até que não ficou ruim
Mas eu sei que a Abrafin
Não liga pra mim
Abri mão da minha moral
Pra fazer show num botequim
Porque eu sei que a Abrafin
Não liga pra mim
Para ler a íntegra do texto, clique aqui.
E pra terminar, acho que cabe aqui uma fala do Ynayã, baterista do Macaco Bong, que apesar de inteiramente integrado ao esquema Artista Igual Pedreiro, não repete a cartilha como um mantra sagrado, mas enxerga, através dela, a criação de um mercado viável. E como todo mundo sabe, o mercado não perdoa:
(...) E por tudo isso, acho que vale a pena pra caralho.
E quem não acha deveria montar logo a porra da Abramin
[N. do E.: sigla para uma ainda fictícia Associação Brasileira
dos Músicos Independentes], se juntar, negociar, pleitear
melhores condições, ao invés de ficar indo de blog em blog
chorar feito umas madalenas sem futuro.
(...) E por tudo isso, acho que vale a pena pra caralho.
E quem não acha deveria montar logo a porra da Abramin
[N. do E.: sigla para uma ainda fictícia Associação Brasileira
dos Músicos Independentes], se juntar, negociar, pleitear
melhores condições, ao invés de ficar indo de blog em blog
chorar feito umas madalenas sem futuro.
2 comentários:
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Valeu, Goiânia Rock!
Bom saber que ainda tem gente capaz de compreender o caráter bem humorado das nossas críticas, e que não distorce as nossas palavras em benefício próprio.
Só uma pequena correção: A banda é na verdade, pernambucana. Estive mesmo estabelecido durante alguns anos no estado da Paraíba - mas somos todos naturais de Recife/PE.
Parabéns pela matéria, grande abraço!
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