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quinta-feira, novembro 25, 2010

16º Goiânia Noise Festival - Depois do Fim

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Depois de ocupar todas as noites da semana, havia chegado a hora de o Goiânia Noise Festival assumir seu formato clássico (ou quase isso). Dividindo 34 atrações, a sexta, o sábado e o domingo se repartiram entre destaques internacionais vindos da Argentina e dos Estados Unidos, e um nacionalíssimo Gilberto Gil quase atropelado pela ferocidade ondulada do Macaco Bong.


The Mummies
Foto: Goiânia Rock City


Tocando pela sexta vez em palcos brasileiros, é quase inacreditável que o El Mato a Un Policia Motorizado, um dos melhores grupos argentinos da atualidade, não tivesse visitado Goiânia até então. O minimalismo lo-fi carregado de ressonâncias e cantado num castelhano enterrado em microfonias repercute no público como um transe psicotrópico coletivo, que envolveu o teatrinho numa atmosfera de melancolia chapada, compartilhado até por Fabrício Nobre, que arranjou uma janela na correria da produção para subir ao palco e cantar “Amigo Piedra” com os colegas hermanos.




Fazia tempo que eu não via um show do Walverdes, mas apesar do hiato deu pra perceber que o trio gaúcho não retrocedeu um milímetro e continua dono de um dos shows mais intensos e barulhentos do Brasil, que serviu de contraponto violento à delicadeza malemolente da Nina Becker. O Black Drawing Chalks é outro que, apesar da freqüência de oportunidades, eu não via em ação há meses. Continua não sendo tudo o que prometem as hipérboles arrebatadas de parte da imprensa, mas também passa longe de ser uma merda, como ninguém disse que era. Mesmo que suas ambições artísticas aparentemente não ultrapassem a reprodução calculada de clichês do rock, o BDC em cima do palco, hoje em dia, é rápido e certeiro. E a franca evolução de sua performance ao vivo muito provavelmente está associada à condição de hype a que foi alçado, que deu a oportunidade da banda experimentar o gosto (e a responsabilidade) de tocar para grandes públicos, e de degustar o sabor Stillwater de banda quase famosa.


Black Drawing Chalks
Foto: Goiânia Rock City


Numa espécie de deslumbre tardio, a produção do Otto esvaziou o backstage com aquela arrogância oca da classe média emergente pouco antes do cantor subir ao palco para fazer aquele que poderia ter sido o melhor show do festival, não fosse a sua irritante mania de improvisar a melodia dos vocais. Mas nada que se compare à constrangedora participação “especial” da dublê de cantora Rosa Ferraz, que se sujeitou a uma espécie degradante e pública de dança do acasalamento, enquanto balbuciava no microfone (com a voz embargada sabe-se lá se por nervosismo ou vergonha) o que deveriam ser os versos da letra. E não bastasse o embaraço se prolongar por toda uma música, a agonia perpetuou-se ainda por mais um número inteiro, num verdadeiro tributo à forçação de barra e à falta de espontaneidade.




Simultaneamente ao Otto, no teatro ao lado o Krisiun se desculpava em tons guturais: “com todo o respeito às bandas que tocaram aqui hoje, mas agora é a hora do metal e o bicho vai pegar!”. O trio gaúcho já é lenda entre os iniciados, mas sua fama transbordou o gueto e se espalhou até entre os leigos. Não que isso se traduza em público diversificado, já que a curiosidade que a popularidade do Krisiun suscita não sustentou a presença de não-iniciados sequer por 1 minuto todo, tal o grau de radicalismo conceitual e estético de sua música. O bate-estacas levado a extremos, emparedado pelo trovejar de guitarra, baixo e vocal, não pode mesmo fazer sentido para quem não espera da música mais que um consolo em letras tristes e melodias bonitas.

No sábado a festa Discompasso, realizada no El Club, disputou a audiência do público com o Noise, ainda que a intenção da funk party fosse esticar a noite da turma que saísse do festival. Antes de desembarcar no El Club, passei na farra garage-cosplay dos Mummies, e conferi o Márcio Júnior celebrar, aos berros, a longevidade dos Mechanics (“17 anos fazendo tudo errado!”), baseando o set do show no niilismo cego de 12 Arcanos, último disco da banda.


Gilberto Gil+Macaco Bong
Foto: Uliana Duarte


Já no domingo, o esperado encontro entre o ministro tropicalista e um dos principais nomes da nova música brasileira oscilou entre o júbilo e a decepção. Sendo Gilberto Gil uma das vacas sagradas da MPB, a devoção obediente de parte do público era natural e esperada, ainda que parte do fã-clube tenha ficado desconfortável com a desconstrução, pelo Macaco Bong, de clássicos como "Vitrines", "Essa é pra Tocar no Rádio" e "Bat Macumba". O problema é que o aparente desmonte das canções mal escondia a falta de entrosamento entre o baiano e o trio cuiabano, explicada pelo curtíssimo período de ensaios (2 semanas). Na maioria do tempo, entre uma dancinha e outra, Gil recitava as letras das músicas por sobre o voo instrumental da guitarra de Bruno Kayapy, tentando encaixar verso por verso numa métrica enviesada que não disfarçava certo improviso. De modo que, nem quem foi esperando um show tropicalista clássico, nem quem apostava no êxito da combinação Macaco Gil, saiu inteiramente satisfeito.


E independente de o copo estar meio cheio, ou meio vazio, eu arrisco dizer que pra ficar bom de verdade é melhor completar.







GNF 2010 - Sem Comparação





GNF 2010 - Violento e Variado






5 comentários:

Anônimo disse...

Tiro no pé da arte todas as resenhas que saíram até agora sobre o festival.
Todos focados em bandas que já foram citadas nas mídias em algum momento e, o pior, falando mal, geralmente.
Como espectador, pude acompanhar quase todos os shows e digo que boa parte me impressionou.
O show do BDC é extremamente rock'n'roll, cheio de energia e frenesi.
Vespas Mandarinas surpreendeu na última música do set.
Fígado Killer, uma banda de rock desgraça das melhores que já vi.
El Mató Un Polícia Motorizado foi muito mais morno do que qualquer outro show que pude acompanhar.
Bang Bang Babies foi prejudicado pelo som extremamente alto, mas deu pra perceber a ótima presença de palco dos caras.
Hellbenders (GO) e Dizzy Queen (ES), foram pra mim, a maior surpresa do Noise.

Talvez os resenhistas estejam exigindo demais de uma cena com pouco ou nenhum apoio num cenário musical dividido entre sertanejo e pop rock colorido.

Parabéns, Goiania Noise Festival.
Foi duka.

Anônimo disse...

Na história, vê-se que atrás de um grande ser sempre existe um cricrítico. Afinal:
"Os homens podem dividir-se em dois grupos: os que seguem em frente e fazem alguma coisa e os que vão atrás a criticar." (Sêneca)
Para ambas as categorias, saudações.

Anônimo disse...

cricrítico?
então dar uma opinião é ser cricrítico?
tem mta gente engraçada nesse mundo...
quer dizer, a gente deve ler, se não concordar ficar calado.. logo, consentir.

só comédia... :)

já que é pra cair nas citações batidas, pra terceirizar o discurso e dar respaldo a própria opinião:

"Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo" (Voltaire)

Anônimo disse...

Dar uma opinião desconexa com a realidade ou sob uma ótica particular (muito limitada) é pagar de otário, NMO. Uma verborragia non sense que denuncia a mediocridade do crítico.

É o "Amaury Jr." da cena rock goianiense, sem sombra de dúvida...

Ass: Francisco Mendonça

Anônimo disse...

Criticar é da natureza humana.

Adoro ler e fazer críticas. Elas revelam sempre o melhor ou o pior do criticado e do crítico.

Segue uma crítica minha ao crítico do site: ao escrever algo pense em como se sentiria se estivesse ouvindo aquilo de ti. Se não te incomodar, publique.

Existe uma linha tênue entre a sinceridade e a intransigência. Procure-a.

Sucesso.