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Escapando à tradição, Karina Burh inaugura sua carreira-solo longe do regionalismo aberto que orientou sua trajetória à frente do extinto Comadre Fulozinha. Mas, aparentemente, o caso é menos de negação que de libertação estilística, e um breve perfume nordestino ainda se faz presente em alguns dos melhores momentos de Eu Menti Pra Você.
Suavizando o sotaque carregado por entre batidas incomuns, a cantora ladrilha uma via de mão dupla entre intenções vanguardistas e uma arrojada veia pop, ora jogando uma luz feminina e pós-moderna por sobre aquela cadência invertebrada da escola de Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé (“Telephonen” e “Soldat”), ora experimentando o cruzamento de conceitos contemporâneos (“Ciranda do Incentivo” trata a polêmica das leis de incentivo à cultura sob o batidão iconoclasta do funk carioca), ora sinalizando certa inclinação latina (em “Solo de água Fervente”, o embalo sensual da salsa surpreende o tema numa síncope tão inesperada quanto saborosa), e ainda reivindica seu direito ao ócio, no reggae rasteiro “Plástico Bolha”, onde procrastina manhosa: “hoje eu não to a fim de corre-corre e confusão. Eu quero passar a tarde estourando plástico bolha.”
Em sintonia com sua geração, que aprendeu a "desrespeitar" o passado em nome de sua própria personalidade contemporânea e assumiu o pop como uma influência tão (ou mais) importante que o sagrado estábulo da MPB, Karina Burh se equilibra habilmente entre o antes e o depois, reproduzindo em Eu Menti Pra Você a virtude misturada de cada um dos dois.
terça-feira, julho 20, 2010
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