Perto do fim, a pesquisa sobre os melhores do ano passado passa a vez para o Segundo, figura que dispensa apresentações. Siga a letra:
Vamo lá então!
MELHOR ÁLBUM:
Propagandhi - Failed States - Epitaph Records.
Hardcore melódico... com certeza é um estilo que soa datado a segunda metade dos anos 90 e nos remete a porcarias como CPM 22, Gloria, NX Zero e outras aberrações. Velhas fórmulas, guitarras rapidinhas, backing vocals afinadinhos, vocalista com voz de adolescente... a maioria é assim mesmo e a maioria é chatinho depois que você passa dos 22 anos de idade. Porém, apesar de tudo que foi dito ser verdade existem bandas e bandas, existem artistas criativos e copiadores. Separemos o joio do trigo.
O Propagandhi é uma banda proveniente de Winnipeg, Canadá, existe desde 1986 e de lá pra cá lançou apenas seis álbuns. Quantidade não é qualidade! Desde o primeiro disco de 1993 o Propagandhi ganhou notoriedade pelas letras fortes, e foram ficando cada vez mais fortes, mais ácidas e quanto mais discos de ouro o Blink 182 ganhava, mais o Propagandhi promovia o ativismo político: eles estavam em Seattle em 1999, estiveram nos Occupy e montaram um selo chamado G7 welcoming comitte (algo como “o comitê de boas vindas do G7”) .
E quanto mais políticas as letras ficavam, mais o som da banda se aprimorava. E tem sido assim desde o ano 2000, cada álbum mais dava gosto de ouvir, e sem pretensão nenhuma a banda seguiu rumo a uma evolução dentro do hardcore. Failed States é aquele álbum que ao ouvir você fala: caralho e não é que os caras conseguiram de novo! É só ouvir a faixa título, um thrashcore de 1:40 com palhetadas a La DRI e um vocal melódico que não consegue ser chato, ou ainda escute "Note to Self", uma faixa de 6 minutos que começa com um belo dedilhado e vai pesando o instrumental revisitando Fugazi até se aproximar do Heavy Metal com passagens jazzísticas e psicodélicas, é indescritível, tem que ouvir a música pra entender.
E bem numa era cheia de clichês em todos os estilos e subestilos do Rock, uma banda punk/anarquista radical do interior do Canadá consegue mostrar em um disco que ainda existe vida criativa na música, sem precisar de marketing, de videoclipes, de nada além de um disco e uma tour, nada além de ouvir a música e ver o show. Sem querer salvar nada ou ser melhor que ninguém Failed States nos lembra que ainda existe música feita com o coração, com honestidade e criatividade, ainda existem bandas que se fazem ouvir pela música e pelas letras e não por fotos multi produzidas de uma banda cheia de visual e fazendo cara de mau pra vender discos para adolescentes. Exatamente tudo que anda faltando no rock atual!
MELHOR MÚSICA:
"Tropicália Jacta Est" - Tom Zé
Parassá penteu escuta cá
Parassá penteu escuta aqui
Quando Baco bicou no barco
Tinha Pigna, Campos in
Celso Zeopardo
Matinê par’o delfin
Vi, vi, vi
Dois que antes da cela - da ditadura
Deram a vela / da nossa aventura
Barqueiro meu navegador
Pa-ra-rá conjectura logo nosso primeiro
Computador / computador
(No disco do Sinatra, a viagem começa no século VIII, quando o zero invadiu nossos avós.
Mas voltamos aos anos 60.)
Era urgente / sair da tunda
Levar a gente / para a segunda
Revolução Industrial
Pa-ra-rá capacitados
para a nova folia:
Tecnologia
Tecnologia.
Domingo no parque sem documento
Com Juliana-vegando contra o vento
Saímos da nossa Idade Média nessa nau
Diretamente para a era do pré-sal.
Torquato Neto / do Piauí
Pinta no verso / do céu daqui
Aquela manhã que se inicia
Desfolha a bandeira e renuncia
Puta filia
Puta filia.
(No disco do Sinatra antes d’os Novos, chegaram outros baianos)
Bandeiras no mastro / para o repasto
Em cada gentio / trazia no cio
A fome das feras / naquele jejum
Mas havia quimeras / de coca com rum
Pra cada um / pra cada um
Lixo lógico, é preciso um senhor de 76 anos de idade pra mostrar que a música brasileira ainda pode gerar músicas agradáveis e criativas... e pra piorar o cara consegue ter o toque de Midas de fazer Malu Magalhães, Amarante e Emicida cantarem músicas boas! Coisa de gênio....
MELHOR SHOW:
Bob Dylan no Ginásio Nilson Nelson - Brasília, 17 de abril 2012
A vida começa aos 70? Várias pessoas realizaram o sonho de ver o Dylan ao vivo, pela lenda, pelo passado... que pena... quem esperava ouvir “Knocking on Heaven´s Door” ou “Blowin in the Wind” deu com os burros n'água.... no máximo se contentou com "Like a Rolling Stone”.
Porém quem realmente é fã do cara e tava lá entendeu tudo: Dylan tem 70 anos, mas não é o Frank Sinatra. Dylan tem 70 anos e faz o que quer, toca o que quer, tem compromisso com seus fãs e não com a imprensa ou com as pessoas que só conhecem seus hits e nunca se interessaram por ouvir um disco inteiro. E Dylan segue compondo material novo, lançando obra prima após obra prima e nos presenteou com Tempest esse ano, mais uma obra prima de músicas inéditas.
O vocal parece do Chris Barnes do Six Feet Under, sem espetáculos pirotécnicos, sem espalhafatosis, o show do Dylan era composto de um palco simples, sem nem pano de fundo, apenas luz branca e as sombras dele e da banda se erguendo por trás de cada um deles. E precisa de mais? Há beleza maior que a simplicidade? Há coisa mais honesta do que dizer não? Há coisa mais artística do que não estar nem ai pro que os outros falam?
Set List:
1. Leopard-Skin Pill-Box Hat
2. Don't Think Twice, It's All Right
3. Things Have Changed
4. Tangled Up in Blue
5. Beyond Here Lies Nothin'
6. Simple Twist of Fate
7. Summer Days
8. Spirit on the Water
9. Honest With Me
10. A Hard Rain's A-Gonna Fall
11. Highway 61 Revisited
12. Blind Willie McTell
13. Thunder on the Mountain
14. Ballad of a Thin Man
15. Like a Rolling Stone
16. All Along the Watchtower
17. Rainy Day Women #12 & 35
Segundo é mestre em filosofia pela UFG, administrador do selo Two Beers or not Two Beers, baixista das bandas Corja e Os Canalhas e vagabundo profissional.
Os melhores de 2012 - Gustavo Mini (Walverdes)
Os melhores de 2012 - Fabius Augustus (Vícios da Era)
Um comentário:
Pena q eu não vi o show do Dylan.. No resto, assino embaixo!
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