Museus, restaurantes e fumantes de pé no frio do lado de fora. Pra começar a lua de mel alugamos um apartamento da Rue du Caire, pertinho da Montorgueil – uma das ruas que funcionam como mercado permantente – brasserie, fromagerie e patisserie. Na rua de baixo, a Saint Denis, uma série de sex shops. E prostitutas que dividem-se em turnos: durante o dia as mais velhas, todas por volta dos sessenta anos. À noite negras jovens ocupam a parte da rua que culmina no Porte Saint Denis. Do lado de lá do arco, uma série de restaurantes – os fast foods turcos são ótimos.
Arco do Triunfo
(fotos por Uliana Duarte)
No guia de turismo descobri dois picos: a Arena de Lutécia e o museu de Cluny. O museu de Cluny é um castelo medieval do século XIV, levantado a partir de uma casa de banhos muito mais antiga, construída na época do domínio romano. Os três ambientes das termas, frigidarium, calda e caldarium, estão em ruína parcial, mas o castelo continua em perfeito estado e abriga uma exposição permanente sobre a idade média: obras de arte, objetos pessoais, tapeçaria e armas. Há também uma pequena coleção de itens romanos.
Júlio César no museu aberto do Jardin des Tuileries
A Arena de Lutécia foi construída no século I, também pelos romanos, para a luta de gladiadores e é impressionante estar lá e pensar que há quase 2 mil anos pessoas eram assassinadas ali no meio para a diversão de quem estava nas arquibancadas.
O detalhe é que em frente à Arena, há uma ótima loja de discos. O letreiro Paris Jazz Corner não entrega tudo, já que de lá eu trouxe 5 vinis, nenhum de jazz: Africadelic - Mano Dibango; No Accommodation for Lagos - Tony Allen; um ao vivo do Fela Kuti com o Ginger Baker; uma coletânea de funk africano e outra de soul etíope.
Arena de Lutécia
Uma visita a outra loja de discos já estava programada. A Crocodisc fica na Rue des Écoles, entre o museu de Cluny e a Arena de Lutécia, mas eu só fui perceber a coincidência no outro dia, jogando o endereço no Google Maps. Dividida em duas salas, a Crocodisc concentra o rock e o pop num ambiente e reserva o outro para soul, funk, jazz, música brasileira, africana, etc. Tudo em vinil. De lá eu trouxe o Enough Thunder, do James Blake; o Ghost in the Machine, do Police; o Around the Fur, do Deftones; o Promise, da Sade; o The Pop’s, do The Pop’s; o Blow by Blow e o Wired, os dois do Jeff Beck; o Everything Scatter, do Fela Kuti; o AfroDiscoBeat, do Tony Allen e uma compilação de groove nigeriano, Nigerian Disco Funk Special – The Sound of the Underground Lagos Dancefloor 1974-79.
E por falar em James Blake, à noite pegamos o metrô e fomos ao Pitchfork Music Festival Paris, mas chegando lá descobri que os ingressos estavam esgotados para seu único show na cidade (numa noite que ainda teria, entre outros, M83, Japandroids e Sébastien Tellier).
Museu de Cluny
Passeando pelo Louvre fiquei sabendo que tirar foto das obras é liberado, mas não é permitido fotografar as pessoas que se acotovelam para clicar a Monalisa. Lá fora, no Jardin des Tuileries, uma exposição ao ar livre reúne uma série impressionante de estátuas greco-romanas, solenemente ignorada pela massa de turistas que esperava na fila para pagar o ingresso do Museu. No Arco do Triunfo, a subida longa pela escada de pedra vale pela vista panorâmica do terraço, mas o que impressiona mesmo são seus enormes relevos. No topo da torre Eiffel, mais cedo, conheci o vento mais frio da história.
Dentro do Panteão
Na Notre Dame levei bronca de um chinês católico, revoltado por eu estar filmando a missa na catedral. "Respect, no photo! No photo!" Dos sabores populares de Paris, o cuzcuz marroquino do Marché des Enfants Rouges (mercado mais antigo da cidade, criado em 1615) deixou saudade. Provei também a gastronomia local e se não pedi um beef tartare todo pra mim, foi por causa de um rump steak com molho béarnaise, no Vaudeville – restaurante tipicamente parisiense: bonito e de boa cozinha, mas apertado e metido a besta.
Notre Dame
Em Montmartre, uma fila enorme se esticava diante do Moulin Rouge. Subimos a ladeira até a basílica de Sacré-Cœur, uma construção tão impressionante quanto a Notre Dame. Na escadaria da igreja um grupo de garotos muçulmanos se divertia cantando músicas árabes. Seguimos o movimento de senhorinhas entrando por uma porta lateral, atrás de enormes colunas de pedra, e lá descobrimos mais uma missa em andamento. Dessa vez achei melhor não filmar nada.
Manuscrito medieval - Museu de Cluny
E por falar em romantismo, todos os méritos à noiva da ponte Alexandre III, que enfrentou o frio cortante de ombros de fora, só para garantir fotos boas no álbum de casamento. Nós, enterrados em gorros, luvas e cachecóis de lã, só pudemos admirar sua coragem.
No terraço do Arco do triunfo
E pra isolar o frio nos abrigamos no Musée D’Orsay, ali do lado. Mas antes da peregrinação pelas galerias, uma pausa para o café. E o bistrô mais charmoso da viagem não estava nas ruas, mas dentro do D’Orsay. O Café de l’Horloge, rebatizado de Café Campana, é decorado com esculturas de fios metálicos retorcidos e luminárias feitas com placas douradas de alumínio, dando pistas da assinatura brasileira dos irmãos Campana.
Torre Eiffel vista do alto do Arco do Triunfo
No Centre Pompidou testei meu humor nas exposições de arte contemporânea, mas dei risada da estátua de 5 metros prostrada na entrada, que eterniza a cabeçada do Zidane no Materazzi, na final da Copa de 2006. Lá perto provamos um coelho com batatas, antes de irmos passear pelas ruazinhas do Marais e, já de noite, buscarmos dois pares de croissant no Paul da Montorgueil, para o café da manhã.
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