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quarta-feira, março 10, 2010

A Reinvenção da Roda

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Como registrei aqui na edição extraordinária do último domingo, gastei um pedaço da noite de sábado passado conversando com o Violins sobre Greve das Navalhas, o disco novo. A entrevista foi publicada originalmente no Nagulha, portal gerenciado lá de Natal -RN pelo chapa Anderson Foca (editado pelo Alex Antunes e pelo Bruno Nogueira), e agora ganha reprodução ctrl c / ctrl v também aqui na tela do goiânia rock news (os vídeos que acompanham as laudas abaixo são uma espécie de "bônus-track" da edição escrita do bate-papo, e seu conteúdo não está transcrito no texto da entrevista).




Dançando Feliz no Fim do Mundo


Às vésperas do início do lançamento de seu sexto álbum – intitulado Greve das Navalhas (disponibilizado a conta-gotas no site oficial, uma faixa por dia a partir de domingo, 07/03), metade do Violins recebeu o Nagulha goiânia rock news na casa do baixista Thiago Ricco, no começo da noite de sábado, para conversar sobre o disco novo.

Em Greve das Navalhas Beto Cupertino, vocalista, guitarrista e principal compositor do grupo, moveu o foco daquele apocalipse místico do anterior A Redenção dos Corpos, inaugurando um espectro tão otimista quanto lunático para um apocalipse natural e humano: “Tudo está melhor agora / Que o mundo acabou lá fora / E a gente vai poder reinventar a roda.”

Ao mesmo tempo em que experimenta novos limites líricos, apertando rimas tortas numa métrica formal, Cupertino também carrega nas guitarras distorcidas (mas sem desprezar o requinte das melodias), e ensaia alguns poucos ataques de agressividade “clássica”, em refrões berrados que endereçam referências ao Deftones.

Passadas a desilusão romântica, o cinismo insolente, a ironia patética e o sarcasmo religioso que percorreram a discografia pregressa da banda mais relevante do rock goiano, o Violins ressurge, depois de morto e enterrado por quase um ano inteiro, ainda tão notável quanto antes.



Depois do último disco, A Redenção dos Corpos – de 2008, o Pierre (baterista) saiu da banda e o Violins acabou. Vocês formaram outro grupo, batizado de Agravo, mas que também acabou precocemente. E cerca de um ano depois do “fim”, o Violins acabou voltando às atividades. Como se deu todo esse processo, que culminou agora no lançamento de Greve das Navalhas?

Beto Cupertino - Então, esse processo começou quando teve essa interrupção abrupta na outra banda que a gente estava tocando, com a saída do Zé, que foi pro Pedra Letícia. Aí a gente ficou sem baterista de novo, e é uma coisa complicada achar um baterista que topasse o que a gente estava fazendo, uma onda meio diferente, sem guitarras, uma coisa mais atrapalhada. Nessa época a gente estava amarradão de começar uma banda nova, outro nome, criar um repertório do zero, sem ter que tocar música antiga do Violins, sem ter que dar satisfação pra esse legado de 5 discos da banda. Mas quando acabou, pensei: vou falar com o Pierre. Ele já tinha falado que tinha saudade de tocar, e chamei pra voltar, gravar um disco que a gente curtisse tocar, uma coisa que fosse prazerosa pra todo mundo. Aí ele falou que ia pensar, e me ligou no outro dia e disse: "Vamos tocar então." Aí a gente voltou a ensaiar, fazer música nova...

Thiago Ricco - E já tinha um dinheiro também...

Beto - É, a gente já tinha um disco pago lá no [estúdio] Rocklab, que era pra ter sido o disco dessa banda que acabou prematuramente, e foi aí tudo casou. A gente já começou a fazer as músicas pro disco com tudo planejado. E quando chegamos no estúdio pra gravar, agora, foi tudo bem rápido. Em uns cinco dias já estava tudo pronto.

Ricco - É, foi tudo muito rápido.


Da volta até o disco pronto foi quanto tempo?

Beto - Não foi nem um ano. Uns oito meses...





Na época do lançamento do Tribunal Surdo, numa entrevista que fiz com a banda toda, publicada na extinta revista Decibélica, vocês definiram o então disco novo como "a arte do patético", e depois conceituaram o Aurora Prisma como "onirismo romântico". E agora, qual é a definição sucinta de Greve das Navalhas?

Beto - (Pensativo) Dançando feliz no fim do mundo?

Ricco - (Risos gerais) É... dançando feliz no fim do mundo.

Beto - Uma visão bem otimista do fim do mundo. Alegre, e em muitas partes até dançante. Acho que é o nosso disco mais dançante... não que seja um disco de tocar na discoteca, mas tem muito groove, uma cozinha mais suingada, coisas que a gente não costumava fazer. Mas não tem nenhuma revolução, do tipo que alguém não vá reconhecer...

Ricco - Somos nós quatro ainda, não dá pra esperar nada muito revolucionário. Mas a gente tentou caminhar por outros lugares.

Beto - É bem carregado de guitarras, mas com uma visão bem otimista. Mesmo quando fala de uma tragédia, como na [música] "Tsunami", termina tudo bem.


Então o Violins está menos cínico, menos sarcástico?

Beto - Não necessariamente. Acho que depende muito de quem for ouvir. Eu imaginei mesmo que talvez vão achar que é ironia, mas... tem uma ou outra ironia, mas tem muita coisa sincera também.


E do material que vocês compuseram com o Agravo, aproveitaram alguma coisa pro disco?

Beto - Aproveitamos uma música, "Do Tempo", mas a versão com o Violins ficou bem diferente, o andamento, a bateria, o modo como foi montada a música. Com o Agravo não tinha guitarra, mas a essência é a mesma.


E qual é o papel do Gustavo Vasquez (produtor musical que participou dos três últimos álbuns do Violins) nesse disco?

Ricco - (Pensativo) O papel dele é tirar um ótimo som dos instrumentos, ele é expert em entender o que a gente quer. E pelo fato de a gente chegar com tudo pronto, e de ser bastante corrido, fica um pouco difícil a participação dele como produtor mesmo, desenvolver bem isso. Mas o trampo dele é o de tirar um ótimo som, e a gente está cada vez mais satisfeito com o trabalho dele.

Beto - Na verdade, em termos de produção, dessa coisa de onde vai ter um vocal, um arranjo, uma textura, a gente leva quase tudo pronto pro estúdio. A participação forte dele é na tradução do que a gente pensa em termos de timbre, de sonoridade do disco de um modo geral. Ele conhece muito bem a banda, e capta muito bem o que a gente quer passar. É um cara muito importante na hora de gravar o disco.


E o Agravo, é um projeto adiado ou cancelado?

Beto - Não tem nada decidido, a gente até estava conversando esses dias trás. Se o Zé algum dia estiver aí à toa e quiser gravar um disco com a gente, dessas músicas que estão meio que adormecidas...


São quantas músicas?
Ricco - Cinco, seis?

Beto - Seis... ou sete, até. Mas não tem nada decidido, pode ser que não aconteça nada também, está tudo em aberto ainda. Depende muito do Zé, por causa do jeito que ele criou umas coisas... mas não temos nenhum plano concreto.





E o projeto solo Beto Cupertino? Ao contrário do Violins, você já se apresentou com ele esse ano...

Beto -
Foi um convite que o Brandão [compositor e produtor cultural de Goiânia] pra participar do [festival] Canto de Ouro, por causa de umas músicas que eu tinha botado no Myspace. E foi bom pra caramba, uma banda muito legal acompanhando.

Ricco - Foi bonito viu...

Beto - Mas eu não estou concentrado em carreira solo não, meu negócio é tocar com o Violins.


O Violins goza de um prestígio considerável nacionalmente, mas não toca muito fora de Goiás. Ao que vocês atribuem o fato da banda ter uma agenda de shows em outros estados tão menos recheada que outros grupos da cidade que não tem a mesma influência nacional?

Beto – Acho que muito pelo fato de que exigimos certos princípios básicos pra viajar pra tocar. Então, quando esses princípios básicos não são atendidos, quando a gente tem que gastar grana do bolso, ou a coisa é muito atropelada, a gente não vai. E não é nada demais, nada de 300 flores com cabos de 15 cm, úisque 12 anos... são coisas básicas. Talvez seja por isso. E também por que a gente investe pouco em áudio-visual, acho que isso atrapalha na divulgação, ainda que a divulgação pela internet seja boa. Mas tem alguns instrumentos que a gente decidiu não usar, porque achamos que não vale muito a pena. Acho que a junção dessas questões aí acabe levando a gente a fazer um pouco menos de shows fora. Embora a gente tenha planos de, esse ano, investir mais em áudio-visual, seja num programa de tv, seja vídeo de estúdio, uma coisa assim.


E qual foi o melhor show da carreira do Violins, em Goiânia e fora da cidade?

Ricco - Eu estou no Violins há quase quatro anos, e fora de Goiás pra mim o melhor show foi o de Belo Horizonte. Foi ótimo. E aqui em Goiânia... (pensativo) aqui tiveram vários shows bons. Principalmente aqueles em que a gente consegue estar com o nosso staff, e onde o equipamento de som seja legal. O show do último Noise [Goiânia Noise Festival] foi um dos melhores. Mas é difícil manter um padrão alto, por que nem tudo depende da gente, dos ensaios.

Beto - Aquele do [festival] Bananada de 2008 também foi muito bom, quando o Léo [Alcanfor, ex-guitarrista do Violins, atualmente no Mugo] tocou com a gente de novo. E teve um na Funhouse, em São Paulo, em 2005 – na época quem tocava baixo era o Diego – , que foi muito legal também, o pessoal cantando as músicas... Porão do Rock também foi legal pra caramba. O Show do Abril pro Rock foi um dos mais complicados da carreira da banda, arrebentou uma corda da guitarra no começo do show, e como eu uso afinações diferentes, complicou tudo.

Ricco - Acho que todos os shows do nordeste poderiam ter sido melhores, a gente tem vontade de refazer. Lá ainda não deu pra fazer um show tão legal quanto os que a gente faz aqui em Goiânia. Em Natal foi legal... mas sempre aconteceu alguma coisinha que acabou atrapalhando.


Greve das Navalhas vai repetir o procedimento do lançamento do último disco, e será disponibilizado a conta-gotas, uma música por dia, no site da banda. Qual foi o balanço desse método no lançamento de A Redenção dos Corpos?

Beto - Na época o Pedro [Saddi, tecladista] me disse que foi por volta de 15 mil downloads. E outra coisa legal disso de soltar uma música por dia, é que você meio que "obriga" a pessoa a ouvir o disco na sequência que você montou. E também deixa quem acompanha a banda muito mais próximo. Por exemplo, lá na comunidade da banda no Orkut, o pessoal comenta música por música, e pra gente esse feedback é ótimo, orienta até repertório de show.


O que vocês têm ouvido? O que ouviram essa semana?

Beto - Ihhh... (pensativo) Agora, vindo pra cá, eu estava ouvindo o Pepping Tom no carro. Também estou ouvindo muito, há umas duas semanas, o Mike Snow. E o nosso disco também tenho ouvido bastante (risos). Ouvi todos os dias, tentando desesperadamente descobrir como seria outra pessoa qualquer escutando o disco. E é um exercício muito engraçado, porque toda vez eu fracasso (risos gerais).

Ricco - (Olhando seus arquivos de música no notebook) Tenho ouvindo muito Nine Inch Nails... o Massive Attack novo.

Beto - Ouvi também o Jair Naves, gosto das letras dele...





E a literatura? Da última vez que te entrevistei, você disse que há muito tempo não lia um livro de ficção...

Beto - Não, agora estou mais imerso em literatura novamente.


E o que você tem lido?
Beto - Li um livro muito legal do [escritor moçambicano] Mia Couto, Antes de Nascer o Mundo, e agora peguei o Cem Anos de Solidão, do [escritor colombiano Gabriel] García Márquez, pra reler. E na verdade eu estou escrevendo uma coisa também...


Ficção?

Beto - É.

Ricco - E bote ficção nisso...

Beto - É, é bem fictício mesmo. A gente brinca que é realismo fantástico extremo. Esse ano ainda eu termino e pretendo lançar por uma editora mesmo, já tenho alguma coisa mais ou menos encaminhada.


E o livro já tem nome?

Beto - Tem um nome provisório, mas eu prefiro não falar, porque eu sempre mudo os nomes das minhas coisas. (risos)















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