..Tá, eu mesmo já tive vontade de distribuir uns sopapos nessa turminha que acha que samba e mpb são sinônimos automáticos de bom gosto, que tem convicção de que percussão reciclável é vanguarda, que enche o peito de orgulho pra falar que a música brasileira é a melhor do mundo, que parece gostar da mistura dos aromas do couro com o do próprio chulé e que, principalmente, tem a absurda certeza de que teatro de rua é divertido.
Tá, eu confesso. Mas mandar a cavalaria pra cima deles é demais até pra mim.
Jornal O PopularPesquei as cartas abaixo, de autoria de dois cidadãos presentes na confusão e vítimas do abuso policial, no
Entreatos:
Domingo, 14 de fevereiro de 2010Carta de Descontentamento Pelas ações da Polícia Militar do Estado de Goiás
Devido a vários fatores, Goiânia não tem uma tradição nacionalmente significativa de carnaval de Rua. Mesmo assim, uma série de artistas se mobiliza para instituir um carnaval digno e bonito na nossa capital. Acontece que há muito tempo essa classe suspeita de que o poder público, por alguma razão, apóia precariamente e não promove nosso carnaval de rua.
Na sexta feira passada, na avenida araguaia, ao lado do mutirama, após o show do grupo De Volta ao Samba, mais ou menos meia noite e meia (ou seja, já no sábado), os policias se posicionaram em frente ao palco. Policias “a pé” e cavalaria, sob o comando do tenente Sampaio, porém SEM IDENTIFICAÇÃO individual, e incitaram os foliões a se dispersarem do local.
O fato é que foi muito rápido. Era impossível liberar o local em 5, dez minutos que fosse, e também não há justificativa, vejam bem... NÃO HÁ JUSTIFICATIVA, para o local ser evacuado tão rápido. E se houver, convido as autoridades a nos apresentar.
Algumas pessoas tentaram fotografar e gravar, mas tiveram seus equipamentos furtados pela polícia e destruídos. Após vários foliões, a grande maioria amigos, serem agredidos com
spray de pimenta , cacetetes de borracha, golpes de cavalos, e imobilizações corporais, fomos em forma de protesto, imediatamente ao 1º DP, prestar uma queixa coletiva. A polícia ainda estava tentando reprimir a nossa ação, utilizando de truculência na forma de dirigir as viaturas, bombas de efeito moral, e vários insultos verbais.
É triste trabalharmos com cultura em uma cidade onde somos confundidos por marginais, arruaceiros. E somos espancados sem nenhum motivo, por uma instituição que inicialmente contávamos para garantir a paz, a ordem e a segurança neste evento. E foi a causadora da desordem, insegurança e da agressão de natureza física, verbal, e principalmente moral.
Temos que mobilizar a sociedade para agir. Formar opinião e buscar nossos direitos. Chega de abaixar a cabeça e encarar a polícia apenas como “autoridade”, pois ela deveria ser a segurança do cidadão.
Lastimável.
Repasse para os amigos que valorizam nossa cultura, e nosso direito de termos uma segurança pública mais digna e mais bem preparada.
Abilio CarrascalClique para ler matéria sobre o ocorrido no Diário da ManhãCaros amigos, colegas e parceiros,Foi com muita tristeza que assisti a primeira noite do IV Encontro de Blocos de Goiânia terminar na delegacia, com 5 pessoas detidas e outras dezenas machucadas pelas agressões da polícia militar.
Três professores do projeto Lixo Ritmado Batuque Reciclado foram agredidos por policiais, dois deles detidos, dentre eles meu irmão, Thiago. Ao tentar proteger sua esposa, que levava safanões dos cavalos da PM e teve os cabelos puxados por um policial montado, foi reprimido com spray de pimenta no rosto e golpes de cassetete. Foi golpeado e contido por três policiais, algemado e detido, sob a alegação de desacato a autoridade e resistência à prisão.
Minha cunhada e outras tantas pessoas que fotografaram e filmaram o episódio tiveram suas câmeras fotográficas e celulares roubados pelos policiais. Uma amiga foi cercada por 3 policiais montados e um deles disse a ela: "Passa a câmera, vagabunda!!"
Foi triste ver que em quatro anos de Encontro de Blocos no carnaval de Goiânia, esta foi a primeira ocorrência de tumulto, provocado justamente pela instituição que deveria primar pela segurança pública e do público. Mais uma vez a polícia militar dá um exemplo de que ainda convivemos com traços da ditadura no Brasil e mostra como nossa democracia ainda é frágil.
Enfim, no segundo dia do evento, os professores do projeto Lixo Ritmado, mesmo revoltados com o ocorrido e com os corpos ainda doloridos pela agressão sofrida no dia anterior, mantiveram a programação e levaram seus dois blocos de percussão de lixo e sucata (Batuque Revolução e bloco Vida Nova) para se apresentar. As 55 crianças e adolescentes do projeto tocaram bonito e passaram sua mensagem de paz.
Agora estamos mobilizando todas as pessoas envolvidas neste lamentável acontecimento para que esses maus policiais (incluindo o comandante da operação) sejam identificados, julgados e condenados pelos abusos cometidos. De preferência que sejam expulsos da corporação, pois não honram o emprego público que têm. Só assim poderemos voltar a construir este belíssimo movimento de resgate do carnaval de rua de Goiânia. Um evento democrático, que beneficia toda a população e valoriza nossa cultura e grupos artísticos da capital.
Espero, de coração, poder contar com a solidariedade de todos.
Saudações,
Christiano Verano